domingo, 29 de janeiro de 2012

Etiqueta on-line


Ficar o tempo todo conectado pode virar um vício e transformar o usuário em alguém mal educado
A facilidade em acessar redes sociais, e-mails e bate-papos, em qualquer lugar e a qualquer momento, por meio dos smart­­phones e tablets, está fazendo com que muitas pessoas cruzem a sutil fronteira entre a praticidade e a falta de educação.
Para evitar esse problema, e tornar os encontros reais menos conectados, começam a surgir, inclusive, alguns curiosos movimentos. É o caso do phone stacking (empilhamento de telefones), que virou febre entre os jovens nos Estados Unidos. O ritual é o seguinte: todos empilham seus celulares no centro da mesa e não podem mais tocar neles. O primeiro a cair em tentação paga a conta.
Antonio More/ Gazeta do Povo
Antonio More/ Gazeta do Povo / Ampliar image- 
Os amigos Carolina Garofani, chef de cozinha;Daniel Dall’ag­­nol, consultor de empresas; Rafael Marcondes, arquiteto; e Pedro Pontoni, videomaker toparam o desafio de testar o “phone stacking”, mas logo começaram a bater fotos e comentar as redes sociais diretamente dos celulares durante a experiên­­­cia. Ou seja, eles provaram, na prática, que está cada vez mais difícil as pessoas se desligarem de seus gadgets.
Carolina Garofani reconhece que não larga seu smartphone por muito tempo, seja para uso pessoal ou profissional, e reconheceu que já levou bronca. “No jantar de aniversário da minha irmã, ela ficou irritada comigo, chamou minha atenção porque eu não desgrudava do iPhone, mas eu precisava esperar um e-mail, era realmente trabalho”, justifica. Ela entende que o hábito pode ser mal educado em muitos momentos, e, quando sente o excesso em outras pessoas também não hesita em chamar a atenção. “Tenho muitos amigos viciados, mas eu peço, sim, para a pessoa desligar, parar de mexer no celular e falar comigo”, conta.
“Hoje em dia é difícil eu ligar para alguém ou atender um chamado. Eu uso mesmo o meu smartphone para escrever em redes sociais e falar pelos aplicativos de mensagem e bate-papo, pois você consegue fazer outras coisas ao mesmo tempo”, conta Pedro Pontoni. Daniel Dall’agnol, por outro lado, justifica sua superconexão, afirmando que as redes ajudam a aproximar as pessoas. “Com as mensagens que você compartilha, todo mundo fica sabendo das suas coisas. É bom contar o que está acontecendo para quem não estão lá com você”. Depois de admitirem os próprios vícios, os jovens concordam que tem muita gente mal educada no uso dessastecnologias.
Gehad Hajar, pesquisador em Ciências Políticas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já sofreu na pele uma situação para lá de constrangedora, por causa de smartphones e seus donos sem educação. “Em uma palestra sobre a questão palestina, com um conteúdo bastante pesado, percebi logo a minha frente várias pessoas com seus celulares dando risadinhas. Tive que interromper minha fala e pedir que desligassem os aparelhos. Mesmo assim, alguns não o fizeram”, conta.
Mesmo com a situação embaraçosa, Hajar não é contra as novas tecnologias, pois ele mesmo afirma que não desgruda do seu smartphone. “Faço transações bancárias e checo meus e-mails pelo iPhone, acho que não vivo mais sem ele. Só que eu consigo separar as coisas e saber o momento em que ele deve ficar desligado”. Mas nem todo mundo tem esse autocontrole e situações grosseiras, como em restaurantes,cinemas e outros espetáculos, continuam acontecendo.
“Acredito que há um certo deslumbramento das pessoas que estão utilizando essas tecnologias e que, muitas vezes, não conhecem as ferramentas e suas consequências”, avalia a consultora de etiqueta Tete da Silva. Ela defende, inclusive, que as pessoas incomodadas com a falta de educação dos superconectados não pensem duas vezes em dizer o que pensam. “Temos que falar quando algo nos incomoda, claro que sempre educadamente”, acrescenta Mário Ameni, consultor de eventos e cerimonial.
Vício moderno
Mais do que uma distração, o hábito de checar e-mails e atualizações das redes é um sintoma do pensamento fragmentado da era moderna, avalia a pedagoga Danielle Louren­­­ço, que estuda a tecnologia e seus reflexos na sociedade. “A capacidade de concentração das pessoas hoje é muito pequena. Vivemos um momento de reconstrução, de tentar observar quando esse hábito se torna um transtorno”, salienta a especialista. Ela faz ainda um paralelo entre a superconexão com outros vícios, pois muitas pessoas, na ausência da internet, sofrem da síndrome de abstinência.
Foi o que aconteceu com um grupo de amigos do arquiteto Rafael Marcondes, na viagem para a praia na virada do ano. “Logo que chegamos lá não tinha sinal, nenhum celular estava funcionando, foi um verdadeiro pânico para todos. Só depois do terceiro dia é que nos acostumamos com a situação e aproveitamos”, conta.
Tonio Dorrenbach Luna, psicólogo e consultor em relações humanas, afirma que as inovações tecnológicas possibilitam proximidade e velocidade, mas também favorecem alguns transtornos. “Hoje existe gente ansiosa porque não recebeu “curtir” no Facebook. Isso mostra que as relações de dependência se transferiram muito para a tecnologia”.
Social: Desligar o celular é básico
A luz que vem da tela dos celulares pode ser incômoda em muitas situações. E o pior: há quem insista em atualizar as redes sociais no cinema, no teatro ou em pleno show. “Desligar o celular é a regra básica da etiqueta. Não podemos atender a celulares ou usar tablets e smartphones diante de um convidado”, afirma Mario Ameni, consultor de eventos e cerimonial. Por outro lado, a ansiedade em checar as redes sociais pode acabar estragando um encontro com amigos. “Você deve ficar o máximo de tempo presente com aquela pessoa. Ficar no celular mostra que outras coisas são mais importantes do que ela e isso é uma grande grosseria”, alerta Tonio Dorrenbach Luna, psicólogo e consultor em relações humanas.
Trabalho: Não misture vida pessoal e profissional
Há uma verdadeira polêmica dentro das empresas sobre a liberação ou o bloqueio de sites, e-mails, blogse redes sociais. Perda de tempo e improdutividade são alguns argumentos pelo bloqueio, mas a interação e atualização também ganham peso. Mesmo que as redes sociais e outros sites sejam liberados no ambiente profissional, é preciso acessar esses canais com moderação, pois, com alguns cliques, é possível perder horas de trabalho, alerta a headhunter Rosanne Martins. Adicionar colegas de trabalho às redes é outro ponto polêmico e é preciso ponderar se você realmente quer compartilhar suas atualizações com pessoas que não são necessariamente íntimas. Uma vez adicionado, o conteúdo enviado a eles também deve ser pensado com cuidado. Piadas e comentários sobre outros colegas estão proibidos.
E-mails: Correspondência eficaz
Nada mais chato do que receber aquelas mensagens e correntes de e-mail que são repassadas para muitas pessoas. Pior, só se a mensagem vier daquele colega de trabalho. “Você precisa ter isso bem separado. Hoje há muitos e-mails gratuitos, então você pode ter contas distintas para cada assunto, pois é fundamental separar o que é trabalho do que é pessoal”, orienta a head­­­­hunter Rosanne Martins. Na hora de enviar um e-mail para vários destinatários, inclua-os no campo “Com Cópia Oculta”, assim você não expõe o endereço dos seus amigos a estranhos. Repassar automaticamente protestos, correntes e piadas é de mau gosto. Evite fazer isso, mas, se julgar necessário, acrescente seu comentário pessoal ao e-mail e o porque de estar enviando para determinada pessoa.
Redes sociais: Cuidado com a publicação de intimidades
Dentro das redes sociais, há todo tipo de pessoas: que postam fotos e vídeos, que compartilhamnotícias, que falam do seu dia a dia e ainda as que ficam só de olho nas publicações alheias. “É preciso ter a noção de que tudo que se escreve numa rede social torna-se público”, alerta a head­­­­hunter Rosanne Martins, da consultoria De Bernt Entschev Human Capital. E ela lembra: é comum, em entrevistas de emprego e recrutamento, os avaliadores fazerem uma busca sobre o que a pessoa publica e divulga nas redes. Por isso, é importante focar em conteúdos relevantes e interessantes para todos. Expor demais sua intimidade e de sua família, como fotos da casa e de viagens, pode até gerar situações de risco. “Algumas configurações permitem compartilhar conteúdos com grupos específicos, assim você não expõe sua intimidade”, lembra a pedagoga Danielle Lourenço.
FONTES: GAZETA DO POVO