quinta-feira, 23 de abril de 2015

Time de futebol em cadeira de rodas se prepara para campeonato brasileiro

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Prefeitura de Curitiba

Todas as sextas-feiras, um time de Power Soccer se reúne na quadra do Centro de Esporte e Lazer Xaxim, equipamento da Prefeitura de Curitiba, para se preparar para o campeonato brasileiro da modalidade, no fim do ano. O Curitiba Power Soccer tem o apoio técnico da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer e vem despertando autonomia e confiança em esportistas com deficiência.
Esporte novo no Brasil, o power soccer é um jogo de futebol adaptado para cadeira de rodas. Começou a ser praticado nos anos 70 e no Brasil chegou somente em 2011.
Todos os jogadores do Curitiba Power Soccer têm deficiências severas, como paralisia cerebral, atrofia espinhal e distrofia muscular. Estas limitações, porém, não impedem que participem dos treinamentos da equipe.
O apoio técnico é dado pelo professor de Educação Física Ramiro de Freitas, servidor da Prefeitura. Segundo ele, o objetivo dos treinos é preparar a equipe para sua segunda participação no campeonato brasileiro da modalidade, que será disputado no Rio de Janeiro, em novembro.
No ano passado, a equipe teve seu batismo de fogo ao disputar um mundialito no Rio, contra Canadá, Estados Unidos, Austrália, Argentina e Uruguai. Apesar de enfrentar time de países mais desenvolvidos neste esporte, conquistou a quarta colocação. O bom desempenho levou à convocação de quatro jogadores para a seleção brasileira da modalidade.
Além do resultado esportivo, o trabalho também tem o objetivo de melhorar o dia a dia dos jogadores. “O momento em que eles têm maior autonomia é quando estão dentro da quadra. Por meio do esporte, eles melhoram a condução da cadeira e ficam mais confiantes para enfrentar as dificuldades”, diz Freitas.
As dificuldades são superadas com dedicação e amor ao esporte. Darci Júnior, por exemplo, foi vítima da síndrome da talidomida, droga usada para tratar pessoas com hanseníase e que se ingerida por gestantes pode causar má formação nas pernas e nos braços. Em Darci, os efeitos foram severos, pois ele nasceu com comprometimento nos quatro membros.
Apesar das limitações, um de seus sonhos era poder jogar futebol. “Nunca havia praticado nenhum esporte até que conheci o power soccer em 2012.  Estou mais confiante e feliz”, afirma.
Darci Júnior, hoje, é um dos destaques do Curitiba Power Soccer, o que lhe rendeu uma convocação para a seleção brasileira, da qual é o capitão. Ele também se tornou dirigente e tem um cargo na Associação Brasileira de Futebol para Cadeirantes (ABFC).
No caso de Wilson Matheus Ribeiro de Oliveira, de 19 anos, a descoberta do esporte mudou sua rotina e de toda a família. Por causa do filho, a mãe, Claudiane de Fátima Ribeiro, passou a acompanhar de perto a modalidade e hoje exerce o cargo de vice-presidente da ABCF.
Matheus, como é conhecido entre os colegas, foi acometido, aos 9 anos, de uma doença rara: a distrofia muscular de Duchenne, que provoca paralisia progressiva dos músculos.  Há três anos, começou a praticar o power soccer. “Quando foi obrigado a usar cadeira de rodas, a autoestima caiu muito e ele praticamente não tinha vida social. Hoje, a vida do Matheus mudou da água para o vinho”, diz Claudiane.
Juan Felipe Campesi, de 30 anos, sofre de amiotrofia muscular espinhal, uma doença degenerativa genética, que o obriga a andar de cadeira de rodas ainda muito jovem. Desde que passou a praticar o esporte, em 2013, vem todas as semanas de Ponta Grossa, onde mora, de ônibus, para participar dos treinos do Curitiba Power Soccer.
“É bastante complicado, é difícil, mas o desejo de jogar é maior. O esporte mudou minha vida em todos os aspectos: a ansiedade, a expectativa de vida, a paciência. Enquanto eu tiver forças, vou seguir jogando”, diz.
Os adeptos do power soccer também precisam superar dificuldades de outra natureza. A prática do esporte exige equipamentos especiais, que só são fabricados fora do Brasil. Uma cadeira específica para a modalidade não custa menos que US$ 3 mil (aproximadamente R$ 9 mil).
Boa parte dos integrantes do Curitiba Power Soccer usa cadeiras de rodas adaptadas, que não têm a mesma eficiência de uma projetada especialmente para o esporte. “Nossa meta é equipar o time com cadeiras de jogo strike force. Estamos correndo atrás de patrocínios para realizar este sonho”, diz Claudiane Ribeiro.
O que é
O power soccer é praticado em uma quadra padrão de basquete. As equipes são compostas por quatro jogadores, que utilizam cadeiras de rodas elétricas. O jogo é disputado em dois tempos de 20 minutos com um intervalo de 10 minutos. Durante um jogo, a bola de futebol é conduzida com a ajuda do footguard, colocado na frente da cadeira de rodas, através de dribles e passes. O objetivo é fazer gols em uma meta constituída por duas balisas, sem redes.
O Power Soccer ou Powerchair football foi criado paralelamente no Canadá e França, nos fim dos anos 70. Durante 25 anos, vários estilos foram desenvolvidos. Em 2006, em uma reunião de todos os países praticantes, as regras foram unificadas e foi criada Federação Internacional de Futebol em Cadeira de Rodas (FIPFA), com sede em Paris, França.
A modalidade chegou oficialmente ao Brasil em 2011, no Rio de Janeiro, com a criação da Associação Brasileira de Futebol em Cadeira de rodas (ABFC), que cinco meses depois foi reconhecida pela FIPFA.

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