quarta-feira, 25 de março de 2015

Sem carro e sem asfalto, mãe de três cadeirantes sofre para tirá-los de casa

Família mora em rua íngreme, cheia de buracos e pedras, no norte do PR.
Para transportar os filhos, mãe enfrenta ladeira e barro a pé, 'no braço'.

Erick GimenesDo G1 PR
Aparecida empurra a cadeira de um dos filhos, Anderson (Foto: Erick Gimenes/G1)Aparecida Mendes empurra a cadeira de um dos filhos, Anderson (Foto: Erick Gimenes/G1)












É difícil chegar ao casebre da dona de casa Aparecida Mendes, em Paiçandu, no norte do Paraná. O carro se bate todo, as rodas se enfiam em buracos enormes, a poeira vermelha sobe e sufoca. Se já é difícil de carro, imagine empurrar cadeiras de rodas neste terreno acidentado. Mãe de três adolescentes cadeirantes, Aparecida sequer tem veículo para encarar a ladeira de terra, vizinha a uma linha de trem desativada e a uma penitenciária estadual.
Para levar os meninos a algum lugar, vai a pé mesmo, "no braço". As cadeiras saem aos solavancos da casa e, com dona Aparecida na condução, brigam com as muitas pedras esparramadas pelo caminho. Não é raro quando as rodas enroscam e causam pequenos acidentes. E há um detalhe: quando um dos filhos sai, o outro tem que ficar em casa.
"Eles só conseguem sair se eu paro tudo o que eu 'tô' fazendo e empurro a cadeira. Uma de cada vez, claro. Não tem outro jeito, né? Quando temos que ir até o centro, eu subo tudo isso no braço, na força mesmo. Impossível viver aqui!", diz a dona de casa, com um sorriso sem graça.
Pedro, de 13 anos, Anderson, 18, e Carlos, 19, nasceram com a mesma doença nas pernas, conforme a mãe. Ela não sabe explicar o que é, com detalhes técnicos. Diz apenas que é "um problema nos nervos". Patrícia, de 16, é a única entre os filhos que consegue se locomover normalmente.
A família mora há cerca de quatro anos na casa, alugada por R$ 380 mensais. É a penúltima antes do fim da rua e do começo de um matagal. Para facilitar a saída dos rapazes, não há muros ou portão. Dentro, nenhuma porta, com exceção do banheiro, divide um cômodo do outro.
Rotina de Anderson (foto) se resume a ir à escola e voltar. (Foto: Erick Gimenes/G1)Rotina de Anderson (foto) se resume a ir à escola e voltar. (Foto: Erick Gimenes/G1)
Quando chove, ninguém sai. Quando o sol está muito forte, todo mundo sofre. A rotina dos três irmãos se resume a ir para a escola - com o ônibus que os busca em casa - e voltar. Para chegar ao centro, se necessário, é preciso enfrentar cerca de 400 metros de ladeira e barro.
O pai dos jovens trabalha em uma empresa de limpeza, em Maringá, cidade vizinha. Não tem condição de ajudar no transporte dos meninos, porque só chega em casa para jantar e dormir, segundo dona Aparecida.
Meu trabalho é limpar a casa, fazer comida e empurrar meus filhos"
Aparecida Mendes, dona de casa
"Meu trabalho é limpar a casa, fazer a comida e empurrar meus filhos. É o que faço todo dia. Infelizmente, esta foi a única casa que consegui. Estou tentando me mudar, mas não consigo nem ter tempo para ir atrás de outra. Se é o que tem, temos que viver assim".
Sem opção de o que fazer, os meninos assistem a uma televisão velha e jogam um videogame Playstation 1 praticamente o tempo todo. "É muito ruim depender dos outros. E o pior é que a gente [os irmãos] nem consegue se ajudar. Um asfalto mudaria nossa vida aqui", comenta Anderson.
Asfalto pode demorar
Não há previsão para que a rua Otávio Pelissari, onde mora a família de dona Aparecida, seja asfaltada, segundo o secretário de Obras de Paiçandu, Renato Bariani. Há dois projetos prontos para a pavimentação, mas o começo das obras depende de liberação de verba federal, diz ele.
"Já temos os projetos e as certidões prontas. Mas, não depende de nós. Temos que aguardar a liberação do dinheiro por parte do governo federal. Acreditamos que, em 60 dias, já vamos receber uma confirmação dessa verba. O processo licitatório deve começar lá para junho, julho. Agora, quando vamos conseguir, de fato, começar o asfalto? Não dá para dizer", afirma o secretário.
Ainda conforme Bariani, oito dos 67 bairros da cidade precisam atualmente de pavimentação parcial ou total – entre eles o bairro onde a família de dona Aparecida mora. O valor previsto para estas obras é de R$ 25 milhões, diz o secretário.

'Não sou a cadeira de rodas, sou um atleta', diz Fernando Fernandes

"Fiz essas fotos, entre outras coisas, para mostrar a normalidade. Mostrar a beleza. A cadeira é a cadeira. Eu não sou uma cadeira", disse nesta terça-feira (24) o tetracampeão em paracanoagem Fernando Fernandes sobre as fotos sensuais ao lado da namorada, que causaram alvoroço na internet recentemente. O romance dele é com austríaca Victoria Schwarz, também atleta da canoagem.
"A vida sexual do cadeirante mexe com a curiosidade. Mas não é só essa. O ensaio não foi no aspecto sexual, penso em quebrar os paradigmas de quem usa cadeira de rodas. Eu não sou uma cadeira de rodas, eu uso uma para me locomover. Mas não é algo fácil de mostrar. É preciso causar um impacto."
Fernando foi o entrevistado desta terça-feira da 'TV Folha' ao vivo. Quem conversou com ele foi o colunista e repórter de 'Cotidiano' Jairo Marques.
"Como atleta, me preocupo muito com isso. O atleta paraolímpico parece fazer coisas que não possíveis para ele. A mesma coisa com o ensaio, para que não confundam deficiência física com incapacidade."
Participante do "BBB 2", Fernando se tornou cadeirante após um acidente de carro em que dirigia em alta velocidade, em 2010. De lá para cá, deixou de ser modelo, criou uma ONG e tornou-se atleta. Ele refuta o termo "paraatleta". "Por acaso você é um parajornalista? Não, você é um jornalista como qualquer outro".
Para 2016, Fernando disse planeja tentar o ouro na Paraolimpíada do Rio.
ESPORTE
A respeito da Paraolímpíada, Fernandes falou sobre ser uma das principais apostas do Brasil para o ouro.
"Quando decidi que seria um atleta de paracanoeagem, a modalidade ainda não era um esporte paraolímpico. E no Brasil não tinha nenhum lesionado medular que praticasse. Então, resolvi investir minha vida nisso."
Ele conta que, quando sofreu o acidente, tinha R$ 50 mil na conta, dinheiro que guardou durante a carreira de modelo internacional. Ele resolveu apostar na canoa, em bancar sua participação em uma competição.
"Fui crescendo com a modalidade. Ano passado enfrentei o primeiro problema, que é a classificação funcional".
Os atletas com algum tipo de deficiência são separados por níveis de mobilidade para disputar categorias diferentes dentro de uma mesma mobilidade. Fernandes pertence à classe com menor mobilidade (apenas movimento nos braços)
"Tive que enfrentar, no mundial do ano passado, na Rússia, caras que andavam, mas tão fortes como eu. Tinha gente que ia sentado em uma cadeira de rodas para fingir que não andava, só para ganhar vantagem. Foi horrível", disse, ao contar que fez reclamações formais.
"Isso me desestruturou um pouco, e o jogo sujo me fez perder o prazer. Mas as coisas andaram, e vou para o Mundial deste ano [na Itália] com foco para vencer", diz, contando que, afinal a paracanoagem lhe deu a vida de volta, incluindo a namorada.
Ele relembra que 15 dias antes do acidente, ele embarcaria para abrir um desfile da Dolce & Gabana em Milão. E que, agora, ele está voltando para lá para competir, em agosto.
BBB
"Acho que me chamam de ex-BBB nas legendas porque escrever 'atleta de paracanoagem' é muito comprido", brinca. "Antes eu me incomodava, agora não ligo mais." Fernando diz que não assiste mais ao "reality show".
ONG
Ele também falou sobre a ONG que fundou, que auxilia crianças com e sem deficiência. "Eu precisava dar um retorno depois de tudo que ganhei."
"Eu abri na raça, com dinheiro do meu bolso", conta, para ensinar o esporte. Depois de um mês apareceu patrocínio financeiro, da Caixa. "Temos que criar formas de pagar salários de quem se dedica ao projeto, temos voluntários, temos apoio da Caiaque, que doa os caiaques.
AVIÃO
Sobre os entraves para viajar de avião, Fernandes diz que o despreparo é "assustador". Contou sobre o dia em que comprou uma passagem para viajar às 20h e, já na pista, ao entrar no ônibus, foi avisado que viajaria apenas as 20h45. Que foram grosseiros dizendo que não havia o equipamento necessário, e que mesmo ele tendo autorizado que o levassem no braço, isso não seria permitido.
"Logo depois, apareceram outras pessoas do aeroporto, sendo educados, pedindo desculpas, mas avisando que o outro avião já estava apto a recebê-lo. Agradeci e fui. Então, a falta de preparo e planejamento chateia", conta.
Para ele, a Paraolimpíada pode deixar esse legado, do treinamento, de um bom atendimento ao cadeirante.
"Acessibilidade é bom senso, não custa tanto. É fácil fazer uma rampa, um banheiro mais largo", afirma. "Mas não precisamos ser chatos, só cutucar. É mostrar sempre que possível."
Fernandes diz que no resto do mundo também há problemas.
"Minha namorada é austríaca. Tudo lá é acessível, menos as lojas e restaurantes!", brinca. "Podemos andar à vontade, mas não consumir. 

Em protesto, homem empurra cadeira de rodas por 6,5 mil km até o DF

Ativista quer entregar proposta sobre acessibilidade à Câmara Legislativa.
Em passeio pela Esplanada, homem enfrenta dificuldades de locomoção.

Do G1 DF









O ativista mineiro José Geraldo Castro, conhecido como Zé do Pedal, chegou a Brasília na tarde desta terça-feira (24) empurrando uma cadeira de rodas para alertar as pessoas sobre os problemas com acessibilidade. Ele começou a cruzada em 10 de fevereiro, e de Roraima até o DF percorreu 6,5 mil quilômetros. O homem disse já ter passado por 73 países defendendo a casa.
Castro anda sempre a pé com a cadeira, com a qual testa os obstáculos pelos percursos. Ele  diz que pretende entregar uma proposta de projeto de lei sobre a questão à Câmara Legislativa doDistrito Federal.
Em um passeio pela Esplanada dos Ministérios, o homem percebe as dificuldades provocadas pela falta de rampas nas calçadas em frente à Catedral Metropolitana. Uma das únicas encontradas situa-se no Ministério da Cultura. Há outras cobertas com cimento.
"Tem passeios para todo mundo usar, menos para pessoas com deficiência", diz. Castro afirma que no país, ao contrário do que ocorre na Europa, a maioria das cidades tem problemas de acessibilidade. "Aqui é tudo igual. Lá talvez tenha 1% dos problemas que temos aqui."
Os buracos são outros problemas. "Não são só as rodovias da gente que estão em estado ruim. As calçadas também."
Para Zé do Pedal, a recompensa pela jornada vem por meio declarações de pessoas que conhece. "Eu estava no México, fui fazer uma palestra na escola e após a palestra uma crianças chegou para mim e falou assim: 'Senhor Castro, obrigado por fazer isso também por mim.' Então, é isso que te motiva."