terça-feira, 8 de novembro de 2011

ENTREVISTA COM MARCOS MEIER





Marcos Meier, Mestre em Educação, Psicólogo e Matemático
Enviado por Prof. José Pacheco

Qual é a contribuição da pesquisa para as teorias da educação?
Existe uma teoria israelense conhecida no Brasil como teoria da mediação. Ela resgata o valor do professor como aquele que ajuda o aluno a aprender. Dentro desta teoria o professor é visto como um mediador. Ele provoca o aluno, coloca sal na boca dos estudantes para que eles fiquem com sede de conhecimento. A partir dessa teoria, a professora Sandra Garcia (também autora do livro) fez uma dissertação de mestrado comparando Feuerstein, que é o autor desta teoria da mediação, com Vygotsky, que é um dos grandes educadores do mundo. Nessa comparação ela resgata o conceito de mediação desde o início, de Platão e Aristóteles. Meu trabalho, também de mestrado, foi realizar a pesquisa com os alunos, com o objetivo de saber quais são as principais características de um excelente professor. Depois, comparamos as características percebidas pelos alunos com as que Feuerstein coloca na teoria dele. Basicamente as respostas coincidem com o que já existe na teoria de Feuerstein, no entanto tem uma diferença fundamental: a teoria não prevê o vínculo entre o aluno e o professor, o que de fato precisa existir para que esta relação seja a de um amigo como aquele descrito pelos alunos.


E a partir de agora o “vínculo” será incorporado na teoria da mediação?
Nós propusemos ao Feuerstein que ele colocasse na teoria dele a importância da construção do vínculo entre professor e aluno. Porque quando vemos o professor entrar na sala de aula, como uma autoridade máxima para dar a aula e ir embora, isso não é criar vínculo. Ele não fica no recreio batendo papo, brincando junto, indo nos acampamentos com os alunos. Nós percebemos que isso é fundamental que aconteça para que o professor também seja um amigo. Então, fizemos esta proposta, mandamos para Israel e a grande surpresa foi que o Feuerstein aprovou isso, nos mandou uma carta elogiando nosso trabalho e dizendo que esta proposta vai ser integrada à teoria.


Não havia nenhuma teoria de educação que havia proposto o vínculo. Isso é inédito?
Algumas outras contribuições já têm sido mostradas. Até mesmo Paulo Freire, aqui no Brasil, fala da importância do professor descer do pedestal. Mas as propostas que já existiam nunca tomaram corpo em uma teoria da educação.
O que fazer para que este vínculo não extrapole a relação entre professor e aluno?
Primeiro depende do exercício da autoridade. Nós fazemos mediação de modo com que o aluno acredite na sua competência. Quando o aluno se sente competente porque este professor acredita nele, ele passa a respeitar o professor. Outra coisa importante é a mediação do desafio. O professor desafia o aluno a aprender mais. Os professores, neste vínculo, também devem compartilhar suas dificuldades escolares. Quando saímos do pedestal, a gente fica mais próximo e real para este aluno.


Quantas escolas já trabalham com a teoria da mediação?
Em Curitiba nós temos apenas dois colégios, o Martinus (do qual ele é diretor) e Marista Santa Maria. No Rio Grande do Sul existem várias escolas, porque foi lá que aconteceu a primeira tese de doutorado sobre Feuerstein.


Qual a diferença entre a teoria construtivista e a de mediação?
A construtivista trabalha com uma liberdade muito grande, daí ela entrou em descrédito. Muitas famílias achavam que as crianças tinham liberdade demais e não estavam levando a sério os estudos. Então a teoria da mediação vem dentro da proposta do construtivismo e do interacionismo e mostra como o professor pode ajudar o aluno a construir este conhecimento.

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