domingo, 8 de fevereiro de 2015

Causas psicanalíticas das Auto Agressões em Autistas

Muita gente assiste desesperado(a) seu filho ou sua filha autista se auto agredir e não consegue entender o que está acontecendo, nem porque, nem muito menos tem idéia de como evitar isto.
Hoje então vou explicar em detalhes o que acontece e porque, desta maneira pais e mães de autistas, em especial os clássicos, poderão tentar evitar estas ocorrências no Futuro.
As auto agressões elas são provocadas por outras pessoas, não são parte do autismo e nem fazem parte do autismo. Elas são provocadas por um lidar equivocado e /ou inadequado com o Autista, como rejeições, não-aceitações, bullying, agressões, traumas psicológicos graves, mágoas sentimentos de incompreensão e/ou injustiça, especialmente se estas coisas forem frequentes, sistemáticas. Como muitas vezes o autista imaturo sabe que quem o agride, incompreende, é injusto com ele, é mais forte/poderoso do que ele e ele acha que não deve expressar o que sente com medo de uma reação ainda mais negativa destas pessoas, ele se auto reprime para se defender. Só que isto vai se acumulando com o tempo e se estes eventos forem se acumulando, uma hora ele não aguenta mais e ai ou ele reage agredindo a quem o provoca, humilha, agride, não compreende, é injusto com ele, etc., ou, se o medo da reação das outras pessoas for maior do que a mágoa, o Juiz Interior dele vai julgar que ele falhou em ser capaz de reagir e se expressar , e consequentemente o Ditador Interior vai cumprir a sentença do juiz, que é punir o autista por sua falha fazendo-o agredir a si mesmo. Portanto, não é o Autismo, não faz parte dele e sim provocado por outras pessoas sem saber em alguns casos ou de propósito em outros.
Ficou vago ainda? Então vamos dar exemplos e esmiuçar em detalhes!
O Autista vê o Mundo, a Realidade, de dentro do seu Mundo Interno de Fantasia, da seguinte maneira: ele espia lá fora e tudo o que está fora lhe parece gigantesco, ameaçador, e pior, imprevisível. E porque a previsibilidade é importante para ele?
Porque, como é ele quem constrói seu próprio Mundo, cria seus próprios personagens e dá a eles a personalidade que ele quiser, e como é ele quem cria suas próprias regras e dá as ordens, e faz e desfaz regras de acordo com sua própria vontade, tudo é, portanto, previsível no Mundo dele, por que tudo está sob o controle dele.
Mas a Realidade não funciona assim, e ao conviver na Realidade e perceber esta imprevisibilidade humana, ele se assusta.
Repentinamente todas as pessoas são potencialmente agressivas, hostis, perigosas e não se tem a mínima idéia da reação que tiverem ‘as suas ações.
Quando esta agressividade da Realidade se concretiza, seja no bullying, nos gritos das pessoas com ele, nas broncas de teor humilhante (podem até nem ser, na maioria das vezes realmente nem são, mas ele as sente como humilhantes). Numa acusação injusta, nas gozações e pilhérias, de pessoas que o fazem de bobo, aí o autista passa a ter certeza de que suas suspeitas são reais, o que o aterroriza. Se estas provocações e/ou agressões se repetem sistematicamente, diariamente, os traumas psicológicos, o sentimento de rejeição, inferioridade, injustiça, incompreensão vão se acumulando com o tempo.
Para os pais ou outras pessoas que o rodeiam, este processo pode parecer ser invisível ou para eles nem existir, por que o autista aparentemente não se expressa, mostrando claramente o que está sentindo e o que está se passando com ele. Muitas vezes ele inclusive esconde estas coisas dos pais, pois está inseguro e considera a reação deles desconhecida, imprevisível, portanto temerária. E é muito comum “a ficha demorar a cair” e ele mesmo demorar horas, dias, semanas, meses para se auto conscientizar do que aconteceu, mas que há muito seu inconsciente já processou e foi acumulando.
Mas há um limite para este acúmulo e quando ele é atingido, isto pode ser externado por meio do Meltdown, ou seja, uma explosão de fúria cega atingindo aquém quer que seja que estiver na frente, ou na forma da Auto agressão.
Quando um autista chega ao ponto de se auto agredir, podem ter certeza, há por trás do gesto uma cadeia de eventos provocados por outras pessoas que vem se acumulando á meses, anos ou até décadas.
Este acúmulo é especialmente dramático para os autistas clássicos ainda não verbais. Ocorre que, ele já tinha deixado de falar por conta de traumas, rejeições, agressões, gozações, incompreensões, injustiças, segregações, ou seja por conta das consequências da imprevisibilidade humana, portanto ele já está inseguro e desconfiado, já esperando de antemão o pior das pessoas, com sentimento de inferioridade o levando ‘a auto piedade, angústia e depressão, fazendo com que ele se auto reprima ainda mais e proíba a si mesmo de falar. Só que a vida continua, e quando ele não consegue se expressar de outras formas não verbais adequadamente ou as pessoas não conseguem interpretar corretamente seus sinais ou entender o que ele quer dizer através de seus gestos e atitudes, ele se sente incompreendido. E o que ele interpreta como incompreensão passa a ser considerado por ele uma forma de agressão(embora não seja , na realidade), e se os pais, professores, colegas, vizinhos, irmãos, parentes, etc., não conseguem captar sua mensagem (que de fato ‘as vezes é dificílima de ser interpretada corretamente, posto que cheia de simbolismos, mensagens subliminares, sutilezas e muitas vezes são extremamente sutis) e o “punem” com ordens, broncas ou contestações/contrariedades, ele se sente incompreendido, frustrado e se culpa, principalmente por se auto reprimir e não se deixar falar. Esta auto repressão , se estes fatos se repetem com frequência, o podem levar a uma explosão, ou, numa auto repressão extrema (de temor das pessoas, mas também como uma mensagem de socorro, para que as pessoas , no ponto de vista dele “o percebam”, “percebam que ele existe”), ele se auto- agride, pois sua insegurança e temor da imprevisibilidade da reação das pessoas já chegou a um ponto tal que ele não vê outra saída a não ser se auto –agredir, já que ele não tem coragem de agredir quem o incompreende, por receio de reações ainda mais agressivas das pessoas para com ele.
Isto sem falar que, durante este tempo todo, Juiz e Ditador Interiores ficaram pressionando-o, acusando-o de ser incapaz de reagir, de provar sua inocência, de se fazer compreendido, de não se comunicar adequadamente, enfim, chamando-o de falho, incompetente, condenando-o e ordenando que ele se puna a si mesmo por suas “falhas” agredindo a si mesmo.
Então, como evitar que tudo isto aconteça no futuro?
Em primeiro lugar, ter, na frente dele, em todas as situações que se repitam, reações previsíveis, sempre as mesmas, de preferência positivas. E nunca fazer brincadeiras imprevisíveis com ele, como, por exemplo, dar sustos nele de repente brincando, isto costuma ter consequências muito sérias para ele mais tarde.
Segundo, tomar muito cuidado com o que se fala, pois como se sabe, para o autista, pequenos gestos tem grandes significados e muita coisa que a maioria das pessoas considera que não machuca, não magoa a ninguém, ao autista machuca. Muita coisa que as pessoas em geral acham que não é nada de mais, coisinha à toa, pode traumatizar um autista. E a mágoa, que leva ao sentimento de incompreensão, injustiça, baixa a auto estima, que leva ao sentimento de inferioridade, que leva ao trauma, que leva ao acúmulo de traumas, que leva ‘a explosão ou auto-agressão.
Terceiro, evitar ao máximo que outras pessoas o agridam, o humilhem e façam gozações com ele.
Por fim, e muito importante: sempre que acontecer, procurar investigar em profundidade a cadeia de acontecimentos que ocorreu antes da auto agressão e entrevistar as pessoas, e mesmo que digam que não aconteceu nada de mais, tentar conseguir um relatório detalhado dos últimos acontecimentos, seja em casa ou na escola. Lembrem-se que enquanto a fonte de agressões e/ou provocações não parar ou for eliminada, o problema continuará. Se as auto-agressões são frequentes, é porque os fatos psicanalíticos externos que as provocaram continuam e são igualmente frequentes.
Concluindo, o recomendado é submeter o autista a um acompanhamento psicanalítico o quanto antes, para que as causas psicanalíticas sejam enfrentadas e corrigidas. Mas não só ele: se os pais não tiverem o equilíbrio emocional e paciência necessários para lidar com filhos autistas, eles também devem procurar um psicólogo para trabalhar isto e terem uma estrutura psicológica robusta e adequada para lidarem melhor com seus filhos.
É muito importante as pessoas não transferirem , ou não descontarem aos e nos autistas, suas neuroses, ansiedades, inseguranças , stress , frustrações e angústias ,depressões e etc., tudo isto o autista percebe nas pessoas (e muitas vezes não expressa que sabe) e o afeta, aumentando ainda mais as suas pressões externas, e leva a um julgamento inadequado, incompreensivo ou mesmo equivocado, do comportamento do autista, levando a atitudes equivocadas e injustas, erros de interpretação do que o autista quer ou quer expressar, que podem levar ele ao sentimento de injustiça, que tem as consequências já descritas aqui. Uma auto avaliação das pessoas que lidam com o autista, se elas estão fazendo estas coisas com ele ou não, sem ao menos perceberem (o que é muito comum) é muito importante de ser feita e corrigir isto e/ou mesmo ir a um psicólogo trabalhar estas coisas para não mais se repetirem, podem evitar muitos surtos e/ou auto agressões do autista no futuro, prevenir é sempre o melhor!
Cristiano Camargo

Sobre os tipos de Autismo



Sobre os tipos de Autismo

Vira e mexe, muita gente me pergunta sobre os diferentes tipos de Autismo e quais as diferenças entre eles.
Então vou colocar aqui uma brevíssima descrição dos principais tipos, mais comuns*:
*(a ilustração que acompanha o texto também só mostra os tipos mais comuns)...

Tipos de Autismo:

Os principais tipos de Autismo são:

Clássico: o tipo mais comum.No autismo clássico, verifica-se em um número expressivo de casos, a presença das ocorrências coincidentes( também chamadas comumente de “comorbidades”,falarei sobre este assunto mais para a frente),que são transitórias e temporárias, todas superáveis.Na questão da verbalidade, os clássicos geralmente começam a falar na mesma idade que as crianças não- autistas( em vários casos podem começar depois) e depois de um certo(e variável) tempo, param de falar temporariamente, mas depois de certo tempo (muito variável, podendo ir de meses a algumas décadas, conforme o caso)voltam a falar fluentemente.

Alto Desempenho: Os autistas de Alto Desempenham diferem dos Clássicos apenas na incidência bem maior de casos de QI elevado ou acima da média.

SAVANT: Os Autistas do tipo SAVANT, diferem dos demais pelo talento fabuloso e espetacular para uma área muito específica do conhecimento ou a prática de uma forma de arte, com uma inteligência que beira, ou em alguns casos ultrapassa a barreira da genialidade no assunto específico que gostam e em que se especializaram.De resto, em nada diferem dos Clássicos.

Asperger: Os Autistas tipo Asperger são em muita coisa parecidos com os de Alto Desempenho:geralmente tem QI pouco acima da média, e em alguns casos , muito acima ou mesmo atingem a genialidade(em bem poucos casos,é bom frisar).Porém diferem de todos os outros tipos por geralmente não apresentarem ocorrências coincidentes e na questão da verbalidade: a maioria dos Aspergers (ou Aspies, como também gostam de serem chamados) geralmente costumam aprender a falar em idades variadas, desde a mesma idade de crianças não-autistas até quatro ou cinco anos de idade, raramente começam a falar depois desta idade, mas alguns casos assim existem também.A maioria costuma falar por volta de até os quatro ou cinco anos de idade.Só que os Aspergers,assim que aprendem e começam a falar fluentemente, diferentemente dos outros tipos, nunca mais param de falar, a verbalidade, uma vez iniciada ,é para sempre.

Lembrando sempre que os tipos que fazem parte do leque do Autismo não concorrem entre si, nem tem uma hierarquia entre si ,qualitativa ou de qualquer outro tipo,não sendo cabível nenhuma comparação entre eles.Nenhum tipo é melhor ou superior, ou pior ou inferior que o outro, são apenas diferentes entre si.

Cristiano Camargo