domingo, 29 de abril de 2012

‘Gladiadores’ das cadeiras de rodas conhecem o rúgbi

Motivados pelos choques, paratletas se unem para formar o primeiro time de rúgbi em cadeira de rodas do Paraná, o Curitiba Rugby CR


Daniel Caron/ Gazeta do Povo / Curitiba Rugby se prepara para a disputa do Brasileiro, entre 30 de maio e 3 de junho, em Caiobá
Curitiba Rugby se prepara para a disputa do Brasileiro, entre 30 de maio e 3 de junho, em Caiobá




Murderball é um documentário norte-americano de 2005, indicado ao Oscar no ano seguinte. E serviu de inspiração para a criação do primeiro time de rúgbi em cadeira de rodas no Paraná, os Gladiadores Curitiba Rugby CR.
O filme fala sobre a vida de atletas iniciantes e consagrados no esporte que batiza a película. Em uma tradução mais ou menos literal, murderball significa “bola assassina”, indício que se trata de uma modalidade agressiva. Tem (muito) contato físico e as trombadas fazem parte do jogo. E é disputado sobre cadeira de rodas, exclusivamente com paratletas tetraplégicos (com limitações de movimento nos membros superiores e inferiores).
Características
Esporte se inspira no basquete em cadeiras de rodas e no hóquei
Inspirado no basquete em cadeira de rodas e no hóquei no gelo, o rúgbi em cadeira de rodas leva em sua formação características de vários esportes. A bola oficial é a mesma do voleibol, em uma quadra das dimensões das de basquete (28 m x 15 m). Dois cones marcam a linha do gol. A partida é disputada em cadeiras de rodas especiais, com rodas inclinadas e reforço na armação para diminuir o risco de o equipamento tombar. Cada equipe tem quatro jogadores em campo (dois atacantes e dois na defesa), em times mistos de homens e mulheres. Um ponto é marcado cada vez que um atleta de posse da bola atravessa a linha de gol adversária.
Com um nome politicamente incorreto, o esporte criado pelos canadenses em 1977 foi rebatizado quatro anos depois de murderball para rúgbi em cadeira de rodas. Suavidade é substantivo que fica de fora durante os quatro tempos de oito minutos de uma partida.
“Os choques me chamaram a atenção para começar a praticar. Outros paradesportos me pareciam muito ‘parados’”, diz o empresário Leonardo Rodrigues da Silva, 39 anos. Antes do rúgbi CR, ele não havia praticado nenhum esporte desde que ficou paraplégico, após um mergulho que resultou na lesão da coluna, há 15 anos.
Leonardo é um dos 15 participantes do Gladiadores, que entre 30 de maio e 3 de junho vai disputar o Campeonato Bra­­sileiro, em Caiobá. O evento terá a participação das outras 15 equipes do país.
“Foi assistindo [o filme] Murderball que soube da existência do rúgbi CR. Em 2010, vi uma oficina sobre o esporte e decidimos colocar em prática para oferecer mais uma opção de atividade física aos tetraplégicos, que antes tinham à disposição apenas a bocha”, conta o técnico do time, Marcelo Kamarowski.
Para os Jogos de Londres, o Brasil não terá uma seleção na disputa, mas pode ter um time na Paralimpíada do Rio (2016), visto que o país anfitrião se classifica para todas as modalidades.
“Temos a intenção de revelar atletas, mas o principal é divulgar o esporte e in­­­centivar a criação de mais equipes”, diz o presidente da Federação Paranaense de Rugby em Cadeira de Rodas, Car­­los Kamarowski, irmão de Marcelo.
A estudante Tainá Melany Santos, 20, começa a descobrir o esporte. Nesta semana, participou, com o irmão Wesley, 18, de seu terceiro treino. “Na primeira vez, estranhei bastante o bate-bate das cadeiras de rodas. Agora, estou gostando da experiência, especialmente porque meu irmão está muito motivado”, diz a jovem, que tem deficiência física congênita e até duas semanas atrás nunca havia praticado esporte algum.
A equipe surgiu há um ano pela organização não governa­mental Saúde e Esporte e tem o apoio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que cede o espaço para os treinamentos e forneceu duas cadeiras de rodas para a modalidade (cada uma custa em torno de R$ 3 mil).

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