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A arquiteta Fabiana Nathalie: ampliação de portas e corredores para adaptar os espaços de uma casa de repouso
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Facilitar o acesso e diminuir obstáculos são prioridades para
tornar os espaços confortáveis para pessoas idosas
Fonte: Gazeta do Povo
A população do Brasil está envelhecendo. De acordo com o último Censo do IBGE,
divulgado em abril de 2011, a etapopulação com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em
1991, chegou a 7,4% em 2010. O crescimento aponta para uma possibilidade: até
2025 o Brasil terá uma população de cerca de 32 milhões de pessoas com mais de
60 anos.
O dado, além de inspirar cuidados relativos à saúde da população, também
indica que a aparelhagem urbana e as residências terão de estar prontas para
receber a população mais velha e deixa-la confortável inclusive dentro de casa.
Por isso, é preciso evitar obstáculos. Mesas e cadeiras muito baixas, móveis que
não estão bem firmados, pisos e tapetes escorregadios, espaço suficiente entre
os móveis e nas portas e corredores também são inimigos do bem-estar do
idoso.
“A residência que vai ser ocupada pelo idoso e até mesmo aquela onde já moram
adultos, que um dia vão envelhecer, poderia ter detalhes que atentam para essa
necessidade”, explica a arquiteta Fabiana Nathalie, da NHT Arquitetura. Ela já
trabalhou em projetos de adaptação de imóveis para a implantação de casas de
repouso e na reforma da casa da própria avó. “Nas casas mais antigas, como
aquela em que minha avó morava, havia um degrau para chegar ao banheiro. Foi
preciso fazer um contrapiso de 12 centímetros para nivelar o acesso e mudar a
abertura da porta para fora, além de colocar barras de apoio para o vaso
sanitário e no box”, explica.
Ela enumera ainda mais alguns cuidados essenciais. O piso frio deve ser
substituído por um emborrachado, lavável. Carpetes e tapetes também devem ser
evitados. Pelas paredes, principalmente dos quartos, não deve passar friagem e
os móveis não devem criar obstáculos para a passagem. Entre os móveis é preciso
deixar um bom espaço. “Entre camas, por exemplo, o ideal é que haja 80
centímetros livres de cada lado, para permitir o acesso mais fácil de uma
emergência média”, exemplifica.
Para a arquiteta, a questão mais complexa é a dos desníveis. Ela cita o
exemplo da casa de repouso Vó Mercedes, onde foi preciso adaptar os espaços para
o bem-estar dos moradores. “Normalmente as casas maiores são mais antigas e
possuem muitos desníveis no piso, o que nos obriga a projetar rampas com
corrimãos. Quanto mais plana e ampla a casa nas circulações, melhor será o
local. Caso tenha muitos desníveis, mas tenha espaço para se projetar as rampas
com as inclinações corretas, não há problema”, avalia.
Normatização
O projeto de um imóvel ideal para um idoso morar deve seguir as diretrizes da
Norma Técnica 9050, publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) em 2004. Lá, estão explicitados alguns itens básicos para proporcionar um
espaço mais confortável. Entre eles, está o tamanho de abertura mínimo das
portas: pelo menos 0,90m de vão livre é necessário. As portas dos banheiros
devem abrir para fora do ambiente, facilitando o acesso do cuidador ao idoso que
por ventura sofra um mal súbito ou caia atrás da porta. Corredores internos ou
áreas de circulação externa devem conter corrimão e ter, no mínimo, um metro de
largura. Não é permitido desnível no piso, de forma alguma, havendo sempre a
necessidade de rampa, devidamente calculada, com as inclinações descritas nas
normativas (o ideal é não ultrapassar 8,33% em construções novas e 12,5% em
reformas onde não seja possível menor inclinação).
Adaptação é feita sob encomenda do cliente
Para as construtoras, custa caro oferecer um imóvel com todos os
quesitos exigidos para o bem-estar de um idoso. Mas, quem precisa das adaptações
pode pedi-las como personalização do projeto. “O que já é ponto pacífico é a
acessibilidade nas áreas comuns, onde o empreendimento já vem com essa concepção
de que é preciso ter rampas ou plataforma elevatória para acesso de todos”, diz
o gerente de produto da Thá Incorporadora, Valdecir Scharnoski.
A dimensão de portas e corredores, no entanto, vai depender da adaptação
necessária para cada um. “Seria até injusto com o produto e com os moradores de
cada unidade privativa, se exigíssemos que ele aceitasse uma medida mínima para
porta se ele não tem a necessidade”, considera. De acordo com ele, os produtos
são criados pensando em casos gerais e não específicos.
A engenheira civil Vivian Curial Baeta de Faria, coordenadora do Programa
de Acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia no
Paraná (Crea-PR), diz que a acessibilidade deveria ser pensada como item
essencial para todos, não só para idosos ou pessoas com necessidades especiais.
“A partir do momento em que você faz adequações para tornar os ambientes mais
seguros, todos são envolvidos, embora algumas pessoas sejam preferenciais nesse
contexto. Mas ao passar dos anos os moradores vão envelhecer ou até mesmo por
uma necessidade temporária, como uma perna quebrada e até uma gravidez, esses
itens são importantes”, afirma.
Ela comenta que independente da idade, cada um pode pensar se a casa que
habita estaria pronta para receber um idoso. “Podemos pensar se a circulação
está livre, se não tem ‘armadilhas’ em armários, se o piso não propicia uma
queda. As nossas casas não estão preparadas para os idosos, que têm locomoção,
audição e visão dificultadas. Mas estamos envelhecendo, nossa situação pode
mudar e vamos precisar de lugares ideais”, defende.