Quantas vezes passamos em nossas vidas de professores por alunos que nos deslumbram por sua incrível capacidade de compreender e acompanhar nossos raciocínios e reflexões nas mais diversas áreas do conhecimento? Tornam-se ainda mais instigantes para nós por estarmos diante de pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de aprofundar seus estudos como nós, como profissionais da educação, especializados em diversas matérias ou conteúdos pudemos fazer.
Essas pessoas muitas vezes são tão inteligentes que podem superar a capacidade de seus mestres e, por incrível que pareça, podem ter as mais diversas origens sociais (diferentemente do que se apregoa em muitos cantos, de norte a sul desse planeta, inclusive em nossa terra brasilis, o conhecimento não é privilégio dos nobres, a quem foi legada uma melhor condição sócio-econômica!).
No entanto, a escola os trata como a todos os outros, não parece interessada em valorizar suas habilidades e suas potencialidades. Muitos professores acabam fechando suas portas a esses alunos por não saberem exatamente o que devem fazer em relação a eles ou ainda por temerem que os pupilos possam superá-los e colocá-los em situação de desvantagem perante a academia a que pertencem.
Essas verdadeiras pérolas (dessa forma acho que já estou respondendo a pergunta com a qual iniciei esse texto), de tão raras que são, deveriam ter a seu alcance os recursos necessários para que pudessem desenvolver ainda mais suas capacidades e, dessa forma, para que chegassem a reverter para a sociedade em que vivem, resultados de trabalhos que teriam sido capazes de realizar em vista desse incentivo a que teriam tido acesso.
Tudo começa quando um notável mestre de uma conceituada instituição universitária norte-americana coloca no quadro-negro um problema matemático que julga ser de impossível solução pelos alunos que freqüentam suas aulas. Constitui-se tal atividade num desafio aparentemente intransponível para os grupos com os quais esse educador está trabalhando, mas, como toda "pedra no sapato" que se preze, quem sabe um deles pudesse, num grande esforço, solucioná-lo.
Alguns dias depois de ter apresentado o aparente "enigma da pirâmide", o professor é surpreendido com a resposta anotada numa das lousas do corredor da universidade, assim como depara-se com a solução do problema equacionada em suas diversas etapas. Teve que capitular e, atônito, passou a perguntar aos quatro cantos pelo realizador de tal intento, já que imaginava-o impossível para seus pupilos. Cria-se um ar de mistério pois ninguém se apresenta. Um novo problema, ainda mais difícil, é então disponibilizado para as salas e, para o espanto geral, dias depois, algum "Einstein" de plantão apareceu para resolvê-lo anonimamente.
O que foi descoberto a seguir surpreendeu ainda mais ao professor e a todos que faziam parte dessa referida comunidade acadêmica, o autor de tal displante foi um dos jovens responsáveis pela limpeza e manutenção do ambiente, uma pessoa que nem ao menos freqüentava os cursos e que circulava pelo local como servente da instituição.
O personagem Will Hunting, interpretado por Matt Damon (que ganhou em parceria com Ben Affleck o Oscar de melhor roteiro original por esse filme), tem no entanto, uma ficha das mais encrencadas, tratando-se de um jovem violento e problemático, proveniente de área suburbana e aparentemente mal-relacionado (seu grupo de amigos é pouco afeito a estudos e muito propenso a confusões); mesmo assim, trata-se de um talento promissor, desses que não se acha em qualquer esquina, do tipo que tentamos fazer surgir em nossa labuta diária na sala de aula mas que, apesar de nossos esforços e do trabalho pesado de alguns de nossos alunos para atingir tal objetivo, não depende somente de suor ou de muitas horas debruçados sobre livros, fazendo contas, estudando conceitos (obviamente que, atitudes como essas são fundamentais para a formação e aperfeiçoamento de nossos alunos para que venham a se tornar profissionais de alto nível, no entanto, algumas pessoas parecem ter nascido para determinadas funções e, nenhum empecilho as parece derrubar de sua rota rumo ao sucesso).
O que fazer? Essa pergunta leva o professor universitário a buscar o auxílio de renomados psicólogos para resolver os dilemas de Will e, dessa forma, encaminhá-lo para uma brilhante carreira. O único que parece entendê-lo é Sean McGuire (vivido pelo ator Robin Williams, que dá carisma ao personagem), mesmo Will tendo passado pelas mãos de pessoas mais estimadas ou consideradas que McGuire. O diálogo que se estabelece entre eles parece ser a possibilidade de resolução de problemas que se acumulam desde o passado do jovem. O desenlace da trama se dá por conta de opções que são apresentadas ao tal "gênio indomável" Will Hunting, suas escolhas, acertadas ou não, passam em boa parte, pelo entendimento com McGuire através de suas conversas.
De certa forma, podemos dizer que nossa melhor arma para encarar as dificuldades de relacionamento, seja com alunos que apresentam enorme potencial, seja com estudantes que tem baixo rendimento ou mesmo com aqueles que levam uma vida escolar regularizada (e que também estão sujeitos a intempéries ao longo da jornada!), acaba sendo o bom e velho bate-papo, o diálogo sugerido no filme de Van Sant.
Quantos de nós parecemos ter perdido essa velha receita. Não custa nada tentar revê-la, ela ainda pode render grandes dividendos para todos.
fonte:http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=53
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