segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Primeiro aluno com deficiência visual se forma em Publicidade e Propaganda
TCC sobre audiodescrição recebeu nota 10Na tarde de segunda-feira (14), aconteceu, na sala 510 do bloco "A" da Universidade Católica de Pernambuco, a defesa do trabalho de conclusão de curso do estudante Milton Pereira Filho, 28 anos, o primeiro aluno com deficiência visual a se formar em Publicidade e Propaganda em Pernambuco.
O trabalho apresentado abordou o tema "Audiodescrição: ferramenta da inclusão social na publicidade".Na monografia, Milton mostrou como a audiodescrição pode ser uma ferramenta de marketing e trazer resultados benéficos para as empresas que investem no estilo de propaganda, aumentando o público-alvo e elevando o status de uma corporação preocupada com a inclusão social.
A audiodescrição leva acessibilidade aos meios de comunicação a portadores de deficiências visuais e auditivas. Esse processo permite a inclusão de deficientes em cinemas, teatros e programas de televisão.
O recurso, basicamente, é a tradução de imagens em uma narração das imagens em palavras.O coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Unicap, Rodrigo Duguay, que acompanhou, desde o início, a trajetória do estudante na Universidade, ficou muito admirado com a conclusão da monografia.
Na avaliação do trabalho, Rodrigo lembrou, com orgulho, a história de Milton na Universidade. Durante o curso, ele fez um trabalho de grande repercussão, e já é acostumado a impressionar os professores.
Milton frequentou a sala com alunos sem deficiência e se destacou no meio deles, mostrando que com força de vontade é possível vencer qualquer dificuldade", falou o professor, depois que o estudante recebeu a pontuação máxima pelo trabalho.
Segundo Milton, a idéia de fazer Publicidade e Propaganda foi um desafio, que encarou com muita responsabilidade. "Sabia que seria difícil, e não entrei para brincar. Logo no primeiro dia de curso, os professores me apoiaram muito, e ficaram empolgados de trabalhar com um aluno que é cego, em Publicidade. Esse tempo que passei aqui, foi ótimo, e se pudesse, faria tudo de novo", enfatizou Milton, feliz com a conquista.Fonte: Blog da Audiodescrição (17/12/09)Referência: Rede SaciVeja também neste blog:Audiodescrição promove a inclusão de pessoas com necessidades especiais
Postado por: Deficiente Ciente Categoria(s): Postado: Quarta-feira, Outubro 21, 2009
Durante essa semana, estava lembrando do meu primeiro dia de aula após o meu acidente. Estava na quinta série e tinha onze anos de idade. A turma de alunos era a mesma do ano anterior, eram todos meus colegas. No entanto, durante o recreio, percebi que a turma estava dividida em grupos e todos me observavam atentamente. O primeiro grupo aproximou-se e perguntou o que tinha acontecido comigo, expliquei o que tinha ocorrido, e logo após, esses alunos se afastaram. O segundo grupo ficou somente observando e nem mesmo aproximou-se. Percebia que esses alunos queriam ficar bem longe de mim. No entanto, tinha um terceiro grupo, e esse grupo era a minoria de alunos. O grupo aproximou-se, prestou solidariedade e me disse palavras de coragem. Contudo, essa minoria, assim como eu, não se enquadrava no corpo “perfeito”, “ideal” cultuada pela sociedade preconceituosa. O grupo era formado de alunos altos, obesos, negros, que de certa forma também sofriam preconceito por parte dos colegas.De acordo com o ensaio “Preconceito e Discriminação como expressões de violência” das professoras Lourdes Bandeira e Anália Soria Batista, “O preconceito, assim, constitui-se em um mecanismo eficiente e atuante, cuja lógica pode atuar em todas as esferas da vida. Os múltiplos preconceitos de gênero, de cor, de classe, etc. têm lugar tipicamente, mas não exclusivamente, nos espaços individuais e coletivos, nas esferas públicas e privadas. Fazem-se presentes em imagens, linguagens, nas marcas corporais e psicológicas de homens e de mulheres, nos gestos, nos espaços, singularizando-os e atribuindo-lhes qualificativos identitários, hierarquias e poderes diferenciais, diversamente valorizados, com lógicas de inclusões-exclusões conseqüentes, porque geralmente associados a situações de apreciação-depreciação/desgraça. O preconceito se contrapõe às qualidades de caráter, como lealdade, compromisso, honestidade, propósitos que afirmam valores atemporais e regras éticas.”Vale lembrar que preconceito é a idéia e discriminação é a idéia colocada em prática. Um exemplo disso foi o que aconteceu comigo. O primeiro e o segundo grupo de alunos praticamente me ignoraram, isso é preconceito. Se um desses alunos me insultasse ou tomasse qualquer outro tipo de atitude pejorativa, isso seria discriminação.Felizmente, naquele momento da minha vida, não me importava com o que meus colegas pudessem estar sentindo em relação a minha deficiência, mas de certa maneira aquela situação me deixava incomodada. O terceiro grupo do qual falei, me deu muita força e me acolheu muito bem, assim como alguns professores e isso me deixou muito feliz. Não sentia que estava sendo bem recebida por parte de alguns professores, pois os mesmos não orientavam a classe, sobre a questão da deficiência e as maneiras de convivência que respeitassem as diferenças. Isso aconteceu na década de 80 e hoje em dia a situação não é muito diferente em algumas escolas. Esse é um outro assunto que abordarei numa próxima oportunidade.A doutora Luciene M. da Silva, em seu artigo “ O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência” afirma que:“O corpo marcado pela deficiência, por ser disforme ou fora dos padrões, lembra a imperfeição humana. Como nossa sociedade cultua o corpo útil e aparentemente saudável, aqueles que portam uma deficiência lembram a fragilidade que se quer negar. Não os aceitamos porque não queremos que eles sejam como nós, pois assim nos igualaríamos. É como se eles nos remetessem a uma situação de inferioridade. Tê-los em nosso convívio funcionaria como um espelho que nos lembra que também poderíamos ser como eles.”Infelizmente muitas pessoas pensam dessa maneira, eles não se colocam no lugar do outro, pelo simples fato desse outro representar a fragilidade humana. Se essas pessoas soubessem o que estão perdendo...Atualmente não tenho mais contato com nenhum desses grupos. O primeiro e o segundo já não tinha mesmo, e o terceiro continuamos nossa amizade durante muito tempo, porém devido as correrias do dia-a-dia, mudanças de endereço, perdemos contato. Acredito que esses amigos que me acolheram são pessoas felizes, pois possuem nobreza de espírito, são solidários e generosos. Quanto ao primeiro e segundo grupo, torço para que eles tenham mudado a forma de pensar, torço para que eles valorizem o ser humano não por sua aparência, mas por sua essência, e que dessa maneira possam passar para as gerações vindouras que o respeito ao outro ser humano, independente de sua cor, raça, etnia, características físicas ou intelectuais é uma demonstração de humanidade e de sabedoria.Como disse muito bem o colega Gilberto do Blog Nel Mezzo Del Cammim “Chega de inteligência, o mundo precisa mesmo é de sabedoria!”Texto escrito por Vera (Deficiente Ciente)