quinta-feira, 10 de abril de 2014

Dispositivo elétrico devolve movimentos a homens com paralisia

Intervenção foi feita em quatro pacientes que haviam perdido grande parte de suas funções motoras há pelo menos dois anos. Com o tratamento, eles conseguiram realizar movimentos voluntários nos pés e quadris

Os pacientes Andrew Meas, Dustin Shillcox, Kent Stephenson e Rob Summers foram submetidos a um tratamento com estimulação elétrica para recuperarem suas funções motoras
Os pacientes Andrew Meas, Dustin Shillcox, Kent Stephenson e Rob Summers foram submetidos a um tratamento com estimulação elétrica para recuperarem suas funções motoras (Louisville University)
Pesquisadores anunciaram nesta terça-feira que quatro homens que haviam perdido a função motora do tórax para baixo há anos recuperaram a capacidade de realizar alguns movimentos voluntários. Isso foi possível após médicos terem implantado um dispositivo de estimulação elétrica na medula espinhal dos pacientes que imita os sinais transmitidos pelo cérebro para iniciar algum movimento.
Embora esses indivíduos não tenham voltado a andar, os especialistas consideram que o feito oferece esperança para o tratamento de pessoas que sofreram paralisia e que ouviram de especialistas que nada poderia ser feito para que os movimentos fossem recuperados.
O caso dos pacientes foi relatado em um artigo publicado no periódico Brain. Os pesquisadores responsáveis pelos testes com o dispositivo elétrico são das universidades de Louisville e da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, e do Instituto de Fisiologia Pavlov, na Rússia.
Estudo inicial — A pesquisa se baseou em um estudo publicado em 2011 que relatava o caso do ex-jogador de baseball Rob Summers. Ele perdeu os movimentos do tórax para baixo após sofrer um acidente de carro em 2006, mas recuperou parte de suas funções motoras com o implante desse mesmo dispositivo elétrico. A comunidade científica recebeu esses resultados com cautela, considerando que eles precisariam ser replicados em mais pacientes.
O novo trabalho detalhou os efeitos da intervenção em outros três pacientes — os americanos Kent Stephenson, Andrew Meas e Dustin Shillcox —, além de relatar novos testas realizados no ex-jogador.
Todos os quatro pacientes eram classificados como portadores de dor crônica e de deficiência física por lesão medular, e haviam perdido os movimentos há pelo menos dois anos antes da intervenção. Dois deles também apresentavam uma lesão sensorial completa – ou seja, perderam não só os movimentos, mas também a sensibilidade nos membros lesionados — e acreditava-se que não havia chance de eles se recuperarem.
De acordo com os pesquisadores, os pacientes foram capazes de recuperar alguns movimentos voluntários imediatamente após o implante e a ativação do dispositivo, um resultado considerado “muito surpreendente” pelos especialistas. “Devido à estimulação, agora eles conseguem mover voluntariamente os seus quadris, tornozelos e dedos do pé. Isso é inovador e oferece uma nova perspectiva de que a medula espinhal, mesmo após lesões graves, tem um grande potencial de recuperação”, diz Claudia Angeli, professora do Centro de Pesquisa em Lesões da Medula Espinhal da Universidade de Louisville (KSCIRC, sigla em inglês) e uma das autoras do estudo. 
A pesquisa também mostrou que o tratamento ofereceu outros tipos de benefícios à saúde dos pacientes, como aumento da massa muscular, controle da pressão arterial e redução de episódios de fadiga muscular.
Técnica — O dispositivo implantado nos pacientes emite uma corrente elétrica com frequências diferentes em locais específicos da medula espinhal responsáveis por controlar o movimento dos quadris, joelhos, tornozelos e dedos do pé. De acordo com o estudo, conforme os testes foram sendo realizados, os participantes se tornaram capazes de realizar movimentos voluntários cada vez com menos estimulações. Para os autores, isso demonstra a habilidade que a medula tem em aprender e melhorar funções do sistema nervoso. “A crença de que nenhuma recuperação é possível na paralisia completa acaba de ser desafiada”, diz Susan Harkema, diretora do KSCIRC e responsável pelo primeiro estudo sobre o caso do ex-jogador de baseball Rob Summers.


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