domingo, 26 de janeiro de 2014

Brasileiro lidera pesquisa de estados de coma de longa duração em Harvard

G1

Nesta semana, o acidente do heptacampeão de Fórmula 1 Michael Schumacher completa um mês. Ele está em coma, desde que bateu a cabeça em uma rocha, esquiando nos Alpes franceses.
Um grupo da Universidade Harvard, sob o comando de um médico brasileiro, pesquisa estados de coma de longa duração. Os cientistas tentam entender o que acontece no cérebro, e buscam uma cura para situações que parecem irreversíveis.
Já são 28 dias em coma. Michael Schumacher, 45 anos, o maior campeão da história da Fórmula 1, segue internado com uma lesão cerebral grave causada por um acidente de esqui.
A pedido da família, os médicos não divulgam informações detalhadas. Dizem apenas que o quadro segue estável, mas crítico. Se um dia Schumacher vai ter uma vida normal, ninguém sabe.
O coma é um dos fenômenos mais complexos e intrigantes da medicina. Como entender se uma pessoa está totalmente inconsciente se ela não consegue se comunicar? Como definir a consciência? Como saber se um caso que irreversível é mesmo, ou se ainda existem esperanças?
Nos Estados Unidos, em uma das universidades mais respeitadas do mundo, um grupo chefiado por um brasileiro busca respostas para essas perguntas e também tenta despertar cérebros que não reagem mais aos tratamentos convencionais.
O Fantástico foi até Boston conhecer esse trabalho. “Coma significa uma diminuição da consciência”, explica Felipe Fregni, do Laboratório de Neuromodulação de Harvard. 
Existem vários tipos. No coma induzido, os médicos dão remédios para diminuir a atividade do cérebro. O órgão descansa para tentar se recuperar. Isso foi feito com Schumacher assim que ele chegou ao hospital.
Em outro tipo de coma, o estado de consciência mínima, o paciente está desacordado, mas reage a alguns estímulos, como imagens e sons.
No coma mais grave, o estado vegetativo, a pessoa não responde a praticamente nada.
“É preciso entender o que está acontecendo, o que você precisa desbloquear no cérebro para esse paciente melhorar”, afirma do Dr. Felipe Fregni.
O doutor Felipe mora nos Estados Unidos, mas vem muito ao Brasil, onde um de seus pacientes é o cineasta Fábio Barreto.
Diretor de “O Quatrilho” e “Lula, o filho do Brasil”, Fábio está em coma desde dezembro 2009, quando perdeu o controle do carro e despencou de uma altura de quatro metros, em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Na época com 52 anos, Fábio sofreu lesões cerebrais muito graves. Hoje, quatro anos depois, ele abre e fecha os olhos, e não muito mais que isso.
“A gente está sempre buscando novos tratamentos”, diz Deborah Kalume, mulher de Fábio.

Apareceram algumas respostas positivas, mas muito sutis. “Um olhar mais firme, são coisas pequenas. Você encosta para fazer um carinho nele e ele leva um susto. Só que ele leva um susto de tirar completamente o braço. Para a gente, é muita coisa”, diz Deborah.
No caso de Fábio Barreto, o doutor Felipe está usando um remédio chamado amantadina. Foi criado há mais de 40 anos para a gripe. Depois, passou a ser usado contra a doença de Parkinson. E agora é uma nova aposta para pacientes em coma. Em alguns casos, pode funcionar.
“Melhora o nível de atenção, o nível de resposta verbal e o nível de resposta motora também”, explica o médico.
A amantadina é uma das técnicas usadas pela equipe de Harvard. Mas existem outras duas estratégias, que estimulam o cérebro diretamente.
A primeira é com corrente elétrica, que atravessa o cérebro para tentar facilitar a passagem dos impulsos nervosos.
“São duas baterias de 9 volts. Não vai dar choque no paciente, é uma corrente baixa”, afirma o doutor Felipe.
O outro tipo de estimulação usa um campo magnético, criado por um imã. “Você tem um paciente em estado minimamente consciente, ele talvez não consiga abrir e fechar a mão, porque está interrompida a ligação entre a mão e o cérebro dele. Mas ele pode imaginar. Com isso, eu posso aumentar a ativação e começar a ver um sinal que antes eu não tinha”, ele diz.
Fantástico: Filmes de Hollywood como “Tempo de despertar”, em que a pessoa passa anos e anos em estado vegetativo ou de consciência mínima, e em uma bela hora acorda. Isso é possível na vida real?
Felipe: Dessa forma não. A pessoa passar anos em estado vegetativo e acordar, de repente, normal, falando, tendo todas as funções neurológicas, não. O cérebro é lento.
Repórter: O que já te deixaria satisfeita, contente se acontecesse?
Deborah: Que ele falasse o que ele quer, se ele gosta de uma posição ou outra, se ele prefere a cabeça assim ou assado. Qualquer coisa.
No caso de Michael Schumacher, coberto de segredos, é impossível um prognóstico preciso.

“O cérebro muda constantemente. Eu acho que é muito difícil você dizer ‘esse paciente não vai ter recuperação ou a recuperação dele vai ser muito pequena’”, avalia Fregni.
Ou seja: o futuro do maior vencedor da história da Fórmula 1 é um grande ponto de interrogação.

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