quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Curso virtual de Autismo

Ziraldo reclama da educação no Brasil


“Uma Professora Muito Maluquinha” é a terceira adaptação para o cinema de uma obra do cartunista Ziraldo, de 79 anos. Depois de seu clássico personagem “O Menino Maluquinho” chegar às telas em 1994, dirigido pelo mineiro Helvécio Ratton e, na sequência, pela dupla Fernando Meirelles e Fabrizia Pinto em 1998, quando fizeram “Menino Maluquinho 2: A Aventura”, agora é a hora de André Alves Pinto e César Rodrigues apresentarem uma outra personagem tão irreverente quanto o famoso moleque que usa uma panela como chapéu.
No novo filme, a professora Catarina (Paola de Oliveira) vive nos anos 1940 e sua maior marca, claro, é a ousadia e irreverência – assim como o Maluquinho – para dar aulas às crianças numa escola do interior de Minas Gerais. Por fugir dos padrões pedagógicos da época, ela é sempre mal vista pelas colegas, mas adorada pelos alunos.

Educação é um tema caro a Ziraldo. Durante o 44o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizado na semana passada, ele discorreu sobre o assunto sem papas na língua. Convidado a participar do seminário “Cinema Infantil Brasileiro: Trajetória e Futuro”, aproveitou, com muito humor, para reclamar dos rumos do ensino e a necessidade de mais “professoras maluquinhas” no país.
“Não vou ficar falando só de cinema não. O centro da minha preocupação no Brasil é a educação”, bradava. “A mais de 30 anos viajo pelo Brasil e conheço todos os tipos de escolas. Sou o ‘não-especialista’ em educação que mais entende do assunto”.

Ele lembra que “o ministro da Educação do governo Fernando Henrique, Paulo Renato, tinha um plano, e era assim: ‘Vamos fazer um País de leitores’. Isso era sensacional. Apesar do Lula ter sido o melhor presidente do Brasil, sua gestão para educação foi ruim porque desconstruiu essa premissa”.
Em seu habitual entusiasmo, Ziraldo defendeu que a maior necessidade do brasileiro é mesmo a educação: “Se der educação, saúde e segurança se resolvem. O ser humano, quando nasce, só sabe chorar. Depois que toma consciência dos cinco sentidos, ele precisa utilizá-los bem. E isso não acontece no Brasil. Eu digo que existem 90% de analfabetos no Brasil, e o analfabeto é um cidadão inútil”, vaticina.

“Fizeram uma pesquisa no Rio de Janeiro com os alunos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de lá. Sabem quantos deles lêem jornal? 1%, sendo que a metade deve ter mentido na pesquisa”. E solta: “O Fernando Haddad tinha de promover um Mobral e determinar o seguinte: a partir de hoje não cresce mais criança analfabeta no Brasil”. E reforça seu argumento. “De antes de Cristo até a invenção de Guttemberg o homem andava de charrete. Com 500 anos de escrita livre da Igreja, acessível a todos, o homem deixou a charrete e foi a Lua. Não pode ser só coincidência”.
Questionado sobre o valor da internet como fonte de informação para os jovens, Ziraldo concorda que a rede é nossa maior fonte com massa de informação livre, mas “tem de saber pesquisar, e para isso é preciso saber ler e escrever. Senão seremos imbecis ali, como a maior parte dos seus usuários. Para 90% da humanidade, formada por imbecis, a Internet é um paraíso”, diz, para uma plateia sorridente com a sinceridade do senhor maluquinho. E continua, referindo-se às redes sociais: “Esse negócio de um milhão de amigos é para o Roberto Carlos. Eu quero é ter 12, e o resto que se dane”.

E sobre a distribuição dos tablets (visor digital pelo qual pode se ler livros, entre outras funções) nas escolas? Ajuda a desperta a leitura das crianças? Ziraldo responde: “o convívio com esse suporte é importante, mas o maior suporte ainda é o livro. Você precisa passar pelo domínio cognitivo da escrita. Eu tenho esperanças. Acho que como esse nosso grupo aqui nesta sala, tem uns 3 mil no Brasil. Enquanto existirmos, a praia dos preocupados com o Brasil, tenho esperança”.
O produtor de “Uma Professora Muito Maluquinha”, Diller Trindade, presente no seminário, aproveitou para lembrar que o resultado da obra ficou próxima do pensamento de Ziraldo. E o autor arremeda: “É verdade. A gente tem hoje 450 mil professoras, se o filme chegar nelas, a multiplicação será bem maior da que o livro conseguiu. Nada complementa melhor que a imagem. Mas se a imagem vier antes da escrita, não resolve”, concluiu sob aplausos efusivos no auditório do Kubistchek Plaza Hotel.

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Leia também a crítica:

.http://pipocamoderna.com.br/ziraldo-reclama-da-educacao-no-brasil/117036