Thais Frota é arquiteta especialista em acessibilidade e idealizadora do Blog Arquitetura Acessível.
O que esperamos do bairro onde moramos ou passamos A maior parte do tempo? Vivenciar a cidade é um prazer, dando um zoom, vamos pensar no bairro onde convivemos, interagimos e consumimos.
Andar pelo bairro com o objetivo de comprar o jantar, passar em uma livraria e ver se tem novidade, entrar na padaria e cumprimentar o padeiro, a moça do caixa e o idoso que sempre está comprando pão naquele horário. Passar numa perfumaria e comprar o que falta. Sentar um pouco no banco da praça para acabar de tomar um sorvete. Encontrar o vizinho passeando com o cachorro e a vizinha atrasada para a academia. No meio do caminho lembrar que aquele dia da semana tem feira livre e passar pelo meio das barracas e cumprimentar a vendedora de caldo de cana. Isso tudo é convívio humano.
Além disso tudo, conviver em nosso próprio bairro incentiva o comércio local. O arquiteto tem papel fundamental nesse convívio entre as pessoas, pois o arquiteto define espaços, cada casa, cada comércio, cada lote, que somados formam a cidade.
Nesse contexto o arquiteto deve pensar em todas as pessoas levando em consideração a diversidade humana. Deve ter em mente que a vizinhança pode ser o mais diversa possível, formada por moradores frequentes ou temporários, mas que de certa forma vai passar em frente a casa que projetou, o comércio que reformou ou a calçada que modificou.
Por mais que o comércio ou serviço seja pequeno, de bairro, deve ser acessível? É uma resposta complicada. Eu diria que sim. Mas o dono do estabelecimento em um primeiro momento não vê vantagem de se adequar. Assim a cultura da acessibilidade não é levada adiante e esse estabelecimento fica acessível somente às poucas pessoas de sempre.
Ficar em casa deve ser uma opção e não uma obrigação decorrente da falta de acessos. Fazer compras pelo telefone a mesma coisa. Pedir uma pizza em casa também. Lembrando que isso tudo deve ser uma opção, pois não poder dar uma volta no quarteirão é muito triste. Não poder caminhar pelo bairro com autonomia é muito injusto!
As pessoas com mobilidade reduzida têm então como única opção frequentar hipermercados enormes onde tem “tudo”. E esse convívio passa a não existir, a gente vira mais um consumista dentro de um hiperlugar com centenas de funcionários anônimos que rapidamente empacotam os produtos para não perder tempo com o consumidor, que volta para a casa da mesma forma que saiu: sem interagir com (quase) ninguém.
Continuando nesse contexto, as pessoas voltam para seus prédios cheios de grades e entram em seus apartamentos onde as janelas são bem menores que a televisão.
Essa convivência não deve ser imposta, mas aos poucos podemos voltar a ter mais espaços coletivos, praças e lugares mais acessíveis em todos os sentidos, para assim as pessoas se conhecerem. Pois se o bairro não está acessível para todas as pessoas, o bairro é deficiente.
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