quinta-feira, 15 de março de 2012

Uma formação muito especial


 









Descrição da Imagem: Fotografia de uma mulher sentada numa cadeira escolar olhando sorridente para uma criança que aparece de costas para a cena.
 
Um dos aspectos mais importantes para o desenvolvimento de uma pessoa com deficiência é como ela é tratada em sua formação escolar e acadêmica. No Brasil, desde 2008, há uma legislação específica para o tema, baseada, substancialmente, na questão da inclusão, ou seja, todas as crianças, independentemente de ter ou não algum tipo de limitação, devem frequentar a mesma sala de aula. Ainda assim, há divergências a respeito do pleno funcionamento dessas regras.
Para Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, fonoaudióloga, mestre em Educação e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), a qualidade da formação desses profissionais depende do interesse de cada curso de pedagogia ou Licenciatura. "Há uma recomendação do MEC para que seja inserida uma disciplina tratando deste tema nos currículos. No entanto, ela não é seguida pela maioria dos cursos. É frequente a questão não ser trabalhada na formação e o estudante tomar contato com alunos com deficiência apenas nos estágios. Assim, a formação é deficiente e muito ainda precisa ser feito".
Ela cita um exemplo: "Trata-se da inserção da disciplina de Língua Brasileira de Sinais nos currículos (essa, sim, obrigatória), que não discute inclusão propriamente, mas a necessidade dos alunos surdos de serem atendidos, considerando- se a língua dos sinais (Libras). Contudo, muitas instituições de Ensino Superior não cumprem a legislação e não oferecem a disciplina, o que favoreceria algum conhecimento e debate sobre a inclusão. As universidades públicas são as que menos têm atendido a essa exigência, porque não contam com vagas para contratação de novos professores", aponta Cristina.
Quanto às especificidades de cada deficiência, como surdez, cegueira ou deficiência intelectual, Cristina de Lacerda avalia que o professor precisa de formação específica, conhecer as singularidades de cada uma das deficiências e de seu aluno, especificamente. "A partir daí, então, pensar conjuntamente com o corpo docente da escola, orientador pedagógico e direção de que modo atender adequadamente este aluno. Não se trata de uma ação isolada do professor, mas de um conjunto de ações de toda a escola".
A professora da UFSscar é crítica em relação à atuação de alguns professores. "Muitos se preocupam especificamente com seus alunos com deficiência, preparam aulas diferenciadas para melhor atender. Mas isso, infelizmente, não é igual em todos os locais. Há boas experiências e outros casos de mera aceitação da matrícula, sem qualquer cuidado especial".
Cristina de Lacerda também aponta problemas no formato das universidades. "São exclusivistas. No movimento de inclusão de pessoas com deficiência, a instituição tem sido o espaço com mais dificuldade de aceitar. Os docentes mantêm suas aulas como fazem há anos e não querem se modificar. Há forte resistência, principalmente nas áreas das chamadas ciências duras, que acreditam que sua tarefa é ensinar quem dá conta, quem se destaca. Os demais, se não conseguem aprender, não é um problema do professor. Nesse sentido, a universidade não é inclusiva".
Para que o processo de aprendizado da pessoa com deficiência se torne eficiente, a professora tem firme convicção de que é fundamental que a escola se adapte ao aluno e não o contrário. "A escola é um conjunto de profissionais capacitados e eles é que devem se movimentar em direção às dificuldades de qualquer aluno".
"Hoje, os professores de educação especial trabalham conjuntamente com os demais" (Maria Teresa Mantoan)
Para Maria Teresa Mantoan, da Unicamp a formação específica dos professores, atualmente, é positiva e adequada à nova política
E para isso, uma das ferramentas mais importantes, segundo Cristina, é o uso da tecnologia. "Ajuda muito, como em ampliação de imagens, vídeos, sistemas de comunicação alternativos. Mas a simples existência dos instrumentos tecnológicos não é um valor em si. Precisam ser bem utilizados e conhecidos pelas escolas e profissionais. E é aí que está o maior problema. Às vezes, temos os recursos, mas não pessoas que saibam adaptá-los às necessivdades de cada aluno".
Cristina conta que a Universidade Federal de São Carlos ofecere um curso de formação em Licenciatura para Professores de Educação Especial. Estamos no quarto ano de funcionamento, vamos formar a primeira turma. "Durante esse período tivemos turmas cheias (40 alunos) e muito interessadas na temática e na formação. As primeiras experiências de estágios mostram grande envolvimento dos futuros professores e boa aceitação das escolas. Parece ser um bom caminho", finaliza.
Fonte: http://revistasentidos.uol.com.br/inclusao-social/69/uma-formacao-muito-especial-especialistas-opinam-sobre-o-atual-252721-1.asp

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