terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Professora autista desenvolve criativo método de alfabetização

 
Por Jefferson Guimarães
O Autismo - uma disfunção global do desenvolvimento - é caracterizado por três pontos: falta de habilidade para interagir socialmente; padrão de comportamento repetitivo e individualista;  dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos.
O que poucas pessoas sabem é que o comprometimento causado pelo autismo tem níveis variados. Ele pode apresentar um quadro mais leve - sem afetar fala ou aprendizagem -, até quadros mais graves, onde o paciente não demonstra capacidade de interagir com outras pessoas.
Diagnosticada tardiamente com a doença, a professora Gisele Nascimento tem uma grande história de superação e aprendizagem. Aos quatro anos de idade ela demonstrava grande interesse pelos livros comprados pelo pai em um sebo próximo ao cais do porto de Niterói (RJ). Ler livros velhos passou a ser seu grande passatempo, mesmo sem frequentar a escola. Aos cinco anos, a curiosidade de Gisele a levou a descobrir um mundo de novidades, e a pequena começou a estudar, sozinha, a língua inglesa. Aos 10 anos, já dominava seis idiomas: inglês, alemão, francês, italiano, espanhol, além do português, aprendendo tudo de forma autodidata.
Ainda sem saber que tinha o transtorno do espectro autista, Gisele passou por dificuldades na infância. Sofreu com comentários preconceituosos e com a ausência de amigos e ficou muda durante 12 meses, dos 7 aos 8 anos. Com o tempo, o silêncio foi quebrado e as dificuldades superadas. Hoje, aos 32 anos, Gisele é formada em pedagogia, psicologia e sociologia com especialização em segurança pública.
“Passei em dois concursos para dar aulas na rede municipal de ensino de Itaboraí (RJ), o último em 2011. Inicialmente, alfabetizei crianças das classes regulares durante dois anos. Omiti o fato de ser autista para evitar o preconceito”, contou  ela ao jornal O Globo.
Gisele tem imenso prazer em dar aulas para crianças e adultos com necessidades especiais, incluindo o autismo. Mesmo com o transtorno, em grau leve, a carioca desenvolveu uma técnica eficiente de alfabetização, que serve tanto para pessoas com necessidades especiais quanto as outras, que não as têm. “Em casos de autismo de grau leve, finalizo o processo de alfabetização em seis meses. Eles aprendem, por exemplo, por métodos específicos. São extremamente visuais. Precisam de tempo para ver a imagem e associá-la à palavra, tanto escrita quanto o fonema. É preciso brincar, lidar de forma lúdica. Além disso, as recompensas têm papel fundamental no reforço do aprendizado. Premiar pequenas vitórias com peças de brinquedos, fichas e doces os mantêm estimulados e motivados por mais tempo”, comenta.
Com a técnica, Gisele - que toma medicação para controle da atividade motora - foi convidada a participar do primeiro curso de formação de professores da Clínica-Escola do Autista, em Itaboraí (RJ). Este é o primeiro local público do País a oferecer atendimento multidisciplinar gratuito para autistas.
Professora da Escola Municipal Clara Pereira, ela cuida de uma turma de seis alunos, entre 9 e 27 anos, com diversos transtornos como autismo, Síndrome de Down, deficiência intelectual e superdotação. Ela cuida de praticamente tudo sozinha, conta com a ajuda apenas de uma assistente que acompanha os casos de autismo mais grave.
Na vida pessoal a jovem também leva vida “normal”. É casada e mãe de dois filhos, uma moça de 20 anos e um bebê de seis meses.
*Com informações do site Drauzio Varella e  do jornal O Globo 

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