quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Lei criada em 1991 ajudou a democratizar o acesso de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho. Mas elas podem muito mais


O mercado de trabalho para pessoas com deficiência nunca esteve tão aquecido. Tanto que muitas empresas com 100 ou mais funcionários têm encontrado dificuldades para preencher as cotas da lei que determina a reserva de vagas para deficientes. Mas, a despeito da necessidade pura e simples de preencher vagas, muitos deficientes vêm conquistando espaços importantes nas empresas e construindo carreira a custa de qualificação e competência.
Embora a lei tenha sido criada em 1991, a mudança que democratizou o mercado de trabalho para deficientes começou no ano de 2.000, com a regulamentação do texto, que obrigou as empresas reservarem de 2% a 5% de vagas conforme o número de funcionários. “Desde então, aquelas que contratam com o único propósito de cumprir a lei têm obtido poucos resultados”, explica Carolina Ignarra, diretora da Talento Incluir, consultoria especializada na inclusão Pessoas com Deficiência (PCD) no mercado de trabalho. Por outro lado, as empresas que entenderam o objetivo de transformação social da lei estão contribuindo para desenvolver esses profissionais.
Cadeirante há 11 anos, Carolina tinha acabado de se formar em Educação Física quando sofreu um acidente. “Voltar ao trabalho foi essencial, porque me mostrou que eu podia fazer tudo”.
Trabalhando há quatro anos com inclusão de PCDs, ela diz que a capacitação dessas pessoas é fundamental, mas não basta. “Muita gente acha que pode entregar menos, justamente por causa da deficiência. Isso é um equívoco para quem almeja construir uma carreira”.
As empresas podem abrir oportunidades iguais e oferecer as condições necessárias, mas não podem assumir a responsabilidade que é da pessoa com deficiência.” - André Cordeiro da Silva, analista de estudos econômicos da Renault do Brasil
As empresas podem abrir oportunidades iguais e oferecer as condições necessárias, mas não podem assumir a responsabilidade que é da pessoa com deficiência.” – André Cordeiro da Silva, analista de estudos econômicos da Renault do Brasil
O curitibano André Cordeiro da Silva sempre rejeitou a acomodação e sua postura o levou longe. Ele nasceu sem a perna direita do joelho para baixo, mas sempre foi tratado como uma criança absolutamente normal pela família. “Isso moldou a minha vida profissional”. Ignorando a limitação, ele se formou na área de informática, fez MBA em Gestão de Projetos, adquiriu fluência em francês e espanhol e hoje é analista de estudos econômicos da Renault do Brasil. “As empresas podem abrir oportunidades iguais e oferecer as condições necessárias, mas não podem assumir a responsabilidade que é da pessoa com deficiência”.
Para a gerente de recrutamento, seleção e projetos da GD9 Assessoria em RH, Josimeiry Gonçalves Mattos, as empresas que se preocuparam primeiro com a inclusão de PCDs estão mais maduras e buscam pessoas qualificadas independentemente das suas limitações. Nessas empresas é que estão as melhores oportunidades.
Formada em Ciências Aeronáuticas com pós-graduação em Marketing, Larissa Magna Bosco, de 27 anos, tem uma má formação na mão esquerda. Aos 19 anos, com a ajuda da Lei de Cotas ela entrou no Itaú. Começou como agente comercial e depois trabalhou como assistente de gerente, gerente de contas e agora é gerente Uniclass, para clientes com alto rendimento. Há oito anos no banco, sempre teve as mesmas possibilidade de crescimento dos demais colegas, com direito a broncas e cumprimento de metas. “Nunca me coloquei na posição de vítima e sempre soube aonde queria chegar”, diz ela.
Larissa faz parte de um grupo de 4.115 PCDs que trabalham nas agências do Itaú Unibanco em todo o Brasil. Segundo a superintendente de Atração, Seleção, Integração e Diversidade do banco, Marcele Correia, serão ofertadas mil bolsas de graduação para os PCDs que já trabalham no banco no próximo ano.
O curitibano Claudio Tavares nasceu sem a mão direita. Formado em Sistemas de Informação e com MBA em Banco de Dados, ele decidiu usar a sua qualificação e experiência para criar o site Deficiente Online para facilitar o acesso de outras pessoas com deficiência ao mercado de trabalho.
O curitibano Claudio Tavares nasceu sem a mão direita. Formado em Sistemas de Informação e com MBA em Banco de Dados, ele decidiu usar a sua qualificação e experiência para criar o site Deficiente Online para facilitar o acesso de outras pessoas com deficiência ao mercado de trabalho.
REFERÊNCIA
Uma ponte on-line entre empresas e pessoas com deficiência
Um site idealizado por um casal de Curitiba virou referência em oportunidades de emprego para pessoas com deficiência em todo o Brasil. O DEFICIENTE ONLINE entrou no ar em 2007, depois que Kelli e Cláudio Tavares decidiram centralizar informações e vagas de emprego para PCDs. A ideia não surgiu por acaso. Cláudio nasceu sem a mão direita e, apesar da deficiência de grau leve, enfrentou dificuldades para ingressar no mercado de trabalho e construir uma carreira. Isso o motivou a ajudar pessoas na mesma situação. “Nossos amigos tinham muita dificuldade para ingressar no mercado de trabalho. Nos procuravam em busca de orientação e nos traziam o currículo para arrumar. Criamos o site para tentar suprir essa carência”, afirma Kelli.
Hoje, o site tem 27.711 candidatos cadastrados e 2.453 vagas disponíveis. A maioria dos candidatos inscritos têm ensino médio completo e curso de informática. Além disso, 34% dos cadastros são de PCDs que já concluíram a graduação ou estão cursando a universidade. “No Rio de Janeiro, por exemplo, existem até vagas para médicos e dentistas”, conta Kelli. Outra área que vem recrutando um grande número de profissionais com deficiência é a de Tecnologia da Informação. Embora em menor proporção que no Rio de Janeiro e em São Paulo, Curitiba também oferece vagas com maior qualificação para PCDs. Desde que foi criado, há cinco anos, mais de 758 empresas já recorreram ao site, 90% delas são de outros estados. “Nós incentivamos as empresas a disponibilizar vagas com maior remuneração e escolaridade e isso tem funcionado bem”, comemora Tavares.

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