terça-feira, 7 de junho de 2011

Apenas 6,6% dos asilos do País são públicos



Apenas 6,6% dos asilos do País são públicos
Apesar do crescimento da população idosa, Brasil oferece poucas alternativas para
cuidar dessas pessoas

Clarissa Thomé / RIO - O Estado de S.Paulo

A população idosa é a que mais cresce no Brasil, mas há poucas alternativas para cuidar dessas pessoas quando começam a perder a independência. A maioria das instituições brasileiras é filantrópica (65,2%). As particulares correspondem a 28,2% e as públicas, a apenas 6,6%.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez o primeiro censo de abrigos e asilos do País - instituições de longa permanência para idosos (Ilpi), no jargão técnico. Descobriu que só 0,5% da população com mais de 60 anos está em uma das 3.548 instituições brasileiras. Mais de dois terços dos municípios não têm abrigo para idosos.
"É má notícia. Põe sobre a família a responsabilidade de cuidar de seu idoso dependente, sem levar em conta se isso é possível", diz a demógrafa Ana Amélia Camarano, coordenadora de População e Cidadania da Diretoria de Estudos Sociais do Ipea.
Ela ressalta que a situação não leva em conta as mudanças na família. Hoje, a mulher, a principal cuidadora, participa do mercado de trabalho. Além disso, múltiplos casamentos acabam por enfraquecer laços familiares. "Quem tem muita sogra não cuida de nenhuma."
O estudo mostra que houve crescimento acentuado do número de abrigos e asilos - enquanto nos anos de 1940 e 1950, aproximadamente 20 instituições eram abertas anualmente, na primeira década dos anos 2000 esse número passou para 90. Um terço (1.047) se identifica como lares e tenta reproduzir a vida em família, diz Ana.
Ela reconhece que "nenhum país" tem como oferecer abrigo a toda a sua população idosa dependente, mas defende investimento dos governos no cuidado domiciliar formal. "É preciso oferecer uma rede de cuidados para a população idosa: garantir benefício monetário para o cuidador familiar, a inclusão desse cuidador no sistema de seguridade social, a oferta de centros-dia, nos quais o idoso tenha atividades."
O governo federal tem apenas um abrigo, o Cristo Redentor, em Benfica, no Rio. Ali, entre os 280 residentes está Carlos Bastos, de 73 anos. Na juventude, viajou pela Europa como integrante da Força Internacional de Paz, da ONU. Foi representante comercial de fornecedoras de peças para perfuração de petróleo. Aos 61 anos, aposentou-se e foi viver no abrigo. "O idoso pobre não tem dias felizes. Onde ele está, no abrigo ou em casa, quer ser tratado com alegria, com dignidade, sentir o beijo de um neto", afirma.
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Fonte: O Estado de S.Paulo