terça-feira, 26 de março de 2013

Estudante com doença degenerativa emociona comissão avaliadora e se torna mestre em Educação


Cláudio Dusik tem atrofia muscular espinhal e desenvolveu um teclado virtual para poder escrever

Estudante com doença degenerativa emociona comissão avaliadora e se torna mestre em Educação Júlio Cordeiro/Agencia RBS
Larissa Roso  Zero Hora
larissa.roso@zerohora.com.br
Cláudio Luciano Dusik, psicólogo que sofre de atrofia muscular espinhal (AME) retratado em reportagem de Zero Hora na segunda-feira, defendeu, na manhã desta terça, a dissertação de mestrado Teclado Virtual Silábico-Alfabético: Tecnologia Assistiva para Pessoas com Deficiência Física. Depois de uma hora de explanação, familiares, universitários e colegas de trabalho e de curso o aplaudiram de pé em uma sala lotada da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os três avaliadores ressaltaram o impacto social e a utilidade pública do trabalho e indicaram a publicação sem qualquer mudança no texto. Dusik também foi convidado a representar a instituição em um evento sobre informática na educação a ser realizado no México, em julho. 

– Um trabalho impecável. Foi comovente. A recomendação da banca é publicar, divulgar, apresentar em eventos científicos – conta a doutora em Educação Lucila Maria Costi Santarosa, orientadora da pesquisa. 

Dusik sofre de AME do tipo Werdnig-Hoffmann, doença de origem genética que provoca fraqueza e atrofia progressivas, comprometendo os movimentos e causando deformidades no corpo. Aos 36 anos, o estudante consegue mexer, com limitações, apenas a cabeça e a mão esquerda. Para driblar a rápida evolução da enfermidade, que o impediu de escrever a partir de meados do curso de graduação, Dusik estudou lições de informática e aprendeu os princípios da linguagem de programação. Em quatro meses, lendo pesados livros durante a madrugada e nos intervalos das aulas de psicologia na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), criou um teclado virtual. O Mousekey permite a seleção de letras e sílabas na tela, a partir de cliques no mouse.

Muitos dos espectadores interessados em acompanhar a sessão não conseguiram entrar. Surpresos, professores comentavam nunca ter visto uma banca de mestrado tão concorrida. Dusik e a mãe, a professora de séries iniciais Eliza Arnoldo, 58 anos, choraram no momento em que a comissão expôs suas considerações.

– Eu estava bastante ansioso, mas era só uma ansiedade natural. É um tema que domino. Os professores disseram que não me avaliaram, fui eu que os ensinei. Acho que não teve quem não se emocionou – disse o mestre, ao final de um almoço comemorativo com parentes e amigos, após o compromisso acadêmico.

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