domingo, 21 de julho de 2013

A HISTÓRIA DE ARIEL: AUTISTA, AOS SETE ANOS FALOU A PRIMEIRA PALAVRA; AOS 13, A PRIMEIRA FRASE. E AOS 21, FALA PERFEITAMENTE DUAS DE SUAS VONTADES: COMER PIPOCA E ASSISTIR “COMER, REZAR, AMAR

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Ariel tem 21 anos e é autista. Aos sete anos, falou pela primeira vez. Uma única palavra, mas que serviu para emocionar sua mãe, Ednah Lanah, que não se conformava com o prognóstico médico de que o filho jamais falaria. Ariel apresenta um quadro de extrema hiperatividade, e a mãe lembra que em função disso não conseguiu tratamento fonoaudiólogo em Ferraz de Vasconcelos, onde a família mora. Sem condições financeiras de custear um tratamento particular, Ednah arregaçou as mangas e iniciou sua própria terapia. Personalizada, e baseada na observação atenta e amorosa de cada reação do filho em seu dia-a-dia.
Tudo começou quando Ednah, ao perceber que Ariel ria quando as duas irmãs mais novas repetiam a frase preferida de um personagem de novela, passou a usar a mesma frase para referir-se a ele: “Eita Lelê!”. Repetiu, repetiu, até que um dia finalmente Ariel falou, ou como se lembra Ednah, gritou: “Eita!”.
Ednah não descansou, repetindo ainda mais a palavra – ao se referir aos personagens de TV, jogadores e times de futebol que Ariel gostava. Logo virou uma brincadeira, e até o sabonete usado na hora do banho virou “eita-sabonete”.
A brincadeira durou seis anos, e aos treze anos Ariel falou sua primeira frase. A emoção desta vez foi tão grande que Ednah nem conseguiu guardar qual foi a frase. A partir daí ele iniciou a fase da fala ecolálica, repetindo tudo o que a mãe falava, porém sem intencionalidade. Suas frases não estavam dentro de algum contexto, eram soltas. Pode-se dizer que naquele momento Ariel aprendera a falar, mas ainda era um ato mecânico. O processo de aprendizagem da linguagem, porém, havia começado, o que já era uma grande vitória, essencial para as próximas fases.
Aos poucos, vieram as primeiras perguntas: “Cadê a mamãe?”, e “O papai vai chegar de noite?”. Hoje, sua linguagem é praticamente normal, e apesar de certa dificuldade, consegue se fazer entender por pessoas com quem não convive diariamente. Pede pipoca quando deseja, por exemplo, e num sábado à noite comunica que vai assistir ao filme “Comer, rezar, amar”.
Mesmo seguindo sem terapia fonoaudiológica ou qualquer outro tipo, os progressos de sua fala continuam, e a articulação das palavras melhora a cada dia. Seu desenvolvimento motivou sua mãe, e hoje ela participa da ONG criada por outras duas mães de autistas, Suely Oliveira, presidente, e a amiga Jô. A ONG foi criada em Ferraz de Vasconcelos e reunirá profissionais especializados. A meta agora é conseguir um espaço próprio e recursos financeiros.
Nada que desanime Ednah Lanah. Quem já enfrentou tantas dificuldades – como a hiperatividade excessiva de Ariel, sua própria falta de conhecimento sobre autismo e as crises de agressividade que vez ou outra ainda acometem o filho, além de ter que conciliar os cuidados com o filho com os oferecidos às outras duas filhas menores – sabe que as vitórias diárias são suficientes para dar forças a quem tem uma grande luta pela frente.

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