domingo, 20 de janeiro de 2013

Sexualidade de mulheres com deficiência física: percepções sobre relacionamentos amorosos


Sexualidade da mulher com deficiênciaCaro leitor,
Acompanhe o interessante artigo “Sexualidade de mulheres com deficiência física: percepções sobre relacionamentos amorosos” das pesquisadoras Sandra Aparecida de Bem Stefanes* e  Nelca Giorgiana Figueredo**.
Introdução
A deficiência física é definida, atualmente, como uma desvantagem, resultante de um  comprometimento ou de uma incapacidade, que limita  ou impede o desempenho motor de  determinada pessoa assim descrito por Amaral (1998). Assim, são consideradas pessoas com  deficiência física os indivíduos que apresentam comprometimento da capacidade motora, nos  padrões considerados normais para a espécie humana.
É importante destacar que a problemática da deficiência acompanha a humanidade por meio  da sua evolução, uma vez que a situação de haver uma importante parcela de pessoas com algum  tipo de deficiência física não é uma condição recente (Feltrin e Lizarau, 1990). Pelo contrário, as  muitas lutas, combates, guerras que dirigiam as relações sociais suscitavam um espantoso número  de mutilados, deficientes e pessoas com doenças crônicas, em um tempo em que a força física  imperava e tinha o poder de instituir a condição de vencedor e de perdedor. Portanto, a  discriminação às pessoas com deficiência é um dos problemas sociais que seguem os homens desde  a origem da civilização (AMARAL & COELHO, 2003).
López e Fuertes (1999) referem que toda a problemática da sexualidade remete-nos,  fatalmente, para o desenvolvimento humano e para a  própria complexidade que o caracteriza.
Tendo em vista que a sexualidade é uma extensão da personalidade, não se pode negar à pessoa  com deficiência a liberdade de viver e expressar a sua sexualidade.
Metodologia
Esta é uma pesquisa do tipo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa. O estudo  desenvolveu-se na Associação dos Deficientes Físicos de Criciúma – JUDECRI. A população do estudo foi composta por cinco mulheres com deficiência física que se utilizam de cadeiras de rodas  e/ou muletas para sua locomoção, sendo quatro solteiras e uma casada, com grau de escolaridade  entre o ensino fundamental incompleto ao doutorado, com idades que variaram entre 24 a 38 anos.
Os critérios de inclusão utilizados foram os seguintes: serem mulheres com deficiência física -  independente de serem essas congênitas ou adquiridas e alfabetizadas. Excluíram-se do estudo  mulheres com outros tipos de deficiências.
Para a coleta dos dados, o instrumento utilizado foi a entrevista semi estruturada. As  mesmas foram gravadas em fita cassete. A transcrição das fitas realizou-se pela pesquisadora,  respeitando com fidedignidade o vocabulário utilizado pelas entrevistadas.
As informações obtidas por meio das entrevistas foram submetidas à técnica de análise de  conteúdo de Bardin (2004). A etapa de análise prévia constituiu-se de várias leituras do material  coletado e, posteriormente, a fase de agrupamento dos dados e categorização com a seleção das  categorias, as quais se denominaram sexualidade e relacionamentos amorosos; autoimagem da  mulher com deficiência física e sua percepção através do olhar do outro; e comportamento mais  utilizado pelas mulheres com deficiência física frente às relações amorosas e sexuais.
Para atender as considerações bioéticas do estudo, o projeto foi aprovado pelo Comitê de  Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC, sendo elaborado um  Termo de Consentimento Livre e Esclarecido entregue as participantes da pesquisa, leu-se o termo  de consentimento, em voz alta, na presença de cada entrevistada para que as mesmas concordassem  e assinassem. Para a manutenção do anonimato das mulheres as mesmas foram denominadas como  E1, E2, E3 sucessivamente.
Resultados e Discussão
Para iniciar a análise dos dados, foram utilizados fragmentos do discurso das mulheres com  deficiência física nas respostas obtidas durante a  entrevista que totalizaram 10 (dez) perguntas  formuladas para esta pesquisa. E a primeira categoria de análise foi Sexualidade e relacionamentos  amorosos. Nessa categoria as entrevistadas responderam a seguinte pergunta: O que é importante  para você num relacionamento amoroso?
[...] o somatório de várias coisas é imprescindível numa relação, como desejo, carinho, atenção,  respeito e cumplicidade, sem isso, qual seria o objetivo de um relacionamento amoroso? (E1)
É muito gostoso gostar de alguém, amar e ser amada! Isso traz junto desejo, prazer, sonhos, felicidade (…). (E2)
[...] o respeito mútuo, a aceitação verdadeira, a lealdade, o companheirismo e, sobretudo o amor, o sentir-se desejada e desejar o outro [...]. (E5).
Segundo a fala das entrevistadas salienta-se a importância do respeito mútuo numa relação  amorosa, evidenciando que estas necessitam ser admiradas como pessoa, nas suas atitudes e na sua dignidade como pessoa comum, não como alguém especial ou inferior em relação às outras pessoas.
O sentir-se amada e compreendida são fatores indispensáveis para que um relacionamento amoroso aconteça.
Hernandez & Oliveira (2003) destacam que, livre das mudanças histórico-sociais, é na  esfera das relações interpessoais que o homem vive suas mais fortes emoções, em meio a elas o  prazer decorrente do amor. Sendo assim, as pesquisas comprovam que os relacionamentos íntimos  satisfatórios estão sendo a fonte mais importante de felicidade pessoal.
A seguir as falas das entrevistadas em relação à segunda pergunta da entrevista que se  formulou desta forma: Como os outros (pares) se relacionam com você na questão da sexualidade?
Namoro há dois anos e nunca tive problema com meu parceiro sobre esta questão, mas às vezes  alguns amigos dele questionam para ele como é fazer sexo com alguém assim? É a mesma coisa? É  diferente? Como ela faz?  É normal? [...].(E5)
Em meus relacionamentos, foram poucos os momentos que pude perceber o desejo sexual de meu  parceiro por meu corpo, havia sempre muita resistência, pudor, e medo de “tocar o intocável” [...] (E4)
Algumas pessoas acham que eu não posso ter relações sexuais, até já me perguntaram se eu fiz inseminação para engravidar. (E2).
Nos depoimentos, as entrevistadas relataram sobre a negação da sua sexualidade. O estigma que incide sobre elas contribui significativamente  na maneira como estas se relacionam com os pares socialmente, causando insegurança e medo nas tentativas de se aproximar das pessoas que as atraem como possíveis relacionamentos afetivos.
Na concepção de Puhlmann (2000) e Amaral e Coelho (2003), nas últimas décadas, nem se cogitava que as pessoas com deficiências apresentassem necessidade e direito à experiência e à manifestação de sua sexualidade. A sexualidade dos deficientes continuamente foi negada como se a deficiência eliminasse o desejo, embora isto esteja mudando gradativamente, hoje têm muitas pessoas que consideram as pessoas com deficiência como seres assexuados; e do mesmo modo existem muitas pessoas deficientes que nunca tiveram a oportunidade de se conhecerem como seres sexuais.
Em seguida, a pergunta subsequente foi esta: Com quem você conversa sobre namoro e sexo?
Sexualidade da mulher com deficiência
Com minhas amigas [...] Porém, a questão da sexualidade, percebo que há uma grande diferença de como eu vejo essa questão e o ponto de vista de minhas amigas. (E5)
Não tenho com quem conversar. (E3)
Com minha psicóloga e só [...]. (E4)
A maioria das mulheres com deficiência física fala sobre sexo e namoro com suas amigas mais íntimas e também com Psicólogas, reforçando que o tema sexualidade não é compartilhado com os pais e familiares, pois estes ignoram a possibilidade de suas filhas terem uma vida amorosa e sexual como a maioria das jovens da mesma idade.
Para Moukarzel (2003), os deficientes, resguardados no espaço familiar, as oportunidades de aprendizagens e de relacionamentos sociais ficam restringidas aos familiares e amigos comuns, que às vezes, pouco satisfaz aos seus interesses. Conforme vão se desenvolvendo, ao contrário das demais jovens, o círculo de amizades vai diminuindo, as oportunidades de convívio com pessoas da sua idade igualmente diminuem, as atividades sociais tornam-se insignificantes. Retiradas da  convivência social, a inadequação de condutas e desajustes emocionais acaba acentuando as diferenças.
Continuando com os depoimentos, analisar-se-á as respostas dadas à seguinte pergunta:
Qual a maior dificuldade para ter um relacionamento amoroso?
O preconceito, a ignorância… Isso é o que prevalece nas dificuldades dos relacionamentos. (E3)
Sem dúvida, atualmente, é o preconceito, o medo dos outros! (E2)
[...] na limitação psicológica, dos pensamentos e dos sentimentos [...]. (E1)
Ao falarem sobre si, as entrevistadas preferiram adjetivos que não apontassem sua classe desigual, designando-se pessoas comuns. Entendem, apesar disso, os tratamentos diferenciados que as chateia e inferioriza, sentindo-se imobilizadas para combatê-los.
Como lembra Paula (2005), todos nós necessitamos encontrar ou sermos encontrados por nossos parceiros sexuais. Sendo assim, jovens com deficiência física também necessitam criar vínculos de amizade e conviver em lugares de lazer apropriados à sua idade para que possam testar as tentativas de sedução e medir sua capacidade de  cultivar um relacionamento, jogar um olhar sedutor, começar uma conversa bem-humorada, andar de mãos dadas.
A segunda categoria a ser analisada foi autoimagem e sua percepção pelo olhar do outro, nessa categoria foram formuladas as seguintes perguntas:
Como sua família encara a possibilidade de você namorar e ter relacionamentos sexuais?
[...] Meus pais, no momento, não consideram, não me veem com possibilidades de relacionamentos afetivos com homens e, posteriormente, vida sexual ativa [...]. (E4)
[...] Meu pai é super contra, não tem conversa sobre isso com ele [...]. (E3)
Normal. [...]. Sempre viajei e dormi com meus namorados. (E2)
[...] Minha família sempre encarou com muita naturalidade, até quando eu pedi permissão para meus pais para engravidar. (E5)
Por meio das falas das entrevistadas, observou-se que a família não as enxerga como seres sexuais, quanto ao depoimento da mulher com deficiência física casada, a entrevistada disse que a família encara com naturalidade sua sexualidade, mas observou-se pelo depoimento de E5 que a família exerce forte influência na sua vida, pois esta pediu “permissão” a seus pais para engravidar, salientando que a suposta naturalidade da família não é desprovida de controle, demonstrando a superproteção exercida pela família.
É na família, primeiro identificador social do indivíduo, onde são ampliados os processos essenciais de sua identidade. As aspirações e perspectivas de construção de uma vida própria perpetuam parte de seu imaginário, nem sempre compreendida pela família como uma demonstração de sua identidade (OSÓRIO, 1989, apud MOUKARZEL, 2003). Na família, sua fala geralmente é decodificada como ilusão ou reprodução infantilizada da realidade vivida, frustrando as em suas aspirações.
Outra questão analisada com as respostas dos entrevistados: Como você se percebe enquanto  uma pessoa que pode ter relações sexuais?
[...] Completamente! Sempre digo isso: o maior limite é na cabeça! (E2)
Isso é meio estranho pra mim ainda [...] É uma coisa que eu não penso muito (E3)
[...] Tenho muita insegurança sobre meu corpo, não gosto de ser tocada e até mesmo de ser beijada  e isso está me afastando de possíveis relacionamentos e de experiências sexuais. (E4)
[...] Sempre achei isso tão normal, as outras pessoas é que não acham. (E1)
Nos depoimentos pode-se perceber que a autoimagem  e autoestima de algumas das  entrevistadas foram construídas com base na educação familiar recebida, nas relações sociais e  interpessoais. Diante disso, as relações interpessoais ficaram restritas ao convívio familiar e os  relacionamentos amorosos são vistos como algo incomum e fora da realidade da mulher com deficiência. A não aceitação da mulher com deficiência como ser sexual influenciou de maneira  contrária na autoimagem que estas mulheres têm de si mesmas, consequentemente sua autoestima ficou abalada e a percepção de si mesma é de alguém muito “diferente” das demais pessoas. Já para  as demais, a deficiência física não influencia negativamente na vivência da sua sexualidade.
O desenvolvimento da sexualidade se dá por meio do  modo que nos enxergamos e  percebemos que as pessoas nos enxergam. Pessoas com deficiência, e não são poucas, somente tiveram experiências afastadas do prazer. Durante muito tempo, seu corpo foi ou é alvo de interferências médicas, fisioterápicas e corretivas que não colaboram para despertar o erotismo. Ao contrário, focam no que existe de errado, diferente, que necessita ser “consertado, normalizado”, senão, será sempre um corpo “doente”. (PAULA, 2005).
Analisaremos a última questão desta categoria que foi formulada desta forma: Quais os questionamentos ou dúvidas que você tem quando pensa ou se imagina tendo relações sexuais?
Será que vou agradar? Será que vou ser agradada? Tenho essas dúvidas sobre meu corpo e nas atitudes e comportamento do meu par [...]. (E3)
[...] Será que vou sentir prazer e proporcionar prazer a ele? E as posições sexuais? E ao término da relação vou precisar de ajuda para vestir-me, para voltar à cadeira de rodas! O que ele vai pensar de mim? E se ele falar sobre meu corpo para os amigos (E2)
Só tive dúvidas antes da primeira vez, depois vi que eu não era diferente de ninguém [...]. (E1)
As dúvidas e questionamentos relatados acima comprovam que a maioria das entrevistadas se preocupa com o que os parceiros irão pensar sobre os seus corpos. A auto aceitação do próprio  corpo é fator determinante para uma vivência plena  da sexualidade, o que não vem acontecendo com algumas das entrevistadas (VASH, 1988).
Pessoas com deficiência têm interesse em sexo e sentem desejo e prazer como qualquer  pessoa. Elas também sofrem problemas emocionais e afetivos como as outras pessoas,  principalmente relativos à sua autoimagem e imagem corporal. Esta problemática é muito encontrada entre as pessoas com deficiências físicas, que, comumente, se sentem rejeitadas pelos  demais pares, especialmente no que se refere às relações amorosas e à vida sexual (ALOISI E LIPP, 1998; ALOISI, 1986; PAULA, 1993, apud GLAT, 2004).
Sexualidade da mulher com deficiência
Encerrando a análise da pesquisa, a última categoria de análise foi:  comportamento mais utilizado frente às relações amorosas e sexuais, composta por estas perguntas: Pretende constituir família?  Por quê?
[...] Sim, tenho vontade. É muito importante para o ser humano ter família. (E3)
Pretendo encontrar uma pessoa, um companheiro, com a possibilidade futura de construir um lar, porém, não intencionando a ideia de ter filhos. [...] (E2)
[...] Já constitui, tenho marido e uma filha de 5 anos. Sempre quis ser mãe. (E5)
Observou-se, durante a entrevista, que a maioria pretende constituir família, mas algumas  sentem-se frustradas por não poderem cuidar dos próprios filhos. Uma das entrevistadas já casou e  se mostra feliz com o parceiro que escolheu. Moukarzel (2003), argumenta que o casamento, vive  nos sonhos afetivo-sexuais de qualquer pessoa, não sendo diferente para a pessoa com deficiência  que, como se conhece, assimila as normas e valores morais de seu contexto social.
Outra questão mencionada foi sobre o namoro na vida das deficientes físicas, que foi  formulada desta forma:Você namora ou já namorou?
Já fiquei com uma pessoa num período de mais ou menos sete meses. Foi um relacionamento mais  superficial, sem compromisso [...]. (E2)
Não, porque não tive oportunidades [...]. (E4)
Somente uma das cinco entrevistadas disse que não namorou (entende-se que namorar seria  uma relação mais estável, mas “ficou” com outra pessoa), no entanto, pretende. Pelas respostas  obtidas, o namoro para a mulher com deficiência física é algo comum a todas as pessoas, mas  observou-se que a maioria destaca o namoro como um  relacionamento sério que requer maior  responsabilidade, companheirismo e aceitação das limitações da mulher com deficiência física pelo  parceiro escolhido. Conforme assinalou Vash (1988), é necessário tempo e experiências para  construir a segurança interior e autoestima que possibilite aceitar normalmente uma rejeição  natural de quem rejeita sem acolher sua opinião com relação a você.
Nesta pergunta buscou-se compreender suas concepções sobre namoro: Se namorou…Como  é para você namorar?
[...] Uma delícia, sou muito namoradeira! (E2)
[...] Namorar é muito bom, faz a gente se sentir viva, importante para alguém. (E3)
Pelas respostas obtidas, o namoro para a mulher com deficiência física é algo comum a  todas as pessoas. Como lembra Moukarzel (2003) namorar, beijar, acariciar, amar e sentir-se amado  são sensações e experiências almejadas por qualquer pessoa. Entretanto, a maior parte dos  deficientes é impedida de envolver-se em relacionamentos amorosos, por prevalecer entre suas  famílias o conceito que o namoro induzirá, infalivelmente, ao anseio de relacionar-se sexualmente.
Para as jovens, a frustração pela repressão de seus anseios erótico-afetivos as coloca num estado de  inferioridade diante dos demais, com consequências intensas em seu comportamento.
Conclusão
Através dos depoimentos constatou-se a maneira que  a mulher com deficiência física  descobriu para se relacionar com os pares na categoria analisada sexualidade e relacionamentos  amorosos, que é para algumas, a fuga de contatos mais íntimos. Elas manifestam comportamentos  de aproximação baseados nas amizades para serem aceitas no contexto social em que vivem; não  tentam um contato mais ousado por temer a rejeição, principalmente, por receio de correr o risco de  não serem vistas como alguém “normal” por não possuir um corpo dito “normal” como a maioria  das pessoas, mesmo que esses fatos aconteçam com todas as pessoas quase sempre.
A segunda categoria de análise intitulada a autoimagem e sua percepção através do olhar do  outro, algumas mulheres com deficiência física veem sua própria imagem como meras expectadoras  da sua própria existência. Crença essa reforçada pela superproteção familiar e algumas vezes pelo  contato com outras pessoas de seu convívio social. Por outro lado, outras mulheres com deficiência  física demonstraram maturidade para lidar com as dificuldades que se apresentam durante a vida,  como a rejeição social, interpessoal e o estigma social.
Com relação qual o comportamento mais utilizado pelas mulheres com deficiência física  frente às relações amorosas e sexuais, percebeu-se  que as atitudes mais utilizadas foram o  retraimento social, visto que a autoimagem que tem de si mesmas é depreciativa. Outra parcela das  entrevistadas se mostrou bem adaptada a sua condição de deficiente física, demonstrando que  quando ocorre a aceitação da deficiência é um dos melhores indicadores de adaptação positiva do  indivíduo.
Diante disso, esta pesquisa não encerra a compreensão acerca da sexualidade da mulher com  deficiência física, ela deixa algumas reflexões e aponta para a necessidade de futuras pesquisas  sobre o assunto para que a inclusão social se torne algo concreto e não somente uma falácia. As  mulheres com deficiência física que obtêm êxito às  barreiras familiares, na maioria das vezes,  mostram-se mais serenas, alegres e confiantes. Somente vivenciando situações dentro do  relacionamento, sejam elas de decepções, alegrias, descobertas e frustrações que as mulheres com  deficiência física se tornarão aptas para lidar com a superproteção familiar que impede seu  crescimento como pessoas inseridas e participantes da sociedade.
*Psicóloga clínica, Bacharel em Psicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Psicóloga  voluntária da Associação dos Deficientes Físicos de Criciúma (JUDECRI) e do Instituto Rapha-El.
**Especialista em Ciências Criminais pelo CESUSC. Bacharel em Direito pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), colaboradora do Instituto Rapha-El, membro do conselho Fiscal da ASCEEUS.
Bibliografia
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AMARAL, L. A. Sobre Crocodilos e Avestruzes: Falando de Diferenças Físicas, Preconceitos e  Sua Superação. In: Aquino, Júlio G. (Org.). Diferenças e preconceito na escola. São Paulo: Summus, (p. 19-38). 1998.
AMARAL, R.; COELHO, A. C. V. Nem Santos nem demônios: considerações sobre a Imagem  Social e a Auto-imagem das Pessoas Ditas “Deficientes”. In: Os Urbanitas Revista Digital de
Antropologia Urbana, ano I, vol. 1, n.0. 2003. Disponível em:    http://www.aguaforte.com/antropologia/osurbanitas/revista/deficientes.html Acesso em: abr. de  2007.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. 2004.
FELTRIN, B. C. D.; LIZARAU, E. P. Deficiência Física: desafios para o resgate da cidadania.  Santa Maria: [s. ed.]. 1990.
GLAT, R. Saúde Sexual, Deficiência & Juventude em Risco. Banco Mundial Brasil. Universidade  do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educação. Núcleo de Educação Inclusiva. Rio de  Janeiro. 2004.
HERNANDEZ, J. A. E.; OLIVEIRA, I. M. B.  Os componentes do amor e a satisfação. Psicol.  cienc. prof. [online]. mar. vol.23, no.1, 2003, p.58-69. Disponível em: http://www.scielopsi.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932003000100008&lng=pt&nrm=iso>.
ISSN 1414-9893. Acesso em: abril de 2007.
LÓPEZ, F; FUERTES, A. Para entender a sexualidade. São Paulo: Loyola. 1999.
PAULA, A. R..  Sexualidade e Deficiência: rompendo o silêncio. São Paulo: Expressão e Arte.  2005.
PUHLMANN, F. A Revolução sexual sobre rodas: conquistando o afeto e a autonomia. São Paulo: O nome da rosa. 2000.
MOUKARZEL, M. G. M.  Sexualidade e deficiência: superando estigmas em busca da  emancipação. 233 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas,  Campinas: SP. 2003.
VASH, C. L. Enfrentando a deficiência: a manifestação, a psicologia, a reabilitação. São Paulo:  Pioneira, (Coleção Novos Umbrais). 1988.
http://www.deficienteciente.com.br/2012/08/sexualidade-de-mulheres-com-deficiencia-fisica-percepcoes-sobre-relacionamentos-amorosos.html

Sobre o Autor

Paulista, pedagoga, blogueira e modelo da Agência Kica de Castro. Colunista do site Vida Mais Livre e do Jornal Inclusão. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

Pesquisas com células-tronco para tratar o coração avançam no Brasil


Ao todo, 600 voluntários já participaram de um teste clínico considerado um dos maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.

G1


O Jornal Nacional vai exibir, a partir desta quinta-feira (17), uma série de reportagens especiais sobre um setor da pesquisa científica que o mundo todo acompanha com atenção, e cheio de esperanças: as terapias experimentais com células-tronco que já estão sendo aplicadas em pessoas. O assunto de hoje é o tratamento de pacientes com problemas cardíacos.
Quem vê o aposentado Valter Lemos Filho bem disposto, não imagina como a saúde dele estava frágil. “Foram quatro enfartes”, conta ele.
Em 2010, ele apostou em um tratamento com células-tronco. Entre tantos avanços da medicina, o início do século XX foi marcado pela primeira vacinação em massa no Brasil. Depois, surgiram os antibióticos, com o uso em larga escala de remédios que salvaram milhões de vidas, e os transplantes viraram rotina nos anos 1980. No século XXI, a ciência avança nas pesquisas com células-tronco, a promessa da medicina regenerativa de usar um remédio que está dentro de nós.
O coração é um dos principais campos de estudo no Brasil. Uma novidade para o despachante aduaneiro Rosno Julião. “Estou otimista. Se não fizer bem, mal não vai fazer”, reflete ele.
A maca trazendo seu Julião surge no corredor. Ele participa de um teste clínico para casos de isquemia crônica, quando o coração não consegue receber o oxigênio necessário para funcionar bem. Há também testes para três outros tipos de insuficiência cardíaca. No caso do seu Julião, células-tronco adultas foram retiradas da medula óssea dele antes de uma cirurgia de revascularização para melhorar a circulação do sangue. Em seguida, as células-tronco foram levadas para um laboratório no Instituto de Cardiologia do Rio.
O processo do material retirado da medula óssea do paciente é sigiloso, e só o profissional que vai fazer esse trabalho é que na verdade sabe se o paciente vai receber implante de células-tronco mesmo ou um líquido, que é um placebo. A escolha é feita por sorteio, e o paciente não sabe o que vai receber.
"É o melhor padrão. Padrão ouro de um estudo que vise testar a eficácia de uma nova terapia", diz Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador da pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia.
As células-tronco adultas foram, então, injetadas no coração do paciente. A expectativa é que elas possam restaurar a função cardíaca.
“Aquela área do coração que não tem como revascularizar, a gente procura injetar células-tronco na esperança que aquelas células-tronco se diferenciem em células do coração”, explica o cirurgião cardiovascular José Oscar Brito.
Ao todo, 600 voluntários já participaram desse teste clínico, considerado um dos maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.
“Seria a terapia ideal para um sistema público de saúde, porque você consegue processar essas células a baixo custo”, acrescenta Antonio Carlos Campos de Carvalho.
Imagens feitas durante uma pesquisa do Instituto do Coração, em São Paulo, mostram o caso de um paciente que melhorou: seis meses depois da cirurgia de revascularização e do implante com células-tronco, o coração ficou revigorado e batendo mais forte.
Seu Valter, como vimos no início da reportagem, voltou a ser ativo. “Meu coração está bom. Me abaixo, levanto, carrego alguma coisa, não altera nada”, comemora.
Os médicos ainda não prometem cura, mas o exemplo desse homem mostrou que a terapia tinha futuro: Nelson Águia estava desenganado quando recebeu, em 2001, a primeira aplicação no mundo de  células-tronco no coração. A lesão foi reduzida em quase 100%, e assim o paciente chegou aos 80 anos.
“Eu fiz com a maior satisfação, e com isso já estou aí há cerca de 12 anos”, contou ele em sua última entrevista. Ele morreu em setembro e deixou de herança um caminho que pode levar outros pacientes tão longe ou mais até do que ele foi.

Cientistas descobrem possibilidade de cura do autismo



A possibilidade de cura do autismo sempre foi vista com ceticismo por cientistas e médicos. Mas um amplo estudo publicado no periódico “Journal of Child Psychology and Psychiatry” contesta esta afirmação e diz ser possível, sim, reverter completamente os sintomas do transtorno neurológico que afeta a comunicação, a sociabilidade e o comportamento. Ainda assim, os autores advertem contra falsas esperanças, já que é um grupo restrito de doentes que, por razões ainda não esclarecidas, consegue ter uma melhora do quadro. E não há indicadores para mostrar quem estaria neste pequeno grupo, que representa menos de 10% dos autistas.
Quadro foi totalmente revertido em autistas
A equipe da Universidade de Connecticut recrutou 34 pessoas diagnosticadas com autismo antes dos 5 anos e que, posteriormente, reverteram os sintomas, que iam de moderados a graves. Durante a pesquisa, eles tinham entre 8 e 21 anos e passaram por intensivos testes, junto de outros 34 participantes sem autismo.
— Eles não podiam mais ser enquadrados no diagnóstico — concluiu Deborah Fein, autora do estudo, em entrevista ao “New York Times”. — Mas tenho que salientar aos pais que é uma minoria de crianças que é capaz disto, e ninguém deve pensar que perdeu a viagem se não conseguir este resultado.
Professor de Medicina da Universidade da Califórnia, Alysson Renato Muotri não apenas concorda que isto é realmente possível como desenvolve pesquisa na área. Segundo Muotri, há mais de uma década se sabe que entre 1% e 5% dos autistas conseguem reversão através de terapias intensas. Porém, acreditava-se que isto poderia ser atribuído a um diagnóstico errado.
— Mais e mais vemos trabalhos descrevendo que é um fenômeno real. Soma-se a isso nossas pesquisas mostrando que neurônios autistas conseguem se recuperar dos defeitos sinápticos se expostos ao ambiente certo (na presença de drogas que alteram as sinapses, por exemplo), mostrando que as alterações genéticas não são deterministas. Disso tudo tiramos uma lição importante: o autismo pode ser reversível sim. Acho que o próximo passo é entender porque alguns pacientes conseguem isso e outros, não — defendeu Muotri.
A neuropediatra Carla Gikovate, especialista em autismo, também comemora o resultado.
— De uns dois anos para cá estão surgindo estudos sérios apontando para esta possibilidade. Antes, os especialistas eram descrentes sobres estes resultados, mas isto está mudando — diz Carla. — Casos de reversão têm sido possíveis por causa do diagnóstico cada vez mais precoce, inclusive da formas mais leves da doença, assim como pelo tratamento intensivo, principalmente com envolvimento de pais e escola.
A possibilidade, entretanto, é vista com cautela pelo psiquiatra Caio Abujadi, coordenador do ambulatório de autismo da USP e diretor clínico do Instituto Priorit:
— Temos visto nas nossas pesquisa que há uma gama de sintomas do autista que não está só no campo neurológico. Envolve a alteração do sistema imunológico, metabólico etc. Há alergias, dificuldades alimentares, sensibilidade, uma genética muito complexa que envolve milhares de genes. Falar em cura de uma alteração como esta é muito difícil.
Autora do livro “Meu filho ERA autista”, a professora Anita Brito, moradora de Jandira (SP), orgulha-se do quadro do filho, Nicolas, que completará 14 anos em fevereiro. Com sintomas desde o nascimento, o jovem não falava, balançava-se e torcia os dedos, chorava e ria sem motivo, mas hoje dá até palestras sobre a fase mais intensa da doença.
— Nunca demos remédios ou fizemos dietas específicas. Foi carinho, amor, estímulo constante que o fizeram melhorar — diz Anita. — Hoje ele fala pelos cotovelos, diz que quer namorar, é o melhor aluno de Ciências. Ainda continua torcendo os dedos e precisa controlar a ansiedade, mas, olhando para ele, é um garoto totalmente normal.
Já tem lei, mas ainda faltam pesquisas
O governo federal promulgou a lei 12.764/12, que institui a política nacional de proteção aos direitos do autista, garantindo a eles os mesmos benefícios legais de outros portadores de deficiência. Mas isto ainda é pouco, segundo grupos de pais de autistas, que reivindicam mais apoio para pesquisa, com a criação de um Centro de Excelência de Pesquisa do Autismo. “Meu filho tem 29 anos e experimentou vários tratamentos que são só paliativos”, contou por email Ray Melo, que tem cobrado, com o apoio do pesquisador Alysson Muotri, mais atenção ao tema pelo Ministério da Saúde.

iG