domingo, 24 de março de 2013

Por dentro do cérebro


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Responsável por curso de formação em Neuroeducação, Alfred Sholl-Franco defende interação entre neurociência, ciências cognitivas e educação como forma de melhorar o aprendizado. Foto: Dario de Dominicis
Duas vezes por ano, turmas de educadores se reúnem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para aprender conceitos oriundos da neurociência e das ciências cognitivas. O objetivo do curso, segundo o coordenador Alfred Sholl-Franco, é discutir como esses conhecimentos multidisciplinares podem ajudar a compreender melhor os processos de ensino-aprendizagem que acontecem na sala de aula. Doutor em Ciências Biológicas, Sholl-Franco, 41 anos, é também coordenador do Núcleo de Divulgação Científica e Ensino de Neurociência,Ciências e Cognição (CeC-NuDCEN) da UFRJ, responsável pela promoção do curso de formação continuada em Neuroeducação.
A Carta Fundamental, o especialista conta o que é neuroeducação, alerta para as deturpações no campo e explica como os conhecimentos em neurociência se relacionam com as teorias educacionais tradicionais.
Carta Fundamental: O que é neuroeducação?
Alfred Sholl-Franco: A neuroeducação é uma área de estudo que trabalha com a interação entre a ciência cognitiva, a neurociência e a educação. Desde 2004, a sociedade internacional, que é chamada de International Mind, Brain, and Education Society (Imbes), tenta entender melhor como essas grandes áreas podem contribuir para melhorar a educação. O que muitos acreditam ser apenas a neurociência ajudando a educação é na verdade um trabalho conjunto, multidisciplinar, que visa promover um melhor desenvolvimento dos recursos educacionais, tanto no que diz respeito aos processos do desenvolvimento normal quanto daqueles relacionados às falhas do desenvolvimento, problemas ou patologias. Aí se incluem também quadros patológicos que afetam o ensino-aprendizagem e a própria relação aluno-ambiente, como autismo, distúrbios de aprendizagem. O interesse maior da neuroeducação é proporcionar um melhor entendimento dos processos de ensino e de aprendizagem. Conhecendo esses processos, é possível promover sua melhora e facilitar não
só o processo de aprendizagem para os alunos, mas também o processo de ensino para os docentes. É uma coisa que não deve ficar restrita à comunidade acadêmica.
CF: Então se trata de uma área nova do conhecimento?
ASF: É uma área nova, por isso também sujeita a deturpações e oportunismos. Como apresentar
uma cura para tudo ou colocar muitos comportamentos como doenças. A neuroeducação é um campo emergente e está sujeito a apropriações, esse é o grande perigo e o grande destaque que eu gostaria de fazer. Muitos estão usando esse termo neuroeducação para se aproveitar e divulgar métodos extraordinários, facilidades para aprendizado e assim por diante, o que na maior parte das vezes não é verdade.
CF: Como esse conhecimento pode ajudar um professor a trabalhar em sala de aula?
ASF: O principal ganho na convergência dos conhecimentos oriundos da área de ciências cognitivas, da neurociência e da própria educação tem sido entender melhor os processos de aprendizagem, da memória,da aquisição da linguagem e até dos ciclos biológicos, como o período de sono. O conhecimento desses fenômenos facilita uma melhor exploração do processo de ensino-aprendizagem. A aquisição de conhecimentos pelos estudantes será melhor nse quem estiver transmitindo esses conhecimentos entender como o sistema está preparado para absorvê-los. Conhecer esses processos cognitivos e físicos de desenvolvimento de crianças, jovens e adultos favorece tanto o processo de transmissão do conhecimento quanto o entendimento de como aquela mente que está recebendo as informações irá trabalhá-las.
CF: Então o conhecimento desses processos favorece o professor?
ASF: Não só o professor, mas também o coordenador pedagógico, o diretor, todos que estão relacionados com o processo de ensinoaprendizagem.O ato de aprender está relacionado às modificações no sistema nervoso decorrentes de sua exposição a novas informações e ao modo como trabalhamos o conhecimento que já possuímos, o que fazemos não apenas no ambiente escolar.
CF: De que forma os conhecimentos da neurociência e das ciências cognitivas se relacionam
com as teorias da educação?
ASF: Antigamente, todos aqueles cuja graduação estava envolvida com docência aprendiam os teóricos da educação, como Piaget e vários outros. Pelo trabalho conjunto de educadores e neurocientistas e dessa visão multidisciplinar que caracteriza a neuroeducação, é possível discutir as teorias sob um olhar mais amplo. Um exemplo da aplicação é a escola de desenvolvimento piagetiana que relaciona determinados comportamentos a idades estabelecidas. Hoje em dia temos trabalhos da área de educação que confirmam dados neurobiológicos, que precisavam de um paralelo funcional, enquanto muitos dados neurobiológicos explicam fenômenos observados inicialmente em um contexto apenas educacional.
CF: Quais avanços ou descobertas da neurociência estão ligados ao processo de ensino-aprendizagem?
ASF: Atualmente existem vários estudos que ampliam o conhecimento de dificuldades de aprendizagem como discalculia, a dislexia e outros processos englobados dentro dos distúrbios de aprendizagem, como também o autismo e o TDAH. No caso do TDAH em particular, eu tenho um aluno que faz um estudo entre exergames, jogos como o Wii e o Kinect, que trabalham com o movimento corporal. Existem estudos que mostram que o trabalho físico coordenado com o trabalho mental leva a uma melhora cognitiva, uma melhora de aprendizado. Na verdade, no caso desse estudo em particular, como a criança tem de fazer uma relação entre o trabalho de corpo e tarefas exigidas, dados preliminares mostram que há uma melhora no tempo de reação, que bé o tempo que a pessoa leva para apresentar uma resposta a um estímulo sensorial. A criança com TDAH tende a se dispersar mais e a não se concentrar no objeto que ela está observando. A prática regular desses
jogos mostrou uma melhora no desempenho do tempo de reação e da atenção. Essa é uma maneira de você aplicar esse conhecimento como um coadjuvante na melhora atencional dessas crianças.
CF: De que forma os professores de Educação Infantil poderiam aproveitar melhor os conhecimentos da neurociência em sala de aula? Quais conhecimentos são importantes?
ASF: Principalmente os estágios de desenvolvimento motor e cognitivo. Por exemplo, não adianta eu querer algo acima do que o sistema pode comportar. Ou seja, não adianta entulhar o aluno de informações. Ao mesmo tempo, é preciso saber que todos nós somos ávidos por informação. Costumo dizer que uma criança tem 12 olhos: dois olhos mais dez dedos. Só o olhar não basta, tem de sentir, tem de construir novos circuitos cerebrais que representem essas. Então não basta para uma criança só ver um objeto. Os sensoriais – tocar, cheirar – são muito importantes. Se eu sei dessa necessidade do sistema por informações e eu preciso cumprir o currículo, como explorar melhor? Por exemplo, se vou falar de cores na Educação Infantil, posso levar frutos de cores diferentes, que servirão para as crianças apalparem, sentirem seu cheiro. Se o professor de Educação Infantil conhece melhor a mente e o desenvolvimento dos processos cognitivos das crianças, ele poderá aproveitar melhor as ferramentas com as quais poderá passar essas informações.
CF: A formação atual recebida pelos professores contempla de alguma forma os últimos conhecimentos sobre a neurociência?
ASF: Não. Na maior parte das vezes, o que temos de maneira muito fraca são disciplinas de fisiologia ou de anatomia e fisiologia, que são ministradas de forma fragmentada, o que não permite a aplicação desses conhecimentos no processo de ensino-aprendizagem. Mas é uma tendência agora. Estamos iniciando na UFRJ, na USP, na UFRG e na UFRN. Pontualmente, temos grupos fazendo esse tipo de trabalho, partindo da formação de novos profissionais que sairão para o mercado de trabalho. Mas não basta introduziresse tipo de conhecimento para as pessoas que vão entrar no mercado de trabalho. Por isso criamos o curso de formação continuada em neuroeducação, que não existe em outro lugar do Brasil. Nosso objetivo é pegar profissionais que já estão em sala de aula e proporcionar a eles uma forma de se prepararem melhor para o desafio que é o processo de ensino-aprendizagem.
CF: As descobertas da neurociência têm sido levadas em conta na formulação de políticas públicas de educação?
ASF: Nós temos um problema geral, que foi colocado para o público pela mídia e pelo governo, que é a questão da pontuação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Isso expôs um problema que já existe há muito tempo. Se analisar as notas do Ideb do Brasil inteiro, por região e pegar o Rio de Janeiro em particular, você perceberá que o Rio tinha um nível muito baixo. De cinco anos para cá, o governo tem valorizado mais e se aplicado mais no processo de levar conhecimentos e informações da academia para as escolas. É uma preocupação muito forte. No Rio temos tido um investimento significativo.
CF: Como funciona o curso de neuroeducação que o senhor ministra para educadores?
ASF: O curso de formação continuada ocorre duas vezes por ano, sempre em janeiro e julho. Em Belford Roxo (RJ) temos também minicursos de formação continuada. Começamos o curso explicando o que é  neuroeducação, como a neurociência e as ciências cognitivas podem contribuir com a educação. Em seguida, estudamos o desenvolvimento do sistema nervoso e assim eles descobrem, por exemplo, as etapas do desenvolvimento motor, sensorial, cognitivo. Depois vamos para os estudos dos sensoriais, que são as portas de entrada da informação em nosso sistema, e depois para os sistemas motores. Nos sistemas motores, falamos do desenvolvimento motor da infância até a velhice e abordamos também as respostas autônomas do organismo. Em seguida, vamos para os processos de aprendizagem e de formação de memória. Todas as aulas são compostas de teoria e prática, isso torna o curso dinâmico. No quarto dia, abordamos os processos de linguagem e os distúrbios de aprendizagem. No último dia, fechamos com os ciclos biológicos, a importância do sono, o processo de fixação de memória durante o sono etc. O curso se encerra com o desenvolvimento de novas atividades práticas pelo participante. Uma coisa interessante é que 70% do nosso público é formado por profissionais da escola pública. A grande demanda tem vindo de lá.

Estudantes verificam acessibilidade no centro de Londrina

Bonde

Alunos de Engenharia Civil da UniFil vão utilizar cadeiras de rodas para se locomover em trechos da área central de Londrina e conhecer  na prática as dificuldades e os obstáculos enfrentados diariamente por cadeirantes e demais deficientes. Na manhã deste sábado (23), cerca de 20 estudantes circularão pelas calçadas, atravessarão ruas e entrarão em edifícios para ver como adequações nas vias urbanas e construções melhoram a locomoção das pessoas portadoras de necessidades especiais. 

A experiência dos alunos é uma atividade da disciplina Acessibilidade e Gestão Ambiental Urbana. "É importante os estudantes vivenciarem os problemas do cotidiano de uma cidade. São futuros engenheiros que farão projetos e executarão obras. Por isso, precisam estar atentos às questões sociais, à acessibilidade. Às vezes, os profissionais têm uma visão muito exata sobre determinadas situações. Queremos que nossos alunos mudem o olhar, aliando a técnica e o lado humano da profissão para melhorar o dia a dia da comunidade", afirma a professora Silvia Guimarães. 

Com cadeiras de rodas emprestadas de entidades, os estudantes vão circular nas proximidades das ruas Paranaguá, Santos, Goiás e Alagoas. "É uma região nobre de Londrina, que teoricamente deveria estar mais bem cuidada", diz a professora. Ela cita que em diversos locais a acessibilidade já é satisfatória, até por exigências do Código de Obras do Município, com adequações nas calçadas e edificações. "A situação vem evoluindo, mas muitos lugares ainda não estão adaptados para a circulação de cadeirantes e demais portadores de deficiência", constata. 

Os estudantes da UniFil vão se concentrar às 8 horas em frente ao Complexo de Laboratórios da Engenharia Civil (esquina das ruas Goiás e dos Escoteiros, em frente ao Vale Verde) e dali saem para a atividade.