
Ergonomia & Acessibilidade – áreas que se complementam
O que é Ergonomia?
A Associação Brasileira de Engenharia de Produção define Ergonomia como: o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não-dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas.
O projetista que se preocupa com a acessibilidade e a necessidade das pessoas com deficiência pode ser definido dentro do mesmo conceito dado pela Associação Internacional de Ergonomia (em agosto de 2000) aos ergonomistas: “contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas.”
Este conceito permite enxergar a ligação direta entre a ergonomia e a acessibilidade, visto que as duas “ciências” buscam a adequação do ambiente ao homem.
Campos da Ergonomia
Os domínios de especialização da ergonomia dividem-se, de maneira geral, em física, cognitiva e organizacional. Podemos entender cada um em sua aplicação na acessibilidade:
- Ergonomia física: relacionada às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica. Podemos avaliar o posto de trabalho de um cadeirante, por exemplo, levando em consideração sua postura na atividade e o manuseio dos materiais à sua volta. Com isso, projetar de uma forma que lhe proporcione segurança e saúde, aumentando sua produtividade.
- Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora. Estudamos as respostas motoras de pessoas com deficiência visual e suas tomadas de decisões durante seu deslocamento. Porque foi para um lado e não para o outro? Porque tocou primeiro aqui eu não ali? Isso resulta no aparecimento de problemas que possibilitam a criação de um projeto que atenda às suas necessidades reais de orientabilidade.

- Ergonomia organizacional: trabalha com a otimização dos sistemas sóciotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Tomemos como exemplo uma Instituição de Longa Permanência para Idosos que aumentou o número de quedas nos últimos meses. Um trabalho em grupo com projetos participativos poderá investigar o problema de acessibilidade por meio dos relatos dos idosos ou funcionários da casa, buscando solucioná-lo através de uma ação conjunta.

Interdisciplinaridade
Profissionais de diversas áreas têm unido seus conhecimentos para encontrar formas de incluir as pessoas com deficiência no cotidiano de toda a sociedade, promovendo, ao mesmo tempo, saúde, conforto, segurança e autonomia através da acessibilidade.
Como uma área interdisciplinar, a ergonomia está cada vez mais presente em outras ciências, adicionando informações a profissionais que também se preocupam com a acessibilidade, como: Médicos do trabalho, engenheiros de projeto, engenheiros de produção, engenheiros de segurança e manutenção, desenhistas industriais, arquitetos, designers, analistas do trabalho, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, administradores, etc.
Uma ação ergonômica deve atender e satisfazer ao maior número de pessoas e excluir o menos possível, ela deve estar preparada para analisar todas as pessoas e solucionar problemas que elas enfrentam. Logo, atender, também, às pessoas que possuem necessidades específicas, buscando adequar os espaços vivenciados por elas.
O próprio Itiro Iida – autor do livro “Ergonomia – Projeto e Produção” – reconhece que, atualmente, a contribuição da ergonomia não se restringe às indústrias. Os estudos ergonômicos são muito amplos, podendo contribuir para melhorar as residências, a circulação de pedestres em locais públicos, ajudar pessoas idosas, crianças em idade escolar, pessoas com deficiência e assim por diante.
A ergonomia em projetos para pessoas com deficiência
O desenvolvimento de suportes informáticos para os deficientes visuais, por exemplo, foi acompanhado por um esforço significativo de pesquisas em ergonomia, abordando não só a avaliação de protótipos e as melhorias desejadas, mas também um conhecimento melhor da função visual deficitária e, paralelamente, um conhecimento melhor das funções auditivas e hápticas (ou seja, o tato associado a movimentos) enquanto funções substitutivas privilegiadas.
Ao projetar um ambiente público consideramos a média antropométrica, desenvolvida para cobrir a faixa de 5 a 95% de uma população, baseando-se na idéia que isso aumenta o conforto para a maioria, mas em projetos particulares para pessoas com deficiência, o ergonomista deve se referir a características fora das normas e dos dados obtidos habitualmente na população em geral. Os estudos em ergonomia mostraram que projetar para atender à média da população não é uma forma de inclusão, pois todas as pessoas possuem características próprias e assim também acontece com as pessoas com deficiência, que mantém suas especificidades mesmo fazendo parte de uma mesma categoria de deficiências.
Uma das formas de inserir acessibilidade e aproximar-se do Desenho Universal – que atende à maior parte dos tipos humanos – é adotar a abordagem ergonômica no desenvolvimento dos projetos de espaços e de produtos, antevendo sua utilização por um maior número de pessoas. Integrar a ergonomia e a acessibilidade é uma questão de ampliação das áreas, principalmente da Ergonomia, que por muito tempo foi apenas relacionada à adequação do trabalho ao ser humano.
Larissa Santos
*Imagens adaptadas do livro Ergonomia: Projeto e Produção. Itiro Iida, 2005.
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