terça-feira, 16 de outubro de 2012

A JORNADA TEM QUE TER BELEZA !


http://educ-acao.com/2012/10/16/a-jornada-tem-que-ter-beleza/

A jornada tem que ter beleza…
Você já pensou numa escola viva? Acho que qualquer um imerso no universo da Educação ou ao menos interessado nisso já ouviu a expressão “escola viva”. Mas eu nunca havia sentido esta sensação de estar imerso num organismo vivo de forma tão profunda como na Green School em Bali na Indonésia.
Para escrever qualquer coisa sobre a Green School é preciso dizer algumas coisas antes… a escola foi criada por John Hardy que teve sua vida “destruída” depois de assistir o filme “A Verdade Inconveniente” (segundo suas próprias palavras).
A escola, que fica numa região de floresta perto de Ubud na lha de Bali foi construída quase que totalmente em bambu, com formas absolutamente orgânicas, com 80% da energia elétrica consumida vindo do sol. Planos ousados (inclusive uma turbina movida por um sistema de vórtex) querem levar este número para 100% nos próximos anos.
A estrutura física é impressionante, emocionante, espiritual (me faltam palavras aqui para descrever a sensação de estar dentro de um organismo perfeitamente integrado na floresta que o rodeia).
A Green School na Indonésia, construida inteiramente em bambu
A Green School na Indonésia, construida inteiramente em bambu é uma das referências mundiais quando se fala de estudar ” desenvolvimento sustentável”.
Sentado no chão, assistindo a aula da professora Mona (matemática), ouço pássaros, cigarras, vejo cores, crianças, sorrisos. Lá fora o sol brilha forte e a temperatura esta batendo fácil na casa dos 30 graus, mas aqui, dentro de uma bolha construída de bambu retorcido, trançado, amarrado, uma brisa sopra leve e estamos perfeitamente confortáveis. A luz solar penetra por uma espécie de clarabóia no teto e também por todos os lados e a classe praticamente não tem paredes. Aqui cadeiras, mesas, prateleiras, armários, é tudo de bambu. Mas por favor, não imagine algo tosco, malfeito ou adaptado. A Green School é absolutamente linda, espetacular para dizer o mínimo.
A "turtle classroom" onde assistimos a aula de Mona Dalmia
A “turtle classroom” é uma das classes da Green School onde assistimos a aula de Mona Dalmia
Aqui dentro pudemos assistir a uma aula de matemática. Será que você torceu o nariz ou sentiu um arrepio? Eu também sentiria se estivesse em uma escola comum, mas aqui matemática se ensina ou se aprende com música, pintura, pulando corda, contando histórias. Basta ouvir e ver as crianças completamente vidradas, focadas e engajadas, e mais importante que isso, sorrindo e se divertindo.
Pulam corda contando, enquanto um toca um tambor, o outro um sino… batem palmas e pulam um número de cada vez na seqüência do 1 ao 7 para praticar concentração.
Praticam uma dimensão mais espiritual (voceê vai entender mais sobre isto quando futuramente falarmos do modelo pedagógico desta escola) quando são convidados a deitar no chão sobre esteiras de bambu e imaginar seu número preferido. A seguir, imaginá-lo pintado de alguma cor que gostam…. E então perseguem imaginariamente este número mas ele escapa, e então cantam uma canção imaginária para ele e ele volta. Sentam em círculo e dividem suas experiências de forma bem empolgada: “eu imaginei o 4 porque minha família tem 4 pessoas, e ele era azul”, diz o pequeno e falante garoto.
Aprendem números romanos e tentam descobrir sozinhas como se formam outras figuras geométricas. Entendem a conexão da matemática com outras línguas (grego) nas formas, e levam para casa a missão de tentar descobrir como se chamaria uma figura com 12 lados.
Em círculo, sentados no chão, desenham círculos e tentam dividi-lo em partes, usando criatividade e arte para colorir as divisões. De repente, outro grupo de crianças chega para ter aula naquela classe, e as crianças que lá estavam, por sua vez vão para outro espaço.
Me lembro no tempo de escola, quando eu olhava para o relógio contando os minutos para o sinal tocar e eu sair correndo, mas o que vi aqui não tem nada a ver com isso.
O primeiro grupo estava tão engajado na “aula” que mal percebe a chegada do segundo grupo. Eles não tem a menor pressa de sair. Os dois grupos agora se juntam e cantam e dançam juntos uma mesma canção e trocam de classe da forma mais natural, calma e feliz que eu já vi.
“Quando crianças de outra classe entram e os desta classe não querem sair e sim continuar fazendo seus trabalhos, eu sei que foi uma boa aula”, diz a professora Mona (Meenakshi) Dalmia, que humildemente nos pergunta: “gostaram de assistir esta aula ? Por favor, me digam o que eu poderia fazer melhor.”
Eu sinceramente não sei o que responder, sinto um frio na barriga e fico muito tocado com isso.
Mona, que está concluindo um mestrado em Educação para a Sustentabilidade veio para Bali para colocar dois de seus três filhos na Green School. Algum tempo depois foi convidada para se tornar professora.
Olho nos olhos de Mona e percebo que brilham quando fala de sua paixão em juntar várias camadas de aprendizagem e alternar a sua liderança com a de seus alunos na jornada de aprendizado. Além disso ela fala especialmente em juntar arte a isso tudo. Beleza. A jornada tem que ter beleza.
Bem, imagino que com professores como Mona, eu certamente ia querer ficar o dia inteiro na escola. Aqui na Green School em Bali a escola não é algo isolado, ela é de fato uma comunidade, integrada à floresta no seu entorno, que pulsa junto com pais, professores e alunos.

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