sábado, 18 de agosto de 2012

Quem é louco, afinal??? Incluidos ou não?

Imperador Napoleão Bonaparte
Texto de Rubem Alves
“Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental.
Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista,
deveria ser um especialista no assunto.
E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar
para me arrepender.
Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, dentro do
meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas
cujos livros e obras são alimento para a minha alma.
Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles,
Maiakovski.
E logo me assustei.

Nietzsche ficou louco.
Fernando Pessoa era dado à bebida.
Van Gogh matou-se.
Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve:
não suportava mais viver com tanta angústia.
Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica.
Maiakovski suicidou-se.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para
os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental?
Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem,
previsíveis, sempre iguais, sem surpresas, obedientes ao comando do
dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida,
jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo
inesperado;
nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, bastar fazer o
que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme)
ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de
pensar o que nunca pensou.
Pensar é uma coisa muito perigosa...
Não, saúde mental elas não tinham.
Eram lúcidas demais para isso.
Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.
Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.
Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes
psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa
empresa.
Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão.
Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo
sorrisos e certezas.
A Nave dos Loucos - 1490/1500 de Hiëronymus van Aeken Bosch
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por
isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores.
O funcionamento dos computadores, como todos sabem, requer a interação
de duas partes.
Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a
outra se denomina software, "equipamento macio".
O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito.
O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que
formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software.
O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que
compõe o sistema nervoso.
O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados
na memória.
Do mesmo jeito, como nos computadores, o que fica na memória são
símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", e o
programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por
defeitos no software.
Nós também.
Quando o nosso hardware fica louco faz-se necessário chamar
psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e
bisturis consertar o que se estragou.
Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.
Não se conserta um programa com chave de fenda.
Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar
dentro dele.
O Jardim das Delícias de Hiëronymus van Aeken Bosch
Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos.
Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale
de recursos físicos para tal.
Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas,
palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma
peculiaridade que o diferencia dos outros:
o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que seu software produz.
Pois não é isso que acontece conosco?
Ouvimos uma música e choramos.
Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som.
Imagine que o toca-discos e os acessórios
(o hardware)
tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover.
Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta
e se arrebenta de emoção!
Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
a música que saía de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou.
Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de
oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca,
saúde mental até o fim dos seus dias.
Opte por um software modesto.
Evite as coisas belas e comoventes.
A beleza é perigosa para o hardware.
Cuidado com a música.
Brahms e Mahler são especialmente contra-indicados.
Já o rock pode ser tomado à vontade.
Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar.
Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento.
Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?
Os jornais têm o mesmo efeito.
Devem ser lidos diariamente.
Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras
diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas
iguais.
E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.
Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é.
E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se
aposentará para, só então, realizar os seus sonhos.
Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se
esquecido de como eles eram."
Fotos e Pinturas: Internet
Texto enviado pela querida Walcira

Felicidade é... uma professora muito maluquinha

Felicidade é... uma professora muito maluquinha
Lúcia Castello Branco*

“Vamos parar com essa felicidade aí!”. Essa exclamação, proferida por uma diretora que subitamente decide abrir a porta de uma sala e interromper a alegria desmedida das crianças, pode, à primeira vista, surpreender. Afinal, espera-se que, sobretudo na sala de aula de uma escola primária, a felicidade tenha algum lugar. Entretanto, todos sabemos que não é essa a realidade corriqueira de nossas escolas. Ali, exatamente ali onde a felicidade deveria reinar soberana, o que impera, silenciosamente, é, em geral, uma espécie de tristeza comedida que costumamos denominar disciplina.

Esse não é o único estranhamento que nos causa a leitura de Uma Professora Muito Maluquinha, de Ziraldo (Melhoramentos, 1995). Estamos, afinal, no universo dos estranhamentos, já há alguns anos instaurado pelo “menino maluquinho” criado pelo autor. E, nesse universo dos absurdos e nonsenses, uma escola e uma professora podem até se tornar sinônimos de felicidade.

Se formos ao Aurélio, podemos, de certa forma, mapear o percurso da palavra de que Ziraldo tão bem se apropria, explorando suas múltiplas conotações. Afinal, maluco quer dizer “indivíduo apalermado”, mas também “doido”, que, por sua vez, quer dizer “alienado”, “demente”, “insensato”, mas também “arrebatado”, “extravagante”, “apaixonado”, “entusiasmado”.

É dessa extravagância, sobretudo desse entusiasmo, que Uma Professora Muito Maluquinha vem nos falar. Esse entusiasmo — esse deus dentro de si —, elemento fundamental a qualquer educador, é justamente o que move as ações, as transgressões e as subversões dessa professora maluquinha. Em nome desse entusiasmo, ela oferecia prêmios a quem lesse mais depressa, ou convocava um júri de alunos para julgar as infrações de seus colegas, ou passava estranhos deveres para casa (como descobrir onde se situavam cidades inexistentes), ou ainda distribuía notas como quem distribui doces às crianças, abolindo o zero, é claro, porque “zero não existe”.

Por isso ela é maluquinha, porque ousa devolver à sala de aula e aos alunos o entusiasmo que deles é, comumente, roubado. E por isso ela é objeto de fantasia e de devaneio por parte dos alunos e, assim, é, por exelência, inimaginável, dada sua intangibilidade de objeto de desejo.

Na nossa imaginação ela entrava voando pela sala (como um anjo) e tinha estrelas no lugar do olhar.
Tinha voz e gesto de sereia e vento o tempo todo nos cabelos (na nossa imaginação).
Seu rosto era solto como um passarinho.
Ela era uma professora inimaginável.


Anjo, estrela, sereia, passarinho, essa professora é também diabólica, pois ousa infringir as normas da escola e situar-se ao lado dos deuses. Afinal, em sua opinião, é o professor quem termina por acrescentar ao homem o “sentido que o completa”, ao proporcionar-lhe o desenvolvimento da capacidade de ler e de escrever.

O homem nasce com visão, audição, olfato, tato e gustação. Mas não nasce completo. Falta a ele capacidade de ler e escrever como quem fala e escuta. É a professora que — como um deus — acrescenta ao homem esse sentido que o completa!

Mas não nos apressemos em julgá-la rápido demais. Anjo, demônio, fada ou deusa, essa professora permanece imperfeita, mesmo aos olhos daqueles que a veneram: não sabe tudo, como querem os mestres em seu lugar de mestres, mas apenas o que lhe for suficiente para seguir seu desejo (a História e a Geografia para viajar pelo mundo); não está sempre atenta e responsiva, mas, às vezes, chega “na sala com um bico maior que o de um tucano”; não acerta sempre, mas possui a sabedoria daqueles que conseguem fazer do erro um outro caminho, um caminho possível.

Quem será capaz de trilhar, com essa professora inesquecível, esses caminhos do erro e da errância de uma aprendizagem? “Do outro lado da mesa estamos ‘nós — Athos, Portos, Aramis, D’Artagnan e Ana Maria Barcellos Pereira, a chefe’. E, do outro lado do livro, estamos nós, leitores compactuados com esse ensino errante e entusiasmado, leitores desejantes dessa leitura do mundo a que somos convocados pela maluquinha, leitores apaixonados por essa escola em que a alegria e a algazarra têm lugar”.

O livro de Ziraldo, escrita-homenagem a uma professora inesquecível, escreve-se também como uma celebração de um certo ensino, um ensino com que, em geral, sonhamos, mas que dificilmente praticamos. Porque se trata de um ensino difícil de se praticar. Não de um ensino difícil, mas justamente de um ensino que esbarra na dificuldade que consiste em abrir mão de uma posição de saber, para ocupar, com todos os riscos que essa atitude implica, uma posição de desejo, uma posição desejante.

“Quando eu te vejo, eu desejo o teu desejo.”

Assim diz a canção Menino do Rio, de Caetano Veloso. E não é exatamente esssa a dinâmica do desejo? O outro, que deseja, é capaz de me pôr a desejar também. Nessa “escola do desejo”, instaurada pela professora maluquinha, todos nós passamos a desejar. E aí cai por terra toda a falácia pedagógica em torno da chamada “motivação” ou mesmo da absurda “criação de desejos” nos alunos. Porque o desejo não se cria nem se impõe. O máximo que se pode fazer é abrir espaços em que ele possa se manifestar.

Nesse sentido, o professor desejante já terá feito a sua parte.

Por isso, nós, que estamos do outro lado da mesa, do outro lado do livro, desejamos os prêmios que a professora nos oferece, desejamos ler depressa como locutores de rádio, desejamos saber onde se encontra Kubakalan, a cidade inexistente. E por isso desejamos também as serenatas do outro lado do muro, a decifração da mensagem secreta, a fuga esperada ao final da história.

Por isso desejamos o livro que, afinal, se oferece como uma homenagem não só à escrita e à leitura, mas também à história do Jornalismo, da Ilustração e da Editoração no Brasil, como nos revela o cuidadoso trabalho gráfico de Ziraldo em Uma Professora Muito Maluquinha. Todo ele composto de citações, recortes, bricolagens de ilustrações de Alceu Penna, de Millôr Fernandes e das antigas revistas O Cruzeiro, Tico-Tico, O Gibi, Era Uma Vez, Eu Sei Tudo, Revista da Semana e Careta.

Entre as generalidades que a professora maluquinha costumava ensinar, há uma que se repete, subliminarmente, a cada página do livro: “que estar enamorado é estar em estado de amor: in amor”. Este livro de Ziraldo nos fala sobretudo de um sujeito enamorado de uma certa professora maluquinha, por sua vez, enamorada de um certo ensino e de um certo saber.

Esse saber com sabor, teorizado por Roland Barthes em seus textos, é concretamente praticado por essa professora em sala de aula. Dele provamos nós, alunos, do outro lado da mesa. Dele provamos todos nós, leitores enamorados, do outro lado da história In amor ao ensino, à aprendizagem, à escrita e à leitura, à ilustração, à diagramação e ao texto. In amor ao livro, enfim.

* Professora de Literatura da Fale/UFMG. Autora de A traição de Penélope (Annablume, 1994) e Júlia-Toda-Azul (Virgília, 1993); dentre outros.
http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=747

Scientific American destaca trabalho de brasileiro

Antonio Costa/Gazeta do Povo / Nicolelis traz “novidades” para a humanidade



Gazeta do Povo


O pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados neurocientistas do mundo, estará em destaque na revista Scientific American em uma edição especial.
Nicolelis foi escolhido para representar uma das dez áreas que podem trazer novidades mais importantes para a humanidade num futuro próximo. A área que ele representa é a interação entre máquinas e cérebros.
Se tudo der certo, implantando sensores no córtex de tetraplégicos, o cientista fará as pessoas terem capacidade de mover um exoesqueleto e voltarem a andar.
O que isso tem a ver com política? Nicolelis está há pelo menos um ano tentando apoio do governo federal para sua pesquisa e, adivinhe, até agora, nada...
Nicolelis é autor do livro Muito Além do Nosso Eu – A Nova Neurociência que Une Cérebro e Máquinas e como Ela Pode Mudar Nossas Vidas (Companhia das Letras).
Cientistas criam sistema para “limpar” o cérebro
Neurocientistas do Centro Médico da Universidade de Rochester (EUA) descobriram um sistema de drenagem com o qual o cérebro elimina os resíduos, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira na Science Translational Medicine, que esperam que tenha aplicação na pesquisa dos males de Alzheimer e de Parkinson.
O sistema atua como se fossem encanamentos que aproveitam os vasos sanguíneos do cérebro e parece realizar a mesma função no cérebro que o sistema linfático no resto do corpo: drenar de resíduos.
A autora principal do artigo e codiretora do Centro de Neuromedicina da Universidade de Rochester, Maiken Nedergaar, afirmou que “a limpeza de resíduos é de vital importância para todos os órgãos e há muito tempo temos perguntas sobre como o cérebro se desfaz de seus resíduos”. “O trabalho demonstra que o cérebro está se limpando de uma maneira mais organizada e em uma escala muito maior do que se tinha pensado anteriormente”, disse Nedergaard.