domingo, 5 de abril de 2015

Minha história sobre sofrimento escolar e bullying (por Tahiana Borges)

05 fevereiro, 2015
CATEGORIA: CONVIDADOSPSICOLOGIA
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Eu tinha apenas 11 anos quando descobri que as crianças podiam ser intencionalmente más. Descobri essa maldade na escola, quando eu estava na quinta série do ensino fundamental. Por algum motivo qualquer, desconhecido pra mim, as crianças passaram a se divertir às minhas custas. Isso significa dizer que elas riam de mim, ao invés de rirem comigo.
Primeiro foram os apelidos que em um curto espaço de tempo se tornaram parte quase oficial do meu nome. Até aí todo mundo diz que é normal, que as crianças sofrem apelidos na escola mesmo e que elas precisam aprender a lidar com eles como se fosse uma espécie de teste para a vida adulta. Porém, aos poucos, fui sofrendo uma série de exclusões das atividades coletivas. Eu não era convidada para as tarefas em grupo e ninguém me chamava para compor os times das aulas de educação física. Parecia que eu tinha alguma doença contagiosa. Eu passava um turno inteiro na escola sem que ninguém dirigisse a mim nenhuma palavra sequer. Foi assim por 4 anos consecutivos.
Não dá muito para explicar porque ou como aconteceram essas coisas. Nem dá pra dizer o porquê que eu nunca fiz nada pra me defender. Há tantos motivos por trás do silêncio de uma criança que é difícil definir os medos e as dificuldades que nem ela mesma compreende. Mas, o fato é que a rejeição, as críticas, o isolamento, a exclusão, as “brincadeiras” de mal gosto foram se tornando tão comuns e frequentes que fui me acostumando a elas, como se de algum modo eu fosse a culpada por todas essas coisas acontecerem comigo. O problema estava no fato de que eu passava a maior parte do meu tempo na escola, um lugar em que eu não era bem-vinda e, por isso, me sentia uma criança solitária, com baixa autoestima e sem amigos.
Nesse período desenvolvi uma série de doenças psicossomáticas que envolviam dores de cabeça e enjoos injustificados constantemente. Eu era apenas uma criança, mas já havia compreendido que as pessoas podiam ser intencionalmente más por pura diversão delas próprias, mesmo que isso incluísse o sofrimento alheio.
Anos depois eu descobri que o que eu vivi na escola tinha nome: bullying. O bullying é um termo em inglês utilizado para definir comportamentos cruéis, intrínsecos nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de diversão e prazer, através de brincadeiras que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar. Essa crueldade se manifesta através da violência física, verbal e/ou psicológica e na maioria das vezes não é percebida pelos professores ou pelos pais das crianças. Essa descoberta se deu quando eu estava na faculdade cursando Psicologia. Então, decidi que precisava fazer alguma coisa em relação a isso. Eu havia vencido o sofrimento escolar e as dores e consequências causadas pelo bullying mas, precisava fazer alguma coisa por outras pessoas pois não podia conceber a ideia de que, assim como eu, crianças e adolescentes sofressem exclusão e isolamento no lugar onde deveriam se sentir acolhidas e protegidas: a escola.
Desde que me tornei psicóloga defini a luta contra o bullying como a minha bandeira profissional e, desde então, passei a estudar profundamente o assunto compreendendo que o bullying provoca sequelas psicossociais desde a infância até a vida adulta das vítimas e também dos agressores.
Transformei o bullying na minha luta pessoal e profissional, desenvolvendo projetos de combate à violência escolar e infantil, através de palestras, acompanhamento terapêutico de pacientes e intervenções antibullying em escolas públicas e particulares. Um dia, quem sabe, lançarei um livro sobre o assunto, contando detalhes da minha história que envolveu sofrimento psíquico e social de forma incalculável.
Aos pais que possuem filhos em idade escolar sugiro que estejam atentos aos sinais que seus filhos emitem. A falta de vontade de ir à escola; o fato de seu filho não ter o hábito de levar amigos da escola para casa; seu filho chegar da escola com roupas rasgadas, objetos quebrados ou roubados ou partes do corpo machucadas com frequência; insônia; dores e doenças sem justificativa aparente; baixa autoestima e tendência ao isolamento e autoexclusão são alguns sintomas de que a criança ou adolescente está sendo vítima do bullying. Se esse for o caso do seu filho procure ajuda de um psicólogo mas tenha em mente que a principal estratégia na educação do seu filho será sempre o diálogo. Diálogo entre pais e filhos e diálogo entre os pais e a escola. Conhecer o assunto, observar os sintomas e falar sobre eles será o melhor caminho para ajudar o seu filho a vencer a violência escolar.
Se quiser receber mais informações sobre comportamento humano, educação infantil e psicologia você pode seguir a minha página no facebook: Psicologia no seu dia-a-dia. Para tirar dúvidas sobre o bullying e violência escolar me envie um email: taiborges.psicologa@hotmail.com
Tahiana Perfil
Tahiana Borges
Tenho 28 anos, sou casada há 5. Moro em Mucugê, interior da Bahia com 10 mil habitantes, uma cidadezinha colorida, com cheiro de comida e aconchegante. Ainda não tenho filhos mas pretendo tê-los e criá-los por aqui mesmo, ao som dos pássaros, entre as árvores, longe da confusão da capital. Sou apaixonada por livros, música e comida!
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