domingo, 5 de outubro de 2014

Em PE, paciente com esclerose lateral amiotrófica deixa hospital para votar

Paciente com esclerose lateral amiotrófica deixou hospital para votar (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Paciente com esclerose lateral amiotrófica deixou hospital para votar (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Há quem não faça tanta questão de exercer o direito do voto neste dia 5 de outubro. Porém em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, uma paciente com esclerose lateral amiotrófica (ELA) deixou pela primeira vez o hospital onde mora há dois anos para ir à urna. Otávia de Pontes Bandeira, 30 anos, não tem movimentos nos braços e nem nas pernas, mas, ainda assim, decidiu que iria votar. Acompanhada da mãe, ela saiu do hospital para a seção.
Otávia de Pontes Bandeira foi auxiliada pela presidente da seção e pelo mesário (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Otávia foi auxiliada pela presidente da seção e pelo
mesário (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Quando chegou ao local de votação, Otávia foi auxiliada pela presidente da seção e por um mesário. A mãe dela, Maria dos Anjos de Pontes, com quem se comunica por leitura labial, digitou os números dos candidatos. "Foi ótimo, foi maravilhoso. É como se fosse o casamento da Otávia", comemora. Maria dos Anjos também reproduziu as palavras da filha: "Eu gostei porque eu exerci minha cidadania".
Emocionada, a médica Rosangela Fonseca comenta que valeu a pena todo o esforço. "A sensação é de dever cumprido. A gente conseguiu realizar o sonho de uma paciente que vive no hospital há dois anos. E, inclusive, ela se emocionou muito durante o trajeto porque foi reconhecendo as ruas, disse que estava com muita saudade. Encontrou as amigas. É muito gratificante".
Caminho da cidadania
Paciente foi acompanhada por equipe médica (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Paciente foi acompanhada por equipe médica
(Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Levá-la ao lugar da votação exigiu plajenamento da unidade de saúde e de profissionais. "Fui verificar se havia condição. Daí eu pensei na estrutura. Em pegar a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] Móvel e conduzi-la até o local de votação. Pedi autorização ao hospital e a gente conseguiu. É a primeira vez que ela está saindo. Ela é lúcida, consciente, orientada, tem a memória, a cognição. Então, pode votar e exercer o direito da cidadania", diz a clínica geral e intensivista Rosangela Fonseca.
O trajeto para a escola onde fica a seção de Otávia foi acompanhado também por um fisioterapeuta, que cuidou do equipamento que auxilia na respiração. "Na área da fisioterapia, a gente tentou deixar ela o mais confortável possível para que ela conseguisse chegar tranquila, na parte de aspiração", pontua o fisioterapeuta Diogo Cardoso.
Amigas foram até à escola para espera Otávia chegar (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Amigas foram até à escola esperar Otávia chegar
(Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Na escola, um grupo de amigas aguardava Otávia. "A mãe dela entrou em contato com a gente e viemos aqui para esperar. A gente escolheu um cartaz porque é uma coisa simples e de coração. Ela é uma superação, uma motivação. Quando a gente chega lá [no hospital], ela está sempre rindo. Nunca a vi triste, apesar da situação. Ela é uma superação de vida mesmo. Para quem não gosta ou não quer vir às urnas tem que ver isso, porque é incrível a vontade dela de mostrar a democracia. Ela é uma guerreira mesmo", comenta a vendedora Amanda Barbosa.
Para Maria dos Anjos, a filha é um exemplo para as pessoas. "Eu acho muito importante até porque é o dia da eleição, né? É muito importante você escolher o candidato. Vejo outras pessoas dizendo 'Ah, eu não vou não' e eu pergunto o porquê. Eu acho muito importante você escolher seu administrador. Minha filha é um exemplo de cidadania. Ela tinha que votar. Se ela não votasse, iria ficar muito triste. Quando confirmou [que iria votar], o sorriso foi escandaloso".
Maria dos Anjos de Pontes e Otávia de Pontes Bandeira (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Maria dos Anjos de Pontes e Otávia de Pontes Bandeira (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Sobre a doença 
De caráter progressivo e com incidências 10% genética e 90% esporádica, a ELA afeta os neurônios responsáveis pelos movimentos do corpo e causa a perda do controle muscular. Famosos aderiram ao "desafio do balde de gelo”, uma campanha que pretende chamar a atenção para o mal degenerativo. Além de ser uma doença ainda sem cura, a esclerose amiotrófica tem um diagnóstico difícil. São necessários cerca de 11 meses para detectar a doença. Os únicos tratamentos que existem buscam retardar a evolução da doença. No Brasil, há medicação oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas, segundo especialistas na doença, na maioria dos casos, só há fornecimento quando o paciente já perdeu cerca de 50% dos neurônios motores.
G1