Gazeta do Povo
Leitura da digital nas eleições é ideia curitibana
A princípio, o curitibano Ismael Akiyama só queria descobrir uma forma de oferecer relógios-ponto com identificação biométrica sem que fosse necessário um papiloscopista (policial civil especializado na leitura de digitais). A ideia acabou sendo encampada pelo setor público e no ano que vem será usada na identificação de mais de 10 milhões de eleitores no Brasil.
A popularização da tecnologia partiu do interesse dos seus clientes no produto, sem qualquer incentivo. “Eu já tinha noção de mercado, mas partimos do zero e crescemos sozinhos”, explica. Akiyama saiu de um capital inicial próprio de R$ 70 mil em 2005, quando começou, para chegar a uma receita líquida de R$ 28 milhões cinco anos mais tarde.
A experiência rendeu a responsabilidade de cadastrar todos os torcedores que frequentam estádios de futebol até a Copa de 2014. O projeto foi responsável pelo primeiro aporte recebido pela empresa por parte da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), de R$ 1,3 milhão.
O controle do negócio na palma da mão
Criador de uma das primeiras empresas de tecnologia da informação de Curitiba, Renato Bianco, usou de incentivos para colocar um de seus empreendimentos em prática. Experiente, a T.Info foi uma das primeiras empresas a fazer parte do programa do Tecnoparque e uma das 50 a entrar no Programa de Apoio à Pesquisa na Micro e Pequena Empresa (Pappe). A subvenção e os incentivos fiscais eram o que faltava para dar fôlego ao seu maior “filão”: através de um programa para dispositivos móveis, como celulares e tablets, o proprietário de postos de combustível pode acompanhar em tempo real toda a movimentação de vendas e estoques da empresa.
“O dispositivo também tem grande adesão nas empresas com frotas de carros e caminhões. É um dispositivo operacional que não existia no mercado”, explica. A alta adesão do empresariado ao programa deixa Bianco otimista. O proprietário da T.Info prevê crescimento de 25% da empresa nos próximos anos. “Também estamos desenvolvendo novas linhas de produtos na gestão de estoque para os próximos anos.”
Sem grandes incentivos para inovação na última década, inventos como estes dependeram muito mais da iniciativa empreendedora dos seus criadores do que de uma política de inovação atuante. Para dar escala a casos como estes, pesquisadores e empresas de tecnologia dependem da recém regulamentada Lei de Inovação, que vai destinar mais de R$ 300 milhões em investimentos diretos na área.
A lei prevê que o estado repasse 2% da sua receita tributária, sendo 1% destinado à complementação salarial das universidades estaduais, Iapar e Tecpar e o restante para financiamento de programas, projetos e fomento à pesquisa. A lei está em vigor desde o dia 27 de fevereiro.
O incremento, além de resultar benefício para a sociedade com novas tecnologias, rende bons resultados para seus investidores. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas 1,7% das indústrias investem continuamente em inovação, mas elas são responsáveis por 25,9% do faturamento industrial e por 13,2% do emprego gerado no setor.
“A inovação é a chave para o desenvolvimento econômico, justo e sustentável”, afirma Filipe Cassapo, diretor-executivo do Centro Internacional de Inovação C2i.O sentimento é o mesmo daqueles que colocaram as ideas em prática. “Simplesmente a patente não basta. É preciso que ela tenha aplicação de mercado e traga ganhos econômicos”, explica Ismael Akiyama, responsável pela implantação da biometria no processo eleitoral.
Da tragédia para a evolução da fisioterapia
Sem um ambiente político favorável, o empreendedor Leonardo Rodrigues da Silva tirou de uma experiência pessoal trágica a inspiração para empreender. Após lesionar a coluna em um mergulho no litoral paulista e perder os movimentos das pernas e braços, o cientista viu como os diagnósticos da fisioterapia eram imprecisos. Inventou o BioFeed, um aparelho que avalia a execução dos movimentos do corpo e o progresso dos tratamentos de fisioterapia. “Não criei o programa com a pretensão de achar uma cura para o meu acidente, mas vi as deficiências do diagnóstico da evolução dos tratamentos”, confessa.
Depois de dez anos na universidade estudando sistemas de eletroestimulação, desenvolveu o aparelho e colocou no mercado. Para viabilizar o BioFeed, o engenheiro recebeu ajuda de um investidor-anjo, que arcou R$ 80 mil. De resto, Leonardo bancou mais de R$ 300 mil do próprio bolso. “O mais difícil de enfrentar esta empreitada sozinho, como eu fiz, é saber entrar no mercado. A experiência de uma empresa do ramo é fundamental”, afirma o pesquisador, admitindo que o ideal seria que o ambiente acadêmico tivesse mais proximidade com a iniciativa privada.
Implantes que “valem” R$ 550 milhões
Inovação é colocar uma invenção no mercado. Com esta convicção, o empresário Geninho Thomé criou a Neodent, empresa de implantes dentários. Com uma receita bruta de mais de R$ 200 milhões no ano passado, o dentista começou seus negócios ao produzir implantes para consumo dos seus pacientes há 20 anos.
Com um consultório modesto na Manoel Ribas, Thomé achava que os produtos importados, ósseointegrados e feitos à base de titânio, eram inacessíveis para grande parte dos pacientes. “A ideia era aprender a produzir meus próprios implantes para oferecer algo mais em conta e com qualidade”. O negócio começou nos fundos da clínica, com uma linha de produção artesanal.
Geninho passou a oferecer um tipo de implante que ainda não existia no Brasil e logo os colegas de profissão passaram a fazer pedidos.
O resultado concreto do sucesso apareceu no ano passado: 49% do capital da Neodent foi vendido à Straumann, multinacional suíça que é um gigante do setor, por R$ 550 milhões. A empresa ainda tem opção de compra de outros 50% nos próximos seis anos. “Foi um excelente negócio, porque nos permite um intercâmbio de tecnologia”, conta.
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