terça-feira, 3 de junho de 2014

Vaquinhas on-line priorizam educação, mas faltam projetos

Pessoas dizem estar mais propensas a ajudar iniciativas educativas. Sites tentam aproveitar esse cenário para angariar doações
Daniel Castellano/ Gazeta do Povo / Cladilson Nardino e a rede de voluntários da Casa da Juventude do Paraná não conseguiram juntar R$ 19 mil para um seminário

No mundo das vaquinhas on-line, o chamado crowdfunding, a educação é a área em que as pessoas mais querem doar dinheiro. No entanto, é também aquela em que há um menor número de projetos. É o que mostra a pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo do Brasil, do site Crowdfunding Catarse.
Um questionário foi apresentado a 3.336 pessoas entre agosto e setembro do ano passado. Na pesquisa, educação ficou à frente em uma lista de 26 áreas, que incluíam religião, negócios sociais, mobilidade e transporte e ciência e tecnologia. O engajamento na internet para ajudar projetos voltados ao ensino ou ao financiamento de estudos é tão grande que plataformas de financiamento coletivo direcionadas exclusivamente a propostas de educação vêm sendo criadas.
Determinação
Nem todos conseguem doações e mesmo assim mantêm ideias em pé
Jorge Olavo
Apesar da pré-disposição existente em ajudar projetos educacionais, nem todas as ideias obtêm sucesso em campanhas de financiamento coletivo. As três iniciativas paranaenses cadastradas no Catarse, por exemplo, não conseguiram angariar o valor proposto. E não foi por isso que as propostas foram abandonadas. “Todo mundo fala que gostaria de ajudar um projeto de educação, mas, na hora H, deixam para outra hora”, diz Fábio Rahal, sócio-fundador da revista científica Polyteck.
Em 40 dias, a publicação angariou R$ 9 mil dos R$ 62 mil estimados para aumentar a equipe, melhorar a qualidade do material produzido e cobrir os custos de distribuição da revista em outras universidades brasileiras. Apesar da arrecadação insuficiente, o que impede o projeto de receber qualquer quantia, Rahal conta que a visibilidade da Polyteck no Catarse rendeu novos patrocinadores e anunciantes e ajudou a levar a revista a instituições como UFSC, USP e UFGRS.
Outra ideia que foi adiante mesmo sem as doações foi o Seminário Estadual A Juventude Quer Viver, promovido em março pela Casa da Juventude do Paraná. A iniciativa de estimular jovens à reflexão sobre o momento que vivem reuniu R$ 820 dos R$ 19 mil pretendidos. “O evento aconteceu da mesma forma. Reduzimos o número de participantes e pedimos doações de alimentos e outros materiais, o que minimizou os custos”, conta um dos coordenadores do evento Cladilson Nardino. “Não tínhamos nada a perder. Era um tiro no escuro. Talvez teríamos conseguido se tivéssemos pedido um valor menor”, avalia.
O professor universitário e designer John Ramalho também não desistiu de desenvolver a plataforma digital de conteúdos educativos Educante (www.educante.com.br). Em 2013, conseguiu arrecadar R$ 240 dos cerca R$ 15 mil pretendidos e, agora, com parte do projeto desenvolvido, pretende relançar a campanha no Catarse. “Faltam projetos de educação mesmo. É uma área promissora, mas os projetos existentes são muito parecidos”, afirma Ramalho.
Nos Estados Unidos, a DonorsChoose (em tradução livre, “doadores escolhem”) faz enorme sucesso com projetos propostos pelos professores de escolas públicas. A plataforma existe há mais de dez anos e é uma das mais experientes no ramo de crowdfunding. Ao todo, já arrecadou mais de US$ 243 milhões para mais de 458 mil projetos, ajudando 11,4 milhões de estudantes de 55 mil escolas.
Segundo o pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e especialista em crowdfunding Rodrigo Davies, agora novas plataformas estão surgindo em países onde o sistema público de educação não tem recursos suficientes. “No Peru, por exemplo, a PeruChamps arrecada dinheiro para promissores jovens que não têm recursos para realizar seus projetos”, conta.
Universitários
No Brasil, a primeira plataforma de crowdfunding voltada à educação foi fundada por três estudantes universitários. Gabriel Richter, Pedro Thomas e Renan Ferreirinha montaram, no ano passado, o site O Formigueiro.
Inspirada no Donors­Choose, a plataforma só traz projetos de escolas públicas e com baixo custo de execução, de até R$ 2 mil. Em nove meses, a organização que nasceu despretensiosamente em um sofá de uma cafeteria no Rio de Janeiro já juntou R$ 8 mil para seis projetos e ajudou 250 crianças e jovens de diversas partes do país.
“A gente lançou o site em agosto, com diversas dúvidas se ia funcionar, mas está dando muito certo. O meu sonho é que cada escola pública brasileira tenha ao menos um projeto financiado pelo O Formigueiro”, afirma Ferreirinha, 20 anos. Ele é estudante do 2.º ano da Universidade Harvard e pretende, no futuro, trabalhar com educação. “Eu fiz uma escola pública de qualidade semelhante às mais caras do Rio. Fui transformado pela educação e quero multiplicar isso.”
Em maio, ele viajou para Sobral, no Ceará, e estabeleceu a primeira parceria do site com uma rede de ensino público. Agora, todas as escolas da rede municipal da cidade do sertão nordestino podem inscrever projetos educacionais para serem financiados coletivamente.
É só doar
Há vários sites de crowdfunding ajudando diversas causas. Projetos em educação podem ser encontrados em Catarse (www.catarse.me), Juntos (www.juntos.com.vc), Benfeitoria (www.benfeitoria.com), Kickante (www.kickante.com.br), entre outros.
Sua opinião
Como você gostaria de contribuir com projetos educativos? Até quanto doaria por mês para essa causa? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.
http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/conteudo.phtml?tl=1&id=1473412&tit=Vaquinhas-on-line-priorizam-educacao,-mas-faltam-projetos

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