terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lídio Filho é o primeiro médico a operar de uma cadeira de rodas

Em uma tentativa de assalto, pouco antes do Réveillon de 2007, ele levou quatro tiros e ficou paraplégico.



Ele tem sérios problemas de saúde, mas escolheu seguir na profissão. E agora faz história... Operando em uma cadeira de rodas.



Deu pra ouvir só o primeiro tiro. Eu apaguei e nada mais.

‘’Eu apaguei. Porque uma nove milímetros com uma distância de menos de um metro é como se fosse um coice, né?” ”, conta Lídio Toledo Filho.

Foi no último dia de 2007. Em uma tentativa de assalto, pouco antes do Réveillon, o Doutor Lídio Toledo Filho levou quatro tiros. Por sorte o socorro chegou rápido.

“Foi o que salvou realmente a vida dele. Ele não fez nenhum exame pré-operatório. Passou direto para o centro cirúrgico”, relembra o pai, Lídio Toledo.

“Eu tive duas paradas cardíacas. Dentro do centro cirúrgico. Na verdade eu morri duas vezes”, conta Lídio Toledo Filho.

Só quando acordou, dezenove dias depois, é que ele ficou sabendo que estava paraplégico.

“Quando a ficha caiu, dentro do CTI, eu fiquei bem arrasado”, diz Lídio Filho.

Foi um choque. A família ainda tentava entender. Mas o Doutor Lídio não.

“Não estou querendo entender, estou querendo é trabalhar, estou querendo correr atrás. Não estou aqui pra entender. não é pra entender”, relembra.

O pedido inesperado foi feito à mãe.

“Quando ele disse pra mim que queria trabalhar, eu disse: eu te levo! Foi no dia 28 de agosto de 2008. Tinha oito meses, ainda não tinha feito nove meses do que aconteceu”, conta Eliete Cappelli Toledo de Araújo, a mãe.

Uma intensa rotina de exames no consultório de ortopedia. O pai, Lídio Toledo, ex-médico da seleção brasileira de futebol, enche-se de orgulho: “Tem muito paciente. Mais do que eu!”.

Mas voltar ao consultório ainda parecia pouco. Sentindo-se na prisão do próprio corpo, Lídio Filho queria mais.

“Lídio, você é feliz? Não, não estou feliz assim. Estou buscando a minha felicidade”, afirma.

E, para um médico ortopedista, poder operar de novo talvez fosse um atalho para a felicidade.

Fantástico - O senhor esperava que ele pudesse fazer isso ou chegou um momento em que o senhor achou que não?

Lídio Toledo - Não, no início eu pensei que não. Devido à paralisia do nervo radial, porque ele tinha uma mão caída.

Mas o nervo da mão, atingido por um dos tiros, foi restaurado numa cirurgia. E o Doutor Lídio Filho botou na cabeça que tinha de retribuir de alguma forma.

“Se disser: você aceita isso que aconteceu contigo? Não! Por isso que eu estou me ligando pra melhorar. Sou muito teimoso? Sou! Graças a deus sou teimoso”, fala Lídio Filho.

Contrariando todas as previsões, inclusive as mais otimistas, o Doutor Lídio não só retomou a sua rotina normal de trabalho como se tornou o único médico do Brasil que opera de uma cadeira de rodas. De 2008 pra cá ele esteve à frente de 130 cirurgias.

O Fantástico vai acompanhar mais uma delas.

A preparação é a mesma de qualquer outra cirurgia. A diferença é que a cadeira de rodas fica encostada na mesa, na altura ideal para que o médico faça a incisão e todos os outros procedimentos.

É uma operação de joelho, a especialidade dele.

Fantástico - Em que momento você teve certeza de que ia poder voltar a operar?

Lídio Filho - A partir da primeira cirurgia. Graças a Deus ficou perfeito. No transcorrer da cirurgia, eu vi que estava totalmente apto pra trabalhar.

Fantástico – O que você pensa em quê no momento que está operando?

Lídio Filho - Ah, fico totalmente concentrado na cirurgia. E durante a cirurgia, no meu caso, eu esqueço completamente que eu sou paraplégico. Não passa pela minha cabeça.

Uma profissão tão envolvente às vezes rouba o tempo da fisioterapia que ele deveria fazer.

“A gente ouve muito falar que a medicina é um sacerdócio. Mas eu vou te dizer: é mesmo!”, diz Lídio Filho.

Mas o Doutor Lídio não se queixa. Cada osso que ele restaura, cada tendão que ele recompõe lhe dão a certeza de que sua busca está mais do que certa.

“Não desistam do seu desejo, não desistam das suas ambições. Não é fácil, mas tem que perseverar. Por mais que tenha sido difícil o período que você atravessou, mas você não pode abrir mão do seu legado, da sua obra, do seu trabalho, daquilo que te faz feliz. E correr sempre atrás do que você deseja”, ensina Lídio Toledo Filho.



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