terça-feira, 26 de maio de 2015

Não é a meritocracia; é o valor que se cria

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Meritocracia é uma palavra bonita. Não. É uma palavra que remete a uma coisa bonita: que cada um receba de acordo com seu mérito, que em geral é igual a esforço, dedicação; às vezes se inclui a inteligência.
E — é o que garantem alguns liberais — é isso que vigora no mercado. Quem se esforça, chega lá.
É questionável até que ponto esse tal mérito pessoal sequer exista. Hélio Schwartsman, na Folha, apontou aquele fato que ninguém gosta de lembrar: o esforço pessoal, o suor, a capacidade de trabalho, a inteligência; todos dependem de variáveis que estão fora da escolha pessoal — do mérito, portanto — do indivíduo. Essa esfera do que é só meu, do mérito próprio distinto das circunstâncias do ambiente e da história, simplesmente não existe.  Ao menos, não da forma simplória que se vende.
E existindo ou não, será verdade que o mercado premia justamente o mérito? Se for, caro liberal, então você está obrigado a defender que Gugu Liberato e Faustão têm mais mérito do que um professor realmente excelente e que realmente ensine coisas úteis.
Nada contra o Gugu e o Faustão, mas eles não são meu exemplo ideal de disciplina, dedicação e trabalho duro. E, mesmo assim, o mercado os recompensa muito bem. Do outro lado, milhões de trabalhadores labutam dia e noite, e outros milhões de desempregados procuram o que fazer, e continuam pobres. Ainda falta esforço? São preguiçosos, burros talvez?
Nada disso.
O que realmente determina a remuneração no mercado não é o mérito, não é a virtude, não é o esforço ou a dedicação. É apenas a criação de valor; o valor que aquela pessoa consegue adicionar à vida dos demais.
Não importa se é por esforço, inteligência, sorte, talento natural, herança; quanto mais imprescindível ela for aos outros, mais os outros estarão dispostos a servi-la.
O esforço por si só não garante nada. É verdade que, tudo o mais constante, se a pessoa encontra um campo em que ela gera valor, o esperado é que mais esforço gere mais valor. Com o passar das gerações, a ascensão social se acumula: a filha da retirante nordestina que trabalha de empregada tem computador, aula de inglês e provavelmente não será doméstica quando crescer.
É assim que as sociedades enriquecem. Não é de uma hora para outra, e não tem nada a ver com a crença ingênua de que a renda é ou deveria ser proporcional ao mérito.
Nada é garantido. Às vezes o setor em que o sujeito trabalha fica obsoleto, e o valor produzido pela dedicação de uma vida cai abruptamente. Havia gente muito dedicada entre os técnicos de vitrola de meados dos anos 1990; e mesmo assim…
Meritocracia é um conceito que se aplica ao interior de organizações. Promover membros com base no mérito (em geral medido por algum indicador) pode ser melhor do que fazê-lo por tempo de serviço, pela opinião subjetiva de um superior etc. Meritocracia é um modelo de gestão.  Até mesmo o governo, por exemplo, poderia se beneficiar dela, reduzindo suas ineficiências.  Não é um modelo sem falhas: a necessidade de mostrar resultados cria uma pressão interna muito grande e pode minar a cooperação, a manipulação dos indicadores pode viciar o sistema de avaliação.
Encontrar o sistema mais adequado a cada contexto é uma questão de administração, de funcionamento interno de organizações, que nada tem a ver com o mercado.  Mercado é o processo (sim, memorizem isso: o mercado é um processo) no qual algumas organizações existem e operam. Às vezes organizações nada meritocráticas prosperam no mercado, e organizações meritocráticas podem existir fora dele.
Satisfaça as necessidades dos outros, e as suas serão satisfeitas. Não importa se é por mérito, por sorte ou por talento. O cara mais esforçado e bem-intencionado do mundo, se não criar valor, ficará de mãos vazias.
Achou injusto? Então aqui vai um segredo: é você quem perpetua esse sistema. Se sua geladeira quebra, você vai querer um técnico esforçado e que dê tudo de si, ou vai querer um que faça um ótimo serviço, com pouco esforço e a um baixo custo? Quer um restaurante ruim mas com funcionários esforçados ou quer comer bem? O mundo reflete o seu código de valores e, veja só, ele não é meritocrático.
A vida não é e nem deve ser uma corrida que parte de condições iguais e na qual, no fim do jogo, vencem os melhores. Na medida em que esse sonho meritocrático é sequer possível (estamos muito longe de corrigir desigualdades genéticas, por exemplo), ele exigiria um investimento enorme só para produzi-lo; sacrificaríamos valor para criar condições artificiais que se adequem a esse ideal abstrato. Todos ficariam mais pobres para realizar esse sonho moral.
Mas quem disse que a igualdade é moralmente superior à desigualdade? Se um meteorito cai na minha casa e não na sua, isso é injusto? É imoral?
O sistema de mercado não premia a virtude; ele premia, e portanto incentiva, o valor. É feio dizê-lo? Pode ser, mas ele tem um lado bom: é o sistema que permite que a vida de todos melhore ao mesmo tempo. Que todo mundo que quer subir tenha que ajudar os outros a subir também. Ele não iguala o patamar de todo mundo, mas garante que a direção de mudança seja para cima.
O ideal da meritocracia tem o seu apelo, mas ele depende de meias-verdades: a ideia do mérito que é só meu e de mais ninguém, a de que meu suor justifica o que eu ganhei. Sem suor ou inteligência, o ganho é sujo, indevido. Mas o outro lado dessa moeda é feio: implica dizer que quem não chegou lá não teve mérito; que a pobreza é culpa do pobre.
A lógica do mercado é outra: você criou valor, será recompensado. Sua riqueza não diz nada sobre o seu mérito; ela não justifica e nem precisa ser justificada. O resultado desse foco no valor é que mais valor é criado. Você recebe aquilo que entrega e todos ganham.
[Nota do IMB: por que Faustão, Gugu, jogadores de futebol e artistas globais ganham mais de R$ 1 milhão por mês ao passo que um professor realmente bom ganha apenas uns R$ 5 mil?  Um bom professor pode realmente gerar valor, mas ele gera valor para uma quantidade ínfima de pessoas ao ano.  Quantos alunos diferentes ele tem?  Provavelmente, não mais do que 200 (um número bem exagerado).  Portanto, ele cria valor para 200 pessoas por ano.  É uma produtividade extremamente baixa.  Já os indivíduos supracitados têm alcance nacional (alguns, mundial), milhões de pessoas consomem voluntariamente seus serviços, e eles geram retornos — goste você ou não deles — para seus empregadores semanalmente, que estão satisfeitos em lhes pagar salários milionários.  Se não gerassem valor, seria simplesmente impossível terem esses salários.]

Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com." Siga-o no Twitter: @JoelPinheiro85 
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2054

Se você acha que todos têm as mesmas oportunidades, dá uma lida nessa história em quadrinhos Por WILL

Privilégio e justiça social são dois temas que ganharam inúmeras discussões nas redes sociais ultimamente.
Em tempos de Eleições e crise econômica, todo argumento parecia rodear essas questões.
A verdade é que o entendimento sobre os assuntos são muito mais complexos do que qualquer discussão no Facebook costuma levantar. Mas, para nossa sorte, o ilustrador australiano Toby Morris criou um quadrinho que coloca um pouco de luz sobre isso.
Feito para qualquer um entender, On a Plate (“De bandeja”, em tradução livre) foi traduzido pelo pessoal do catavento*.

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http://awebic.com/cultura/se-voce-acha-que-todos-tem-as-mesmas-oportunidades-da-uma-lida-nessa-historia-em-quadrinhos/

Um cinema deu garrafas de água. Ninguém conseguiu abri-las. Então algo começou rodar na telona…

Em um cinema de Los Angeles, o The Water Project executou uma promoção: todos que estavam por lá ganhariam uma garrafa de água.
Mas, é claro, tinha uma pegadinha.

As garrafas eram praticamente impossíveis de abrir.

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Por quê? Para chamar atenção para uma causa social. Depois que as pessoas se sentiram frustradas de não conseguirem beber água, algumas palavras apareceram na grande tela.

“Se você acha frustrante fazer um pequeno esforço para beber água, imagine o que essas crianças sentem.”

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Invés de trailers de filmes, as imagens mostravam crianças que precisam se esforçar para buscar água todos os dias.
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Ficou claro o desconforto da platéia.

Clique no play e veja como aconteceu.

Nós reclamamos quando a crise hídrica bate em nossas portas e não temos água na torneira. A verdade é que existem pessoas em situação muito pior.
1 em 9 pessoas ao redor do mundo sofre com escassez de água para beber. Cerca de 2.000crianças morrem todos os dias de doenças transmitidas por água contaminada.

Agora a boa notícia

Melhorar o acesso de água potável no mundo não é impossível. Entre 1990 e 2002, 1 bilhão de pessoas ganharam meios de consumir água potável — e o número tem crescido ainda mais.
Vamos ser sinceros: colocar um monte de gente numa sala de cinema tentando abrir garrafas de água vai solucionar a escassez de água potável no mundo? Não. Mas o experimento é feito para chamar atenção a um problema básico que muitas pessoas enfrentam todos os dias.

Empatia pode se tornar ação

Se você acha que todas as pessoas do mundo deveriam ter acesso aos recursos básicos para a vida, então você conseguiu entender a proposta da campanha.
Basicamente você pode ajudar de duas formas: financeiramente através do site do projeto oucompartilhando este experimento social com seus amigos.
http://awebic.com/cultura/um-cinema-deu-garrafas-de-agua-ninguem-conseguiu-abri-las-entao-algo-comecou-rodar-na-telona/