O Transtorno Bipolar (TB) é caracterizado por alterações de humor que se manifestam como episódios depressivos, alternando-se com episódios de euforia (também chamados de mania), em diversos graus de intensidade. É uma condição médica que, nas suas formas clássicas, afeta cerca 2,2 % da população mundial. O TB pode ser dividido em: tipo I, quando ocorrem episódios de depressão alternados com episódios de mania; tipo II, caracteriza-se por episódios de manias mais leves (as hipomanias) e episódios de depressão. Além deles, se considerarmos os quadros de manias e hipomanias desencadeados por substâncias e outras formas não bem caracterizadas, a prevalência pode chegar até 8% da população, o que se costuma chamar de “espectro bipolar”. Assim, estima-se que cerca de 15 milhões de brasileiros sejam portadores do transtorno bipolar, nas suas diferentes formas de apresentação.
Ainda não se conhece a causa da doença bipolar; porém, diversos estudos mostram que o seu aparecimento é resultante da interação entre fatores genéticos, do desenvolvimento intra-uterino e de estressores ambientais, tais como abuso sexual, catástrofes, dentre outras. O TB acarreta incapacitação e grave sofrimento para seus portadores e familiares.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), ainda na década de 1990, mostraram que o TB foi a sexta maior causa de incapacitação no mundo. Estimativas indicam que um portador que desenvolve os sintomas da doença aos 20 anos de idade, por exemplo, pode perder nove anos de vida e 14 anos de produtividade profissional, se não tratado de maneira adequada.
A mortalidade dos pacientes com TB é elevada, e o suicídio é a causa mais frequente de morte, principalmente entre os jovens. Estima-se que até 50% dos portadores tentem o suicídio, ao menos uma vez em sua vida, e 19% se suicidam. Outro fator agravante na doença bipolar é alta taxa de comorbidades com outras doenças psiquiátricas e não psiquiátricas, tais como transtornos de ansiedade e abuso e dependência de álcool e outras drogas, obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares. Vale ressaltar que a associação com a dependência de álcool e drogas é comum e agrava o curso do TB, piorando a adesão ao tratamento e elevando ainda mais o risco de suicídio.
O início dos sintomas na infância e na adolescência tem sido cada vez mais descrito e, em função das características típicas dessa faixa etária, o diagnóstico torna-se um desafio. Frequentemente, as crianças recebem outros diagnósticos, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o que atrasa o tratamento adequado. Mais ainda, ao longo do curso da doença, muitos pacientes não identificam as hipomanias como doença, retardando também o diagnóstico correto.
Dessa forma, o objetivo do tratamento é retirar o indivíduo das fases agudas da doença e impedir episódios futuros, reduzindo a mortalidade e evitando a perda neuronal, devido às lesões causadas pela liberação de substâncias tóxicas no organismo. Por isso, para prevenir as consequências danosas da doença bipolar é importante identificar o seu aparecimento o mais breve possível, orientando a pessoa a procurar um profissional da área, de preferência psiquiatra, que é o médico treinado para esse tipo de atendimento.
"Diagnóstico do do Transtorno Bipolar (TB) pode demorar até 10 anos. O TB é uma doença mental que representa uma das principais causas de suicídio e promove morte neuronal."
Ângela Miranda Scippa - Professora M.D, Ph.D. associada do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA); e presidente da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB)
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