sexta-feira, 2 de março de 2012

Inglês usa tecnologia para levar diversão a deficientes físicos Mick Donegan também adapta game para comunicação e aprendizagem. Série do G1 mostra protagonistas de um mundo melhor.

Giovana SanchezDo G1, em São Paulo
Mick Donegan, fundador da SpecialEffect (Foto: Divulgação)Mick Donegan, fundador da SpecialEffect
(Foto: Divulgação)
"Muito obrigado por ter me ajudado a encontrar o equipamento certo para eu conseguir usar meu computador de novo, [...] graças a vocês consigo fazer qualquer coisa, me comunicar com minha família e amigos e jogar." Foi com essa carta que Joe, um jovem portador de deficiência do Reino Unido, agradeceu a ajuda que recebeu da equipe de Mick Donegan para conseguir um computador adaptado à sua condição física - e controlá-lo pela visão.
Mick é fundador e diretor da SpecialEffect (site em inglês), organização que adapta, de graça, controles de videogames e jogos de computador para portadores de deficiência física.
[G1 publica nesta quinta e sexta-feira (1º e 2) a série 'Transformadores - pessoas que mudam o mundo', que conta histórias de gente que mudou a própria vida para melhorar a realidade de outras pessoas.Conheça todos os personagens.]
Aos 59 anos, casado com uma "linda, compreensiva, companheira e paciente" esposa, com três filhos e com um histórico de décadas de trabalho em educação especial, Mick passou a se dedicar integralmente ao assistencialismo em 2011 - e conseguiu formar uma equipe que hoje muda a vida de milhares de pessoas com deficiência.
Eles não podem brincar na rua como as outras crianças, então a interação com o computador ou videogame passa a ter um valor especial, explica Mick, que também é professor-adjunto do programa de pesquisa em acessibilidade SMARTlab, da Universidade de Dublin.
Confira a entrevista com Mick Donegan:
G1 - A ideia de trabalhar com educação especial foi motivada por alguma história pessoal?
Mick Donegan - 
Meu primo mais novo tem dificuldade de aprendizagem. Sentia profundamente sua frustração quando ele pecebeu que era tão difícil se comunicar. Por exemplo, ele queria muito conseguir dizer meu nome, mas apesar de tentar demais, em vez de 'Michael' ele dizia 'Maboo'! Quando cresci, não podia deixar de compartilhar o meu profundo sentimento de frustração e até mesmo raiva de todas as pessoas com deficiência de comunicação que têm algo a dizer ou expressar criativamente, mas que são incapazes de fazê-lo, quer de forma suficientemente rápida ou, em alguns casos, incapaz de expressar-se totalmente.
G1 - Quando você criou a organização? Por quê?
Mick -
 Comecei cerca de 4 anos atrás. Nos primeiros 3 anos, trabalhei voluntariamente no meu tempo livre. Aí, ano passado, consegui trabalhar em tempo integral. Agora trabalho em tempo integral e no meu tempo livre também!
SpecialEffect estuda casos e prepara o atendimento em domicílio quando necessário (Foto: Divulgação)SpecialEffect estuda casos e prepara o atendimento em domicílio quando necessário (Foto: Divulgação)
Minha formação é em educação especial e tenho trabalhado para ajudar as pessoas com deficiência a se beneficiarem da tecnologia assistida por muitos anos. Estive envolvido em muitas missões para ajudar pessoas com deficiência grave a encontrar a tecnologia certa para ajudá-los com a comunicação e acesso à aprendizagem. No entanto, fiquei cada vez mais consciente de que, enquanto muitos profissionais oferecem suporte para comunicação e aprendizagem, uma área que necessita e que tem muito pouco apoio é o acesso à tecnologia para jogos e expressão criativa.
Muitas vezes, por exemplo, no final de uma missão para encontrar uma ferramenta de comunicação para uma criança que não fala em uma cadeira de rodas, os pais dizem 'Bem, a tecnologia que você recomendou será útil para que ela possa se comunicar e conseguir aprender, mas o que eles fazem quando chegam em casa da escola? Eles não podem correr ou jogar como as outras crianças. Como eles podem encontrar maneiras de jogar jogos com amigos e familiares?'.
Eu fui sortudo porque consegui fazer um projeto piloto no qual percebi que muitas pessoas portadoras de deficiência precisavam desesperadamente usar o computador para lazer - para fazer amigos, para a motivação, para competir, e, claro, para se divertir!
G1 - Quais foram as maiores dificuldades?
Mick 
- A principal dificuldade é que, na minha opinião, a tecnologia que permite que as pessoas com deficiência desfrutem de videogames está cerca de 1/4 de século atrasada em relação a muitos outros tipos de tecnologia assistida, como para a comunicação, aprendizagem ou mobilidade. Assim, a principal dificuldade é que temos cerca de 1/4 de século de tempo perdido para compensar!
Além disso, devido à falta comparativa de apoio e incentivo para que as pessoas com deficiência aproveitem os jogos de computador, outra dificuldade é que muitos desistiram de tentar. Por isso, quando trabalhamos com uma pessoa para encontrar uma solução para ela, uma parte muito importante do trabalho é mostrar o que pode ser feito. Uma maneira de fazer isso é pelo uso de vídeos de casos de estudo, que colocamos na nossa base de dados  (em inglês).
G1 - Quais são as mudanças mais comuns que precisam ser feitas nos games?
Mick - 
Às vezes nenhuma mudança é necessária. É uma questão de encontrar a combinação certa de um controle existente com o jogo certo para satisfazer as necessidades da pessoa. No entanto isso está longe de ser tão fácil como parece. Há muitos milhares de controles, muitos milhares de jogos e diversos tipos de deficiência. Para encontrar a combinação certa é preciso ter uma considerável sensibilidade, experiência e especialização.
Organização inglesa tem uma base de dados acessada de vários países (Foto: Divulgação)Organização inglesa tem uma base de dados
acessada de vários países (Foto: Divulgação)
É por isso que sempre foi minha intenção que a 'SpecialEffect' fosse um verdadeiro centro de excelência, com especialistas em educação, especialistas em saúde e especialistas técnicos, bem como especialistas em design e programação. Às vezes exige um controle criado especialmente para um indivíduo. Às vezes, uma modificação no software pode ser necessária. Por exemplo, só pode ser controlado pelo teclado e gamepad. Uma interface especial de software é criada pelo programador, Tim Brogden. Isso significa que muitas pessoas com deficiência usando controles de ponteiros, como joysticks especiais, de bolas, mouse e até mesmo controles pelo olhar podem jogar.
G1 - Como é o processo? Se a criança com deficiência o procura, o que você faz primeiro?
Mick -
 Nós fazemos o melhor para ajudar qualquer pessoa que queira jogar um videogame, de qualquer idade, com qualquer deficiência a ser capaz de se divertir. Fazemos isso da seguinte forma: primeiro existe a informação no nosso banco de dados (GameBase), que oferece informações sobre os tipos de jogos que se pode jogar usando uma variedade de controles diferentes, dependendo de sua deficiência. Se eles não acharem a informação que precisam, então eles podem entrar em contato por e-mail. Nós também temos uma biblioteca onde é possível pegar emprestados jogos e controles para pessoas com deficiência no Reino Unido.


Isso permite às pessoas experimentar controles e softwares antes de comprá-los, muitas vezes economizando um enorme tempo e dinheiro. Temos também uma sala de jogos (GamesRoom) no nosso centro, em Oxfordshire, onde as pessoas podem agendar uma visita para experimentar uma gama de jogos e controles com o apoio da nossa equipe de especialistas. Se é impossível para alguém visitar o centro por causa da deficiência, então podemos organizar uma visita da equipe à casa da pessoa para ajudar a encontrar a tecnologia certa e, se necessário, desenhar ou modificar sistemas.
 se necessário, desenhar ou modificar sistemas.
Atendimento da organização é gratuito  (Foto: Divulgação)Atendimento da organização é gratuito (Foto: Divulgação)
G1 - Os serviços são gratuitos?
Mick - 
Sim. Para qualquer um, com qualquer deficiência, de qualquer idade. Isso é fundamental para nosso trabalho, temos que trabalhar arduamente para gerar os fundos que necessitamos para que tenhamos o pessoal e os recursos de equipamentos necessários para fornecer tal suporte de trabalho intensivo e especializado. Por exemplo, estou fazendo uma caminhada sobre brasa e vidro patrocinada em alguns meses - espero sobreviver!
G1 - Como é o retorno das pessoas?
Mick -
 Muito positivo! Por causa da variedade de serviços que oferecemos, da informação disponível no site pelo suporte individual, se necessário, as pessoas podem descobrir o nível de ajuda que precisam. Como há muitos que vistam o site, encontram a informação que precisam sem a necessidade de nos contatar, cada vez que alguém nos contata para pedir ajuda - por email, telefone ou pessoalmente - isso vira um projeto de pesquisa, [...] um processo interativo com o objetivo de encontrar uma solução que melhor supra as necessidades do indivíduo.
Até agora, muitas pessoas têm sido generosas no agradecimento. Nós ajudamos um jovem chamado Joe, paralítico, a usar um sistema de controle pela visão para manejar o computador e acessar games. Antes disso, tudo o que ele podia fazer era ver TV. No dia seguinte que emprestamos o sistema a ele, sua mãe ligou para falar sobre seu progresso e disse: 'Ele está nisso o tempo todo - é como se vocês tivessem dado uma nova vida a ele!'
Deficiente controla jogo com a visão (Foto: Divulgação)Deficiente controla jogo com a visão (Foto: Divulgação)
G1 - Quantas pessoas vocês ajudaram até agora?
Mick -
 A informação da nossa base de dados é usada por pessoas de todo o mundo, como mostra a variedade de nacionalidades de membros que temos. Nós não temos atualmente uma forma de contabilizar as visitas ao site, mas todas as indicações (como os números de visitas e nossos links no YouTube) apontam para dezenas senão centenas de milhares de visitantes. No entanto, muito mais importante que números é a diferença que fazemos para a qualidade de vida de quem precisa de ajuda. Alguns exigem apoio intensivo - se cobrássemos pelos serviços, os valores chegariam a milhares de libras - e a diferença que conseguimos fazer é enorme. Em alguns casos, devolve realmente a muitas pessoas com deficiência a vontade de viver.
G1 - O que precisa ser feito, na sua opinião, pela indústria dos games para incluir essas pessoas como consumidores?
Mick -
 Além de informação e suporte pessoal como descrevi acima, um de nossos serviços chave é colaborar com os desenvolvedores de software e hardware para fazer os games mais acessíveis a partir da palavra "go" (ir).
G1 - Como você se sente com a iniciativa? Compensa?
Mick - 
Como disse acima, as pessoas que avaliam a qualidade de nosso trabalho são aquelas a que tentamos mais ajudar. Às vezes toma muito tempo e esforço, mas, quando chegamos a uma solução satisfatória, para nós é uma jornada compensadora. Disse acima o que a mãe de Joe nos falou quando o ajudamos a usar o computador. Joe escreveu para nós:
"Muito obrigado por ter me ajudado a encontrar o equipamento certo para conseguir usar meu computador de novo, estava achando muito difícil fazer coisas que gosto no computador. Agora, graças a vocês, consigo fazer qualquer coisa que quiser e posso me comunicar com minha família e amigos e jogar jogos de novo. Sou muito agradecido a vocês. Muito obrigado, Joe"
Se vale a pena? Bom, não consigo pensar em um motivo melhor para levantar da cama de manhã!
FONTE:Globo.com



Beleza e deficiência não são opostos, diz criadora de agência de modelos


DO G1.COM


Kica de Castro trabalha com 80 modelos com deficiência em todo o país.

Demanda cresce, mas preconceito ainda predomina, afirma ela.


Kica de Castro em seu estúdio (Foto: Giovana Sanchez/G1)
Kica de Castro em seu estúdio
(Foto: Giovana Sanchez/G1)



"Aqui, ninguém usa Photoshop", alerta a fotógrafa Kica de Castro para quem entra em seu estúdio, no bairro do Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. "E sou muito grata à tecnologia HD, que mostrou que todos têm defeitos, ajudou a reassaltar a imperfeição". Kica tem 35 anos e há 12 anos trabalha com fotografia para deficientes. Primeiro, num centro de reabilitação, fazendo fotos de prontuários e fichas médicas. "Era tudo muito frio e eles ficavam inibidos de ter que ficar sem roupa e ser fotografados com uma plaquinha, como numa prisão."
[G1 publica, nesta quinta e sexta (1º e 2), a série 'Transformadores', que conta histórias de gente que mudou a própria vida para melhorar a realidade de outras pessoas.Conheça todos os protagonistas da série.]
Foi então que ela resolveu dar mais vida para a sala de fotos. "Fui na 25 de março e comprei tudo que você pode imaginar de quinquilharia. Aí, quando os pacientes vinham, fazia quase um editorial de moda com eles, até ficarem a vontade para a foto médica".
Kica percebeu que tudo mudou no seu trabalho, e os pacientes começaram a pedir books de moda. Vendo a demanda, ela começou a pesquisar e viu que a Europa está avançada na moda para deficientes. Após uma viagem para a Alemanha e muita pesuqisa e contatos, ela abriu, em 2007, a "agência de modelos para profissionais com alguma deficiência" que leva seu nome. Hoje ela trabalha com 80 modelos em quase todo o Brasil - menos no Acre e em Rondônia.
Em suas fotos, os aparelhos ortopédicos aparecem como acessórios. "Acho que agora as pessoas estão conseguindo enxergar que beleza e deficiência não são palavras opostas, mas ainda existe muito preconceito", diz ela. Até hoje, ela diz que a agência faz mais trabalhos para fora do Brasil.
Carolina Vieira, uma das modelos da agência de Kica (Foto: Kica de Castro/Divulgação)Carolina Vieira, uma das modelos da agência de Kica (Foto: Kica de Castro/Divulgação)

Para Priscila Menucci, modelo de 91 cm e a menor atriz brasileira reconhecida pelo Rank Brasil, trabalhar com moda foi uma mudança radical na vida. "Passei a cuidar mais do corpo, da pele e a fazer cursos como automaquiagem". E, ao ser questionada como se sente na passarela, ela é categórica: "com 1,90 m de altura, me sinto um mulherão!"
Confira a entrevista com Kica:
G1 - Como você teve essa ideia da agência?
Kica de Castro - 
Na verdade foi uma coisa muito por acaso. Sou publicitária e estava meio estressada, isso no começo de 2000. Aí, resolvi largar tudo para fazer fotografia. Comecei com os eventos sociais e corporativos, mas a partir de 2002 recebi um convite para ser chefe do setor de fotografia de um centro de reabilitação. E lá o foco era a deficiência física. Fazia os prontuários médicos, artigos científicos. Era da forma mais fria possível. Era uma sala pequena, fundo branco, e as pessoas tinham que ficar de peças íntimas ou em alguns casos nuas. As fotos eram feitas nas quatro posições globais (frente, costas e laterais), acompanhada de uma plaquinha do lado com o número do prontuário. Não tinha nenhum paciente que olhasse para aquela situação e não perguntasse 'Estou sendo fichado, é foto para presídio?'. E eu não tinha experiência, não sabia lidar com aquilo.
Passados os 3 meses de experiência, não sabia se ia aguentar, as pessoas não se comunicavam comigo, algumas choravam quando iam tirar a roupa, era muito invasivo para a autoestima do paciente. Aí tive uma conversa com uma amiga do setor de psicologia que me disse: 'faça o seu trabalho da melhor forma possível e tente se aproximar das pessoas'.
Aí, no dia seguinte fui na Rua 25 de Março (via mais importante de comércio popular de São Paulo) e com R$ 120 fiz a festa. Comprei tudo o que você pode imaginar em quinquilharia, bugiganga, revistas masculinas e femininas de moda. Na segunda-feira cheguei ao trabalho e fui até barrada pelo segurança de tão grande que estava a minha sacola.
Quando os pacientes chegavam e eu pedia para eles tiarem a roupa, dizia que era uma foto para um editorial de moda e deixava tudo ali a disposição para eles se enfeitarem. As fotos mantinham o mesmo padrão científico, mas as pessoas tinham 5 minutos de contato com a vaidade delas. Então eles se maquiavam, se penteavem, se olhavam no espelho.
G1 - Eles ficavam mais a vontade?
Kica - 
Ficavam. Eles passavam pela situação de estar nu, mas não tinha mais aquele comentário de 'estou sendo fichado'. [...] E eles iam me contando a história delas, muitos tinham o sonho de serem modelos e eu incentivava eles a correr atrás do sonho. Para a minha surpresa eles começaram a me pedir books particulares. Como trabalhava na instituição e o espaço era mais acessível, eu só cobrava o preço de custo. Quando eles viam a foto revelada, eles diziam 'nossa, mas essa sou eu sem maquiagem, sem photoshop?'. Com essa produção, com essa luz, as pessoas ficavam motivadas. Elas foram atrás das agências e pra minha surpresa, todas as respostas eram negativas.
As meninas começaram a voltar com a mesma baixa autoestima. Eu dizia: 'isso não pode acontecer!' E elas me falavam que a única pessoa que acredita no potencial elas era eu. Aí, em 2005, comecei a fazer uma pesquisa que me levou para Europa. 
Cleonice Terra, modelo da agência de Kica com paralisia cerebral (Foto: Kica de Castro/Divulgação)Cleonice Terra, modelo da agência de Kica com
paralisia cerebral (Foto: Kica de Castro/Divulgação)
G1 - Eles têm iniciativas assim?
Kica - 
Têm. Na Alemanha tem o concurso 'a mais bela cadeirante'. Na França e na Inglaterra tem um reality show só para pessoas com deficiência, que é mais inclusivo. Na Alemanha, há anúncios publicitários para venda de aparelhos ortopédicos, diferente daqui, que é só um catálogo de cores.
Algumas poucas ações eram vistas aqui, mas nada na passarela, voltado pra fotografia. Era sempre essa coisa de recepção de eventos, coisas pequenas.
G1 - E aí você teve a ideia de trazer para o Brasil?
Kica -
 É. Mas tive que começar lá fora, para poder ser reconhecida aqui dentro. Tive contato com a agência na Alemanha justamente para fazer valer, colocar isso na cabeça do povo. Lá fiz pesquisa e o contato se mantém até hoje.
Em 2007, atribuí as atividades que já tinha como fotógrafa, aproveitei meu CNPJ justamente para poder colocar como Agência de Modelos para Profissionais com Alguma Deficiência. 
G1 - E como foram esses anos, de 2007 pra cá?
Kica -
 Costumo avaliar a partir de 2010. Os 3 primeiros anos foram de implantação do conceito. Ninguém sabia disso, ninguém acreditava no potencial, então exploramos bem esse lado. A partir de 2010, alguns resultados já foram surgindo nas passarelas, em editoriais de moda.
G1 - Vocês fazem trabalhos fora do Brasil também?
Kica -
 Bastante.
G1 - Mais do que aqui?
Kica - 
Sim. Principalmente as amputadas. É a visão brasileira. O brasileiro tem essa coisa de que para ser modelo tem que ser Gisele Bündchen, tem que ter 1,80 m, magra, olho verde e loira de preferência.
Priscilla Menucci, modelo de 91 cm (Foto: Giovana Sanchez/G1)Priscila Menucci, modelo de 91cm (Foto: Giovana
Sanchez/G1)
As modelos plus size hoje são uma releitura do Renascimento. Pessoas com deficiência não tiveram nenhuma referência na história da humanidade. Então você imagina, desde a década de 1960 querer implantar pessoas com deficiência no mercado da moda e você ser praticamente a única a falar do assunto o tempo todo... É complicado mudar a visão. As pessoas colocam as pessoas com deficiência na passarela, mas não na mesma proporção que as modelos contratadas. Coloca-se uma para ficar bem na foto.
Na agência temos 80 profissionais, mas as oportunidades ainda são poucas.
G1 - Como é feita a seleção?
Kica -
 O processo seletivo é feito como um processo convencional. Porque estamos falando de inclusão de mercado de trabalho, de um mecado totalmente ditador. Ou seja, ou você entra na regra do que já existe ou não dá para trabalhar com moda. O processo é feito da mesma maneira de uma modelo convencional, a pessoa passa testes, entevistas, tem que ter curso profissionalizante. É uma exigência básica da agência. A pessoa tem que estar preparada para enfrentar o mercado de trabalho.
Se você não estiver preparado para o mercado de trabalho, aqui não tem espaço para o assistencialismo. Aqui obrigo todo mundo a ter uma primeira profissão, justamente para poder manter a segunda profissão, que é ser modelo, porque infelizmente ainda são poucas as modelos que vivem de modelagem. É o que falo para as meninas: estudar e ter uma profissão que mantenha tudo.
G1 - A sua agência se mantém só com as fotos de moda? Você abandonou a fotografia de eventos que fazia?
Kica - 
Continuo. O mercado está abrindo as portas, mas ainda não está totalmente aberto. Muito pelo contrário. As pessoas estão começando a ver nosso trabalho, dão algumas oportunidades, mas ainda são poucas e precisamos correr muito.
[...] As pessoas estão vendo a inclusão na área de beleza e sensualidade de forma diferente, estão conseguindo enxergar que se pode ser profissional, que beleza e deficiência não são palavras opostas.
G1 - Vocês enfeitam os aparelhos de alguma forma?
Kica - 
Aqui os aparelhos ortopédicos são considerados assessórios de moda. Uma cadeira de rodas é como uma bolsa, uma prótese é que nem um cinto, uma muleta é como um brinco, e assim por diante. [...] Os próprios fabrincates estão investindo nisso. As cadeiras têm ficado mais leve, com um design melhor, o que ajuda a compor o look nas fotos. A pessoa olha e diz: 'nossa que modelo bonita. E é deficiente'. Antigamente era o contrário: 'olha uma deficiente... e até que é bonitinha'.

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