segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Entrevista com o ator Eddie Redmayne

28/01/2015 - 19H01/ ATUALIZADO 14H0202 / POR MARIANA SCHREIBER, DE LONDRES

Eddie Redmayne como Stephen Hawking (Foto: Divulgação)
No dia 29 de janeiro, chega aos cinemas a cinebiografia 'A Teoria de Tudo', que conta a história da vida do astrofísico inglês Stephen Hawking. O longa, que foi destaque na edição de janeiro da Galileu(nº282), foi baseado no romance 'A Teoria de Tudo: A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawking', escrito pela ex-mulher do cientista, e tem cinco indicações ao Oscar de 2015, incluindo melhor filme. Galileu foi a Londres conversar com o ator indicado ao Oscar (update: Redmayne venceu o Oscar de Melhor Ator) e vencedor do Globo de Ouro Eddie Redmayne para saber como foi interpretar o papel do criador das maiores teorias sobre buracos negros. 
Você teve a oportunidade de conhecer Stephen Hawking? Como foi?
Gastei uns seis meses me preparando, lendo tudo sobre Stephen, assistindo a tudo, e, quando afinal chegou o momento de conhecê-lo, foi bastante intimidador. Acabei simplesmente falando com ele a respeito dele próprio. Foi maravilhoso e as poucas coisas que ele me disse foram muito importantes e úteis.
E o que ele falou?
Ele me perguntou se eu o estava interpretando antes do momento em que ele passa a usar a máquina de voz. Respondi que sim, e ele disse: “Minha voz era muito arrastada”'. Foi fundamental, porque me fez ir até os produtores e o diretor e para sugerir: “Precisamos deixar a voz dele quase incompreensível”.
A família toda dele viu o filme?
Sim. A coisa mais linda foi que Stephen viu o filme e, em seguida, nos deu sua voz (artificial). Isso porque quando estávamos filmando, usamos uma versão sintetizada de algo parecido com sua voz e, quando ele viu o filme, nos deu a licença para usar a sua voz de fato. Isso foi incrível.
Assista a visita dos Hawking ao set de filmagem:
Como foi a preparação para evolução da doença?
Foi muito intenso. Foram seis meses em que eu trabalhei com o coreógrafo Alex Reynolds. Nós fomos a uma clínica e conhecemos muitas pessoas que sofrem da mesma doença [a esclerose lateral amiotrófica, conhecida como ELA, na sigla em inglês]. Eu tive que pegar todas as fotos de Stephen e registros para saber como teria sido o declínio físico dele especificamente.
Por exemplo, há uma foto dele apoiado em uma bengala em seu casamento, e mesmo que pareça que ele está segurando a mão de sua esposa, você pode notar sutilmente que ela é quem o está sustentando. Essa era uma pista sobre qual era o estágio físico dele naquele momento.
Normalmente, em filmes, você pode filmar uma cena e depois, na hora de edição, você pode mudar a ordem das cenas. Mas, nesse caso, uma vez que seu dedo parou de funcionar, ele não pode se mover mais. Então aqui, mais do que em qualquer outro filme, tivemos que ser muito focados em como seria a progressão da doença.
Você tinha algum truque para se manter com o corpo imóvel?
Foram seis meses de preparação para que meus músculos se reformulassem. Eu tive um osteopata que via com frequência porque quando você está nessas posições o dia inteiro, seu corpo começa a se realinhar. E isso aconteceu com o meu rosto também. O maquiador disse que cresceram mais músculos de um lado do rosto. O complicado foi fazer meu corpo parecer relaxado nessas posições, enquanto, na verdade, para eu interpretar, eu tinha que colocar um monte de tensão. 
Acompanhe como foi a preparação do ator para a evolução da doença de Hawking:
E como foi a preparação para viver o cientista? Você estudou cosmologia? Entendeu tudo?
Eu li todos os livros do Stephen. Se eu entendi todos eles? Não. Se eu entendi 50%? Não! Mas foi muito importante para mim que, do meu próprio jeito, eu entendesse as coisas sobre as quais o filme está falando. O que é muito confuso sobre Stephen é que muitas das coisas que ele descobriu depois ele mesmo provou que estavam erradas. Então, assim que eu entedia uma coisa, eu descobria que, na verdade, ela não existe! [risos].
O que foi mais difícil: a preparação física ou estudar cosmologia?
Ai, Deus, ambas foram muito difíceis… Não, a parte física foi mais difícil porque quando você está filmando você está nessas posições durante todo o dia, com o rosto contorcido, a ponto de sentir cãibras. Mas acho que o principal era que, no final do dia, por mais que eu sentisse dor, eu podia me levantar e ir embora, e ele não podia, nem as muitas pessoas que conheci, por isso fiquei muito grato. Viver neste mundo faz você ser muito grato pela sua própria saúde.
O desafio do balde de gelo (campanha que levantou recursos para pesquisas de tratamento para a esclerose lateral amiotrófica, ELA) foi um enorme sucesso, mas também gerou muita controvérsia. Qual sua opinião?
Eu participei da campanha. Basicamente a doença do neurônio motor, ou ALS (sigla para ELA em inglês), ou doença de Lou Gehrig, são as mesmas coisas com nomes diferentes. Não há muitas pessoas com essa doença e, por causa disso, não tem havido muitos recursos para pesquisas de tratamento. É uma doença horrível. Agora, eu posso entender as pessoas que dizem: “Ah, são apenas celebridades querendo aparecer”. Mas quer saber? A campanha arrecadou dinheiro, muito dinheiro.

E se ele está tornando o assunto conhecido — e esperamos que o nosso filme conscientize as pessoas de que essa doença é conhecida há quase cem anos e ainda não estamos perto de encontrar uma cura — então só pode ser bom. Eu entendo as críticas. Eu vi alguns vídeos em que as pessoas estão brincando e parecem diminuir a seriedade, mas se em algum momento ela está levando as pessoas a pesar no que é a ELA e a doar…
http://revistagalileu.globo.com/Cultura/Cinema/noticia/2015/01/entrevista-com-o-ator-eddie-redmayne.html

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