
Um menino autista de 10 anos virou o contador de histórias de sua classe em uma escola municipal de Itanhaém, no litoral de São Paulo. Diego Escada Louzada apresentou, desde pequeno, as características do transtorno, mas a convivência com outras pessoas na escola lhe trouxe mais conhecimento do mundo e de si. O jeito inibido, característico do autismo, é pouco perceptível em Diego enquanto ele brinca de contar histórias para a turma e é aplaudido pelas outras crianças. O que poderia ser considerado um desafio para qualquer autista, é um prazer para ele.

escola do menino (Foto: Mariane Rossi/G1)

(Foto: Divulgação/Prefeitura de Itanhaém)
Segundo o Ministério da Saúde, o autismo é considerado uma síndrome neuropsiquiátrica. Embora seja uma etiologia específica que não tenha sido identificada, estudos sugerem a presença de alguns fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados ao autismo. Diversos sinais e sintomas podem estar ou não presentes, mas as características de isolamento e imutabilidade de condutas estão sempre presentes. Tatiana diz que a notícia foi um baque para ela e a família. “Você se questiona muito. Até entrei em uma depressão. Depois, li muito sobre o assunto e comecei a entender e foi fluindo. Hoje eu trato ele como uma criança normal”, fala. Após o diagnóstico, Diego iniciou o tratamento com fonoaudióloga, pedagoga e neuropsicóloga.
Tatiana e o Diego saíram de Santos, onde moravam com o pai do garoto, e foram viver em Itanhaém. Mesmo com o transtorno, Diego foi matriculado na escola municipal Maria Graciette Dias, pelo sistema de inclusão. “O Diego é um autista. Todos os autistas têm direito a um estagiário. Eles são estudantes e ficam com essas crianças de inclusão. Na nossa escola, a gente tem uma média de 13 crianças especiais.”, explica a diretora Rita de Cássia Brandão Gouvêa.
A professora Marlene Carraro Mucsi, de 50 anos, diz que Diego chegou na escola muito arredio e não gostava muito de ter contato com as pessoas. Ela só acompanhava o menino de longe, mas, neste ano, começou a dar aulas para Diego. “Já tinha trabalhado com outras deficiências, mas com autismo foi a primeira vez”, diz. A professora foi aprendendo a lidar com o menino no dia a dia. “O grau do autismo dele é leve, não há necessidade de trabalhar atividades diferenciadas com ele, o que precisamos é respeitar o tempo. A gente conhece outros autistas que são agressivos, inquietos, não param sentados em sala de aula. Não é o caso dele”, explica a professora. Ela ressalta que Diego acompanha as lições na classe do 5º ano como qualquer outro aluno. Segundo Marlene, o menino lê muito bem, é alfabético, consegue fazer contas e resolver os problemas de matemática.

(Foto: Mariane Rossi/G1)
Na sala de aula, ele coloca os desenhos na lousa digital e vira um contador de histórias, interpretando os personagens. “Eu faço a narradora e ele o Mickey. Na verdade, ele não lê a história, ele decora as falas. De vez em quando, é no início da aula, às vezes, é no final”, explica a professora. Do outro lado da sala, estão diversos outros alunos com a mesma idade de Diego. Eles riem com a interpretação do menino, entendem a história e, no final, batem palmas pela apresentação do colega de classe. “Para ele é bom. A questão de ele desenhar bem também motiva as outras crianças a quererem desenhar como ele. Já cria um convívio, uma proximidade”, diz a mãe do menino.

Já Diego mostra orgulhoso os desenhos do Mickey, expostos em um painel que foi colocado em um dos corredores da escola. Para a mãe, o futuro do filho sempre estará ligado ao mundo da animação. “Ele fala que quer trabalhar na parte de animação de estúdios. Eu acho que é o que ele vai acabar seguindo”, diz Tatiana.
