segunda-feira, 16 de junho de 2014

Exoesqueleto frustra na Copa


Reprodução/TV Globo / Desempenho e aparição discreta gerou críticas ao exoesqueleto
Aparato robótico recebeu R$ 33 milhões de recursos públicos e foi anunciado como grande atração da abertura do Mundial, mas o resultado decepcionou
Foi uma questão de segundos. Enquanto um espetáculo chamava atenção do público e ao mesmo tempo o ônibus com a seleção brasileira entrava na Arena Corinthians – local da estreia da Copa do Mundo –, num canto do gramado um homem paraplégico ladeado por cientistas e um aparato robótico gigantesco tocava uma bola de futebol que rolou alguns poucos centímetros e foi apanhada por um ator que interpretava um árbitro.
A rápida demonstração prometia ser o grande momento da abertura da Copa: o exoesqueleto batizado BRA-Santos Dumont 1, desenvolvido por uma equipe de cientistas capitaneado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, fez com que o usuário, o atleta Juliano Pinto, de 29 anos, movesse suas pernas com um comando emitido por sua própria mente.
Críticas
Comunidade científica põe em dúvida eficácia do aparato de Nicolelis
Cadeirantes e cientistas procurados pela imprensa brasileira também criticaram a exibição da máquina. “O que foi exibido ao mundo, infelizmente, é tudo o que já se sabia do exoesqueleto: uma dúvida profunda a respeito de todos os seus potenciais, desdobramentos e capacidades”, disse à revista Veja o jornalista paulistano e cadeirante Jairo Marques.
“Mesmo depois da demonstração não fica muito claro se isso será um avanço. A ciência, tradicionalmente, é movida por cientistas que publicam suas descobertas em revistas científicas rigorosas que promovem uma análise justa dos feitos dos cientistas. Isso ainda não foi feito com o projeto Andar de Novo”, criticou o neurocientista Daniel Ferris, da universidade de Michigan, dos Estados Unidos.
Outros cientistas também apontaram o fato de não haver publicações científicas que apontem os resultados dos testes feitos em humanos. Além disso, o método utilizado para o BRA-Santos Dumont 1 não é o mesmo em que o neurocientista Miguel Nicolelis baseia suas pesquisas.
Matéria do Estado de São Paulo aponta que a eletroencefalografia (EEG), já criticada pelo cientista, foi a base para a touca neural utilizada pelo atleta Juliano Pinto. O cientista trabalha há 15 anos com pesquisas de interface cérebro-máquina que têm como base os implantes corticais, que são mais invasivos e específicos, e menos seguros.
A empreitada, parte do Projeto Andar de Novo (Walk Again Project), desenvolvida pelo Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke, na Carolina do Norte, e o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, recebeu apoio financeiro de R$ 33 milhões do governo federal e entregou menos do que prometia. Os textos publicados nos sites oficiais do mundial anunciavam que uma pessoa paraplégica chegaria ao estádio numa cadeira de rodas, levantaria e, após caminhar 25 passos, daria o pontapé inicial da Copa.
Controvérsias
Procurado pela reportagem, Nicolelis não quis dar entrevista. Em sua conta pessoal no Twitter, o neurocientista comemorou o feito. “We did it!” (“Conseguimos!”), escreveu em inglês. Fora do gramado, porém, o exoesqueleto não causou grande impressão.
Também no twitter, Nicolelis rebateu comentários feitos por internautas, que criticavam o alto custo do projeto e a falta de autonomia e de praticidade do exoesqueleto – o conjunto, sem contar o peso do usuário, tem cerca de 70 quilos. Nos vídeos de demonstração divulgados pelo laboratório do cientista, os pacientes caminhavam amparados por cabos suspensos o tempo todo.

http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/conteudo.phtml?id=1476384

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