quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

AUTISMO NA PERSPECTIVA DA NEUROCIÊNCIA

A Neurociência engloba várias áreas do conhecimento, tais como biologia, psicologia, antropologia, física, medicina, farmacologia, que se debruçam sobre as funções e disfunções do sistema nervoso (SN), bem como sua estrutura e desenvolvimento. A forma como o corpo interage com o SN e com o meio determina nossos comportamentos, entendendo por estes tudo aquil...o que fazemos (Ex: comer, dormir, pensar, brincar, escrever). Desta forma, a Neurociência busca desvendar o desenvolvimento humano, bem como seus desvios, numa perspectiva filogenética (processo evolutivo da espécie), ontogenética (processo evolutivo individual) e sócio-histórica.
As informações do mundo físico e social são processadas através dos cinco sentidos (tato, gustação, olfato, audição e visão), do sistema vestibular (equilíbrio) e das sensações dos músculos e articulações (propriocepção). Através das sinapses (comunicação entre os neurônios, as células que representam a unidade básica do SN) o impulso nervoso conduz as informações.
Muitas e longas redes neurais, cada qual com sua função e em combinação com outras redes podem ser acionadas quando exibimos determinado comportamento. Estas redes mudam se estamos falando de uma criança de 3 ou de 10 anos, se consideramos um comportamento que estamos aprendendo ou uma ação automatizada, se a ação é com uma ou ambas as mãos, se estamos de olhos fechados ou abertos...sim, as representações neurais, bem como as relações entre cérebro e comportamento são muito complexas, mas extremamente instigantes para alguém como eu (Formada em Farmácia, trabalhando como artista plástica, concluindo a psicopedagogia e com um filho com autismo...muitas inquietações para uma única pessoa
Os dois hemisférios cerebrais e o cerebelo (estrutura do SN central relacionada à funções motoras e cognitivas) são especializados em complexas funções e podem ter um padrão de funcionamento alterado se há uma lesão ou quando se desenvolve de um modo atípico. Um desvio pode originar outro desvio.
As hipóteses que a Neurociência tem levantado para o autismo contribuem, em especial, para o fim da cultura da subjetividade na etiologia do autismo. Alterações morfológicas e funcionais dos Neurônios, no Córtex Cerebral (substancia cinza que reveste o cérebro com circuitos altamente complexos encarregados de funções primordiais), em estruturas que conectam os dois hemisférios cerebrais, no Sistema Límbico (estruturas relacionadas ao comportamento emocional e social) e no cerebelo são objeto de pesquisas em autismo e podem, no futuro, contribuir para novos caminhos em prevenção, diagnóstico e tratamento.
Atualmente, muito me interesso por um conhecimento mais profundo sobre a Práxis (Planejamento Motor) e a Comunicação, que pertencem a área neurocomportamental e estão relacionadas a cognição. Esta relação parece ficar mais nítida em crianças com transtornos do desenvolvimento onde dispraxia, disfasia, TDA e comportamentos autísticos são frequentemente comorbidades. Meu filho tem sido investigado para dispraxia entre outras possibilidades(“syndrome mix”) E minha dúvida quanto ao “mais nítido” diz respeito a diferença entre: “O que a criança sabe?” e “Quanto ela consegue demonstrar do seu conhecimento a despeito das suas limitações?” Eis a pergunta-chave para potencializar o aprendizado das crianças com autismo.
Entendo que é necessário diminuir barreiras e criar pontes.
E me arrisco a sugerir apoiar este aprendizado em quatro pilares fundamentais:
1) Usar de Tecnologia Assistiva (Em especial comunicação aumentativa ou alternativa) 2) Promover a Regulação Emocional (sentir-se seguro e aceito através do outro) 3) Utilizar Estratégias Comportamentais (Sentir-se competente através de uma estratégia de ensino eficaz e do adequado manejo dos comportamentos indesejados) 4) Trabalhar o Corpo (Circuitos Motores dando enfoque às Funções Executivas, em atividades do Cotidiano, em terapias que promovam novas experiências motoras)
Parece até uma prescrição...mas não é. Existe muito trabalho por trás disto. Mas me esforço para tornar tudo mais objetivo e funcional possível.
A verdade é que muito do que se sabe hoje sobre neurocomportamento (e por incrível que pareça, é pouco!) deve-se ás observações de disfunções em adultos. Isto poderia levar á equívocos ao observar uma criança, pois as redes neurais e a conectividade passam por mudanças na estrutura e no funcionamento durante a ontogênese . E isto se deve principalmente aos estímulos do AMBIENTE! Sendo assim, mãos à obra, pois não há tempo a perder.

Claudia Zirbes

Referências: Njiokiktjien, Charles. DEVELOPMENTAL DISORDERS AND RELATED MOTOR DISORDERS.2007
Blog da Marie: "umavozparaoautismo.blogspot.com"

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