- O autismo é um universo desconhecido por muitas pessoas. É um transtorno que desafia a ciência, por ser complexo, ter causa desconhecida, diferentes graus e diferentes apresentações: pode haver tanto crianças que não conseguem falar, quanto outras que apresentam habilidades extraordinárias. Quando os pais descobrem que tem um filho autista sentem-se bem confusos e temerosos, principalmente em relação ao grau do transtorno.
Os estudos mostram que a rede de neurônios que coordena a comunicação e os contatos sociais são organizados de uma forma diferente em autistas. O transtorno afeta quase todos os aspectos do comportamento humano: a fala, o interesse por amizades e vida social, os movimentos do corpo, as emoções e as interações.
O autismo deve ser diagnosticado precocemente, por meio de testes de comportamentos e questionários respondidos pelos pais. Sabemos que a plasticidade cerebral (estrutura cerebral que é capaz de se modificar de acordo com os estímulos recebidos) é muito intensa dos 0 aos 6 anos. Nesta fase inicial, o tratamento apresenta melhores resultados. Depois disso, as deficiências não são mais tão minimizadas, portanto é essencial buscar ajuda cedo, caso a família perceba índícios de autismo na criança. Os pais devem ficar atentos a:
- Atrasos na fala;
- Olhar distante. Muitas vezes não responde quando é chamado pelo nome;
- Não interage a estímulos afetivos, como um olhar, um abraço ou um sorriso. Atitude ausente;
- Quando bebezinho, não estica os braços para ser tirado do berço. Muitas vezes, faz movimentos repetitivos para chamar a atenção;
- Brinca de forma sistemática, não lúdica. Ex: Em vez de interagir com o boneco (mundo da imaginação), prefere alinhá-lo a outros brinquedos, enfileirando-os;
- Na presença de outras crianças se isola, por falta de interesse.
Apesar de ser um transtorno incurável, as pesquisas mostram que existem muitos autistas que, por terem boa assistência durante a infância, cresceram e se desenvolveram muito bem, e muitos inclusive apresentaram inteligência superior em certas áreas, se destacando no mercado de trabalho.
O fato de pensar de uma forma muito lógica faz com que muitos autistas tenham muita facilidade em matemática e em música. Aliás, cada vez mais estudos apontam a música como ferramenta poderosa para desenvolver habilidades, inclusive em crianças autistas. Somos estimulados através dos sons (matéria-prima da música), desde o quinto mês de vida intra-uterina, quando nosso sistema auditivo está apto para receber informações. A música é interessante para a criança desde sempre e isso é maravilhoso, porque a motivação (vontade e interesse em querer aprender o conteúdo) é essencial para a construção da aprendizagem. Os pais dos autistas geralmente recebem orientações para que estejam atentos aos interesses do seu filho, porque ao descobri-los poderão utilizá-los como links para desenvolver diversas habilidades. A música é sem dúvida uma destas pontes, que atraem a atenção da criança autista e que é uma facilitadora da aprendizagem. Estudos de ressonância magnética funcional apontam que a música causa um efeito único em pessoas autistas, principalmente como intervenção terapêutica. A música, quando utilizada de forma adequada, é capaz de relaxar, trazer sensação de bem-estar, o que pode auxiliar de forma natural no tratamento em conjunto com outras terapias. Outro fato importante é que pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), apesar de terem grande dificuldade em perceber sentimentos nas expressões faciais, são capazes de perceber sentimentos de alegria e tristeza em uma peça musical, ou seja, os sentimentos de uma peça musical torna-se mais claro para um sujeito com TEA do que a visualização de expressões faciais. A música tem o poder de ser uma facilitadora de comunicação, mas para que o autista seja realmente beneficiado, com resultados a longo prazo, é necessário que a música seja utilizada de acordo com os interesses da criança, com um professor que realmente conheça as especificidades do transtorno e que saiba utilizar técnicas de musicoterapia (terapia alternativa que utiliza a música como ferramenta para desenvolver habilidades e objetivos pré-estabelecidos no indivíduo). Nas aulas, são utilizadas atividades que promovem um vínculo de respeito e confiança entre o aluno e o professor, que planeja as interações de acordo com a maturação biológica do aluno. O espaço onde as aulas acontecem deve ser seguro, livre de distrações e o material oferecido não deve oferecer qualquer perigo.
Nas aulas de música para autistas, as atividades são diversificadas, com metas bem definidas. Os exercícios são lúdicos, com diversos objetivos, como socializar a criança (através de brincadeiras de roda, brincadeiras em dupla, onde o contato visual é estimulado e valorizado), desenvolver sua psicomotricidade (através de jogos psicomotores, pedagógicos, canções utilizando sons do corpo, manuseando instrumentos musicais), a linguagem (através de jogos cênicos, contação e organização de histórias cantadas com figuras associadas, jogos de tabuleiro), dentre outros. Brincando, a criança associa gestos e movimentos a conceitos musicais mais abstratos, aprende regras sociais, aumenta sua expressividade e descobre o mundo de forma agradável. Além disso, descobrimos através das brincadeiras os interesses e necessidades individuais da criança, o que é de suma importância, pois através destas descobertas as pessoas que interagem com o autista poderão utilizar estes interesses como temas para desenvolver conteúdos específicos. Exemplo: muitos autistas demonstram interesse por animais, dinossauros, outros preferem carrinhos, trens, etc. O professor geralmente percebe estes interesses e utiliza nas aulas, pois a motivação é essencial para a construção da aprendizagem de diversos conteúdos.
A música é uma arte extremamente acessível a todas as classes sociais. As famílias também podem estimular seus filhos em casa através da música. Existem músicas sobre qualquer tema, para trabalhar diversos conteúdos. É necessário, porém, muita pesquisa, dedicação e muita observação por parte da família em relação à criança, no sentido de descobrir os interesses dela, para fazer com que ela se interesse em interagir com as propostas. Se a criança gosta de pular, procure músicas que estimulem os movimentos corporais. Se a criança demonstra interesse por instrumentos musicais, compre tamborzinhos, clavas, chocalhos e toque com ele, acompanhando diversos estilos musicais. Se ele gosta de brincar com a bola, ligue o som com uma música que ele gosta e brinque de bola com ele olhando nos olhos e toda vez que ele olhar nos seus olhos, comemore com muita animação. Sabemos o quanto é difícil para o autista o contato visual, portanto, devemos criar atividades que estimulem o desenvolvimento desta habilidade.
Brincar com a música, é muito mais do que diversão. É uma linguagem essencial, onde a criança aprende a se expressar melhor e descobrir o mundo. Ela pode ser a ferramenta que fará grande diferença no desenvolvimento e na qualidade de vida da criança autista. A música está disponível a todos e é muito poderosa. Que tal experimentar?
sábado, 4 de outubro de 2014
Música e autismo: uma dupla que dá certo!!
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