quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Artista plástico pinta com os pés e é exemplo de superação de limites


Nascido sem os braços, ele ainda toca gaita e é bacharel em Direito.
Especialista fala em superar próprias limitações para chegar onde se quer.



G1

Todo início de ano é a mesma coisa: rascunhamos uma lista enorme de planos a serem colocados em prática, focamos em objetivos, imaginamos desafios e muitas vezes já começamos a desanimar quando consideramos os obstáculos. São muitos, muitos mesmo, mas começam a ficar menores quando vemos o advogado, artista plástico e músico Lucas Figueiredo Abreu, de Varginha (MG). Nascido sem os braços, ele correu atrás de aprender tudo o que precisava, e é uma boa inspiração para quem está considerando as dificuldades daquela velha listinha. “Todos temos limitações, o que muda é como as encaramos”, comenta o professor e administrador Fábio Zugman, que fala um pouco sobre o que devemos fazer na hora de acertar os objetivos.
O primeiro desafio de Lucas foi aprender a escrever. A mãe e a irmã já colocavam um lápis nos pés dele quando o menino ainda tinha dois anos. Assim, ele já ia praticando rabiscos para adaptar os pés à função. Também foi assim que ele começou a nadar. “Nado desde pequenininho, a vida inteira nadei. Com seis meses de idade já ia pra piscina”, conta. Segundo ele, a mãe o jogava na água desde bebê. A prática fortalece a cintura, o que ajuda nas demais atividades.
Lucas Abreu pinta quadros desde os 14 anos de idade (Foto: Tiago Campos / G1)Lucas Abreu pinta quadros desde os 14 anos de idade (Foto: Tiago Campos / G1)
Apesar de ter necessidades especiais, Lucas frequentou a escola no ensino normal, apenas usando uma mesa um pouco mais baixa para conseguir escrever. Ele começou a desenhar com 12 anos, e com 14 anos já resolveu partir para a pintura. Foi encorajado por um amigo, mas também conta que sua mãe pintava quando ainda carregava ele na barriga. “Os seis primeiros meses foram os mais difíceis, mas por já fazer aula de desenho, tive mais facilidade”, conta ele, não aparentando dificuldades no processo.
Um dos quadros pintado por Lucas Abreu (Foto: Tiago Campos / G1)Um dos quadros pintado por Lucas Abreu
(Foto: Tiago Campos / G1)
O artista gosta de pintar paisagens, escolhe temas livres. Nas palavras dele, ao pegar uma fotografia, ele não procura fazer uma cópia, mas dar a sua visão da imagem com seus traços característicos. “Meu jeito é bagunçado, bem livre, bem solto”, define ele.
A música começou quando ele já tinha 19 anos. “Sempre gostei de música, e todo mundo aqui em casa tem banda, mas um dia eu vi um filme e fiquei doido vendo o cara tocando gaita. Aí pedi uma para a minha mãe e comecei a fazer aulas”, lembra Lucas. Ele levou muito tempo para tocar a primeira música: apenas seis meses!
Segundo Lucas, foi uma das coisas mais difíceis das que ele já aprendeu, pois é preciso deixar o diafragma reto para tocá-la, portanto ele teve que se adaptar para conseguir tocar. Na carreira musical, sua proeza foi fazer uma homenagem ao Milton Nascimento em um bar em Três Pontas que, segundo conta, “ele curtiu pra caramba”.
Lucas Abreu jogando vídeo game em seu quarto (Foto: Tiago Campos / G1)Lucas Abreu jogando vídeo game em seu quarto
(Foto: Tiago Campos / G1)
Hoje Lucas já é bacharel em Direito e estuda muito, todos os dias, para passar em um concurso. No último, segundo ele, não conseguiu a vaga por quatro pontos. Além de tudo, ele ainda adora jogar vídeo game. Ao ser questionado das dificuldades de aprender, ele comenta: “tudo é difícil”. Mas aparentemente, nada é impossível. “O importante é ocupar a cabeça, ler, não basta malhar o corpo, tem que malhar a cabeça todos os dias também”, completa.
“A verdade é que todo mundo possui limitações, o que muda é o modo como as encaramos”, comenta Fábio Zugman, professor universitário e doutorando em Administração pela FEA-USP. Ele é autor de livros que ensinam a usar a criatividade na solução de problemas e gestão de possibilidades para concluir objetivos profissionais ou pessoais. “Alguém que nasce sem os dois braços vai encontrar uma forma diferente de encarar a vida e questões do dia a dia que outras pessoas consideradas ‘normais’. Isso pode dar a ele uma perspectiva diferente para lidar com problemas em sua profissão e em suas atividades artísticas. A grande questão é como pegar as características e limitações que fazem parte de quem nós somos e as utilizar para criar algo único”, completa o escritor.
A questão é parar de ver as coisas como limitações, mas sim como características que nos tornam únicos"
Fabio Zugman
Fim de ano todos colocam no papel seus objetivos de vida, e claro, enumeram as dificuldades para isso. Mas segundo Zugman, é importante ser realista na hora de prosseguir com os planos para o futuro. “Não adianta ficar sonhando como gostaríamos que as coisas fossem. Nem ficar reclamando por ser pobre, não ter estudado onde gostaria, ser feio, e por aí vai… É um grande erro achar que podemos controlar tudo”.
Ele enfatiza que um dos passos é não ter sonhos que sejam contraditórios entre si: a pessoa que quer crescer profissionalmente, mas ao mesmo tempo quer passar mais tempo com a família. Outro erro é querer mudar tudo de uma vez só. “Nessa época é normal, mas não adianta se desesperar e querer resolver a vida de uma vez só”, diz ele. Para o autor, ao invés de sonhar que se quer um milhão de reais, esse objetivo deve ser dividido em passos concretos como: pagar as contas e sair do vermelho; começar uma poupança ; arranjar uma renda extra e assim por diante.
“A questão então é parar de ver essas coisas como limitações, mas sim como características que nos tornam únicos, diferentes das outras 7 bilhões de pessoas que vivem no planeta”. Segundo Zugman, são as nossas diferenças que nos ajudam a ser criativos e atingir nossos objetivos de uma forma que nenhuma outra pessoa conseguiria. “Eu digo que para todo objetivo que pode levar anos, devemos ter em mente o que podemos fazer amanhã para nos deixar mais perto dele. Todo objetivo que vale a pena é uma caminhada”, completa o autor.
Bob Dylan é um dos artistas preferidos para Lucas quando toca gaita (Foto: Tiago Campos / G1)Bob Dylan é um dos artistas preferidos para Lucas quando toca gaita (Foto: Tiago

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