Camila Galvez Do Diário do Grande ABC
Quem proporcionou essa mudança na vida da jovem, que teve paralisia cerebral ocasionada por problemas ainda no útero da mãe, foi o Livox - Liberdade em Voz Alta, programa para tablets criado pelo analista de sistemas pernambucano Carlos Pereira, 34 anos. A inspiradora de Carlos, sua filha Clara, de 5 anos, também teve paralisia cerebral por conta de falta de oxigênio no cérebro no momento do parto.
Há dois anos, Pereira começou a desenvolver o programa, inspirado em sistemas que viu nos Estados Unidos. "Como nenhuma empresa das que procurei se interessou em desenvolver a tecnologia em Português, fui atrás e fiz eu mesmo."
Hoje, centenas de pessoas em todo o Brasil utilizam o Livox, instalado sem custos por Pereira. Basta ter um tablet à disposição; os modelos mais simples custam em torno de R$ 400. A Faculdade de Medicina do ABC sedia até amanhã o primeiro treinamento para uso da tecnologia realizado na Grande São Paulo. Ao todo, oito usuários, dos quase 60 interessados, e suas famílias aprendem como utilizar o programa durante uma hora por dia desde sexta-feira, incluindo Camila. As famílias se uniram para bancar apenas a estadia da equipe, que é de Recife.
Conforme a tia de Camila, a médica infectologista Nedia Maria Hallage, a jovem precisará se esforçar bastante para utilizar o aparelho. "Ela tem dificuldade motora muito grande, mas é alfabetizada e muito inteligente. Com a ajuda da fisioterapia, tenho certeza que irá se adaptar."
Camila compartilha da opinião e prometeu, por meio do Livox, se esforçar.
Diversidade
O analista de sistemas adaptou o programa para ser utilizado por pessoas com diversos tipos de deficiência. O Livox obteve resultados com autistas, portadores de esclerose amiotrófica e múltipla, pessoas com sequelas de AVCs (Acidente Vascular Cerebral), além da paralisia cerebral. "Treinar os familiares e cuidadores, porém, é imprescindível, já que são eles que irão lidar diariamente com a tecnologia", explica a fonoaudióloga Vanda Mendes, responsável pelas aulas na região.
Para a fonoaudióloga de Camila, Mônica Bevilacqua, a jovem tem capacidade para aprender a lidar com a tecnologia. "Além disso, em um mundo de smartphones e computadores, ela se sentirá incluída.
" O Livox não é destinado apenas para adultos. Devido a sua adaptabilidade e opção de criar imagens e associações, pode ser utilizado por crianças tão pequenas quanto Lorenzo Bernal Von Dentz Testa, 2. Ele sofre de epilepsia, doença que afetou seu desenvolvimento. "A terapeuta ocupacional acredita que é muito cedo para dizer se o lado cognitivo foi afetado, mas percebo que ele compreende as coisas", diz a mãe, Amanda Bernal Silva, 32.
Lorenzo também participa do treinamento na Faculdade de Medicina. No caso dele, o tablet em si chama mais atenção que as figuras ou a voz, mas Vanda acredita que, com o tempo e o treino, o menino poderá enxergá-lo como meio de comunicação.
Ao assistir às aulas e observar o esforço dos pacientes, é possível perceber que usar o Livox é como aprender a falar. "Quando escuto o programa falar, ouço a voz da minha filha", garante o criador. É essa emoção que Pereira quer compartilhar com outros pais e familiares de todo o País.
Parcerias ajudam a expandir
Quando criou o Livox, a ideia do analista de sistemas Carlos Pereira sempre foi mantê-lo o mais acessível possível, tanto nos comandos quanto na disponibilização. Para tanto, permitiu que o sistema seja moldado de acordo com as necessidades de cada usuário. "É possível adicionar fotos, vídeos, músicas e até mesmo gravar áudio. O sistema precisa ter a voz de quem utiliza."
Hoje Pereira, a esposa Aline e a filha Clara viajam o País para divulgar a tecnologia. Para isso, buscam apoio de todos os lados, inclusive das próprias famílias que utilizarão a tecnologia. Eles também aceitam doações de tablets usados, e até mesmo quebrados, pois conseguem consertá-los. "Estamos em busca de mais parceiros para que possamos expandir o Livox", destaca.
E as novidades programadas são muitas. A principal delas é a possibilidade de usar o programa apenas com o movimento dos olhos, para aqueles que possuem dificuldades motoras severas.
Já o Livox Now acopla inteligência artificial para determinar o horário e a localização do usuário e, assim, disponibilizar apenas opções que serão úteis para aquela situação. "Se é hora do almoço, por exemplo, o programa irá mostrar apenas opções como carne, arroz, feijão, e não leite, que é alimento consumido no café da manhã", explica Pereira.
O analista planeja ainda o Livox Edu, que oferece opções de utilização do sistema na escola, e o Livox Profissional, destinado a especialistas que lidam com o deficiente.
Quem quiser mais informações sobre o programa, ou tiver interesse em ajudar a causa por meio de doações ou adotando um paciente, basta entrar em contato pelo site www.agoraeuconsigo.org, pelo e-mail contato@reamo.com.br ou pelo www.facebook.com/livoxtablet
Fonte: http://www2.dgabc.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário