Consequências
A paralisia cerebral é resultante de uma lesão ocorrida nas áreas motoras do
sistema nervoso, afetando o comando do cérebro.
A condição pode ocorrer em algumas áreas do cérebro, como o cerebelo, caso em
que o equilíbrio é prejudicado; ou no sistema piramidal, quando ocorre o tipo
mais comum de paralisia, e a mobilidade voluntária da pessoa é afetada.
Em ambos os casos, as consequências físicas refletem-se em
dificuldades sociais e psicológicas, tanto para o paciente quanto para sua família.
Pesquisas da USP (Universidade de São Paulo) indicam caminhos possíveis para
lidar com a questão.
Causas da paralisia cerebral
A neurologista infantil Clarissa Bueno explica que, além das diferentes áreas
do cérebro, a doença também pode ser provocada por diversos motivos, que incluem
asfixia, hemorragia intracraniana, má-formação fetal e infecções.
Segundo ela, as causas também influem na gravidade das malformações físicas
dos pacientes.
"No caso de hemorragias, as partes mais afetadas são os membros inferiores.
Em casos de asfixia, o comprometimento costuma ser nos quatro membros e
eventualmente na área de cognição", explica a médica.
A reabilitação dos pacientes, baseada em fisioterapia, fonoaudiologia e
terapia ocupacional - para o treinamento de movimentos rotineiros - consegue, em
casos menos graves, bons resultados.
"No caso de paralisias hemorrágicas, é possível que o paciente volte até
mesmo a andar". Em alguns casos, é necessário aplicar relaxantes musculares,
assim como toxinas botulínicas, para facilitar o movimento muscular nas áreas
atingidas.
Visando diminuir os riscos de paralisia nos recém-nascidos - que no
Brasil atinge hoje cerca de atinge cerca de 10 em cada 100 mil crianças - a
neurologista ressalta a necessidade de manter um maior acompanhamento da saúde da gestante.
"Os exames de rotina, estudos da condição de saúde da gestante e o pré-natal
são indispensáveis, além da existência de boas condições para o parto", declara
Clarissa.
Inclusão social e escolar
A paralisia cerebral vai além dos problemas físicos e cognitivos. A criança
portadora da doença, ao crescer, enfrenta dificuldades diárias para interagir
com os colegas e frequentar escolas de educação regular, já que muitas não estão
preparadas para recebê-las de uma forma inclusiva.
Ticiana Melo de Sá Roriz, terapeuta ocupacional e especialista em
desenvolvimento infantil, aponta que as dificuldades são verificadas em dois
aspectos: ambientais/arquitetônicos e atitudinais.
O primeiro caso diz respeito à estrutura física. "Devemos repensar sobre a
própria estrutura como nossa sociedade se organiza em termos de acessibilidade,
muitas vezes ineficaz ou inexiste", comenta.
O segundo fator baseia-se na atitude e no comportamento da escola e da
própria família. "Muitas vezes a família acaba optando, mesmo inconscientemente,
pela superproteção, impedindo a criança de circular nos diversos espaços
sociais", aponta.
Para que a inclusão realmente ocorra, Ticiana acredita que o primeiro e
principal passo é acreditar que a inclusão é possível. "A inclusão não pode ser
assegurada apenas pela vontade de um ou outro professor. A escola tem que ser
inclusiva".
Para a terapeuta, a escola deve se preparar tanto na eliminação de barreiras
arquitetônicas, aquisição de recursos de adaptação e acessibilidade, quanto na
formação continuada de professores e funcionários.
Sobrecarga nas famílias
Não é somente a criança com paralisia cerebral que passa por dificuldades.
Sua família também é impactada por essa situação, sofrendo grandes mudanças nos
hábitos de vida.
Foi a partir dessa constatação que a pesquisadora e fisioterapeuta Manuela
Oliveira Santos Rosset procurou identificar e descrever a sobrecarga a que estão
submetidas essas famílias.
"A doença requer que os familiares do paciente passem a colocar as
suas próprias necessidades e desejos em segundo plano, vivenciando mudanças no
estilo de vida e podendo sofrer dos mesmos problemas que a
criança", afirma Rosset.
Ela identificou como principais dificuldades a possível demora da aceitação
do diagnóstico pelos pais, a falta de comunicação entre estes e os profissionais
de saúde e a falta de acesso aos serviços destinados ao atendimento - o que pode
estar relacionado com o perfil socioeconômico da família.
"A classe social afeta o modo pelo qual os membros da família organizam sua
vida diária e como enfrentam os desafios e crises. A maioria dos familiares
ressalta que a condição financeira é essencial no tratamento da criança, pois a
família com renda mensal mais baixa enfrenta problemas maiores", comenta.
Assim, a pesquisadora concluiu que as famílias devem ser orientadas
pelos profissionais de saúde, de modo que a sobrecarga possa ser minimizada,
ressaltando também a importância da figura do "cuidador" - uma pessoa que possa
aliar o conhecimento do especialista com a prática cotidiana. "Quando a criança faz parte de uma unidade
familiar, o profissional deve programar o tratamento, visando a beneficiar tanto
a criança como sua família", completa.
http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=paralisia-cerebral&id=7872