terça-feira, 3 de abril de 2012

Voluntariado de resultados






De Lucca (ao centro), presidente da Serasa, com um grupo de funcionários: empresa é modelo em inclusão de portadores de deficiência física, que contam com programas específicos de treinamento e empregabilidade e trabalham em ambiente projetado para facilitar seu acesso e sua movimentação

EMPRESA-MODELO

Voluntariado de resultados

A Serasa incentiva o engajamento dos funcionários e troca o modelo de simples doações por consultorias completas em gestão de instituições beneficente


Todo mês de novembro, 64 instituições beneficentes de várias cidades brasileiras recebem a visita de funcionários da Serasa e de seus familiares. Eles se dividem em turmas, identificadas por camisetas de cores diferentes, e se dedicam a atividades como jardinagem, pintura, organização da farmácia, da biblioteca e até mesmo da contabilidade do lugar.
Organizados de acordo com a afinidade pessoal de cada participante, os grupos têm sempre um líder, que não ocupa cargo de chefia na empresa. "Eu e os diretores participamos, mas nunca assumimos a coordenação do grupo. Além de fazer a integração entre nossos funcionários, a iniciativa é uma oportunidade para descobrirmos bons potenciais de liderança", diz Elcio Aníbal de Lucca, presidente da Serasa. Ao todo, o Dia do Voluntário, promovido pela empresa, movimenta 2.500 pessoas em 18 municípios.
No dia-a-dia, a Serasa acompanha as atividades de 104 instituições de caridade, o que envolve o trabalho de 946 funcionários. Mais do que fazer doações, a Serasa, uma das maiores empresas do mundo em análise de crédito, preocupa-se em desenvolver para essas entidades projetos completos de gestão. As equipes dão apoio permanente em atividades como marketing, planejamento estratégico e técnicas de qualidade total. "Fazer voluntariado não é dar dinheiro. É dar o recurso necessário para criar a infra-estrutura", afirma De Lucca.
Nos últimos meses, a ONG paulistana Núcleo Assistencial Irmão Alfredo pôde constatar os benefícios provocados pela mudança de postura na gestão. Fundada em 1982, a entidade, que oferece cursos de capacitação para 500 crianças e adolescentes, começou o ano de 2007 com duas grandes empresas doadoras. Hoje, depois de um ano de aprendizado com a Serasa, tem 12 parceiros do porte de Alcoa, Cargill e Nokia. "A Serasa nos ensinou a profissionalizar a captação de recursos", diz a pedagoga Sônia Costa, responsável pelas relações institucionais da ONG.
EDIFÍCIO AMIGÁVEL
A sede da Serasa, um edifício erguido na zona sul de São Paulo, é a parte mais visível da busca da empresa pela sustentabilidade. Nela trabalham 1.595 funcionários. Inaugurado há cinco anos, o edifício é considerado exemplar pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e venceu, em 2003, um prêmio de mobilidade e sustentabilidade concedido pelo Secovi, sindicato do setor imobiliário. O prédio, construído de vidro e alumínio, preserva árvores de 50 anos. Há rampas com inclinação inferior a 15 graus, portas com largura adequada a cadeirantes, corrimões e outros recursos para facilitar a movimentação de portadores de deficiência. Os funcionários também têm à disposição salão de beleza, espaço para meditação e uma igreja. Além disso, a Escola Serasa oferece desde aulas de alfabetização até cursos em nível superior e de pós-graduação, ministrados em parceria com a Universidade de Santo Amaro e com a Fundação Getulio Vargas. "O tripé formado por atenção à sociedade, cuidado com a natureza e bom ambiente corporativo é fundamental, mas não é suficiente", diz De Lucca. "É preciso que a empresa tenha um modelo de gestão que integre esses aspectos. Nada pode ser pontual."

Em junho, 65% do capital da Serasa foi adquirido pelo grupo britânico Experian, por 2,3 bilhões de reais. O contrato prevê uma opção de compra do restante das ações nos próximos cinco anos. Atualmente, a empresa lidera o mercado de análise de crédito na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Com isso, a dúvida de especialistas é se o novo controlador vai perpetuar as políticas de sustentabilidade da Serasa (procurado por Exame, o Experian não quis falar sobre o assunto).
AVALIAÇÃO DA EMPRESA
Pontos fortes
Mantém um programa de inclusão de pessoas com deficiência que é reconhecido pela Organização das Nações Unidas.
Oferece aos funcionários cursos do ensino básico à pós-graduação.
Incentiva as entidades que recebem ajuda a repensar sua gestão.

Pontos fracos
Não tem 10% de negros em cargos de gerência nem de diretoria.
A gestão é centralizada na figura do presidente, que está no cargo há 16 anos.
Sofreu, nos últimos três anos, ações judiciais relativas à violação de normas de defesa do consumidor - segundo a Serasa, as ações foram movidas por consumidores insatisfeitos com bancos ou empresas que não retiraram seus nomes da lista de maus pagadores.

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