segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

....:: revistas “padre surdo Wilson Czaia” Surdos - uma comunidade incompreendida

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Surdos - uma comunidade incompreendida

A comunicação dos surdos se dá pela Lingua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Como define a Lei nº 10.436- 24 de abril de 2002 reconhecida como meio legal de comunicação e expressão e outros recursos de expressão a ela associados. Mas pouca gente conhece.

Os surdos representam um contingente de quase seis milhões de pessoas em todo o Brasil; mais de 320 mil no Paraná e em Curitiba são quase 30 mil.

A sociedade conhece e interage com certa facilidade com algumas categorias de portadores de necessidades especiais. É o que ocorre com os portadores de deficiências físicas, visuais e mentais. Porém, a categoria dos surdos é ainda a mais delicada, incompreendida, mal tratada e raramente incluída.

Enquanto os deficientes visuais dispõem da tecnologia braile, que lhes permite acesso quase ilimitado ao mundo; e os portadores de deficiências físicas têm os projetos de acessibilidades exigidos e atendidos; os surdos continuam no mundo obscuro da incompreensão e da não inclusão social.

Enquanto se abrem vagas preferenciais nas empresas para incluir portadores de necessidades especiais tanto físicas como visuais e mentais, elas não incluem os surdos por merecerem uma atenção diferenciada. Não se pode aplicar a um surdo o mesmo teste que é submetido ao portador de uma outra necessidade.

Pelo fato de não ouvirem, muitos surdos também não aprenderam falar; por essas mesmas razões não tiveram acesso aos ensinos formais. Exatamente pelos surdos apresentarem-se com formas físicas e visuais perfeitas, a maioria das pessoas superestimam a capacidade dos surdos considerando-os como seres capazes de concorrer com qualquer outra categoria e até mesmo com os ouvintes. Fato que não é verdade e raríssimas empresas aplicam testes e trabalhos diferenciados aos surdos. Também nos concursos públicos as provas têm o mesmo teor para todas as classes de deficientes. O que coloca o surdo em considerável desvantagem.

Mas as coisas estão começando a mudar, embora tenha muito chão pela frente ainda. Os surdos estão conquistando com certas dificuldades o seu espaço ainda restrito. Isto tem se dado graças aos esforços de alguns que inconformados com os descasos decidiram tomar partido da situação e agir.

Entre as reivindicações dos surdos, destaca-se o direito de serem eles, preferencialmente os instrutores de LIBRAS, espaço que está sendo ocupado por ouvintes. “para aprender ou ensinar LIBRAS não é necessário ouvir e muito menos falar... o que conta é o sinal feito com as mãos” afirma Christiane Righetto, surda e estudante do Curso Superior de Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC.

A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - Feneis é o órgão oficial e representativo dos surdos no Brasil, com seus escritórios Regionais espalhados em todo o Território Nacional, tem um trabalho de grande relevância em prol dos surdos como a entidade referencial dos surdos, inclusive pelos cursos de Libras para os ouvintes com a finalidade de melhorar a comunicação entre estes. Porém, uma das reclamações dos surdos hoje é que cursos de Libras deveriam ser ministrados apenas por surdos, sob a alegação de que não é necessário ser ouvinte para dar curso de Libras. E hoje o mercado tira uma grande fatia de empregos aos surdos que poderiam ministrar tais cursos.

A Igreja Católica Apostólica Romana, através da Conferência Nacional dos Bispos no Brasil - CNBB tem desenvolvido um ótimo trabalho de inserção social e religiosa dos surdos, através da Pastoral dos surdos. A Campanha da Fraternidade - CF 2006 - versou sobre o tema das Pessoas com deficiências. Embora os surdos não se enquadrem na categoria de deficientes, estes tiveram um ótimo espaço para expor seus anseios e angustias.

Superando preconceitos

No domingo dia 3 de dezembro de 2007, foi empossado na Igreja São Francisco de Paula, em Curitiba, o primeiro padre surdo do Paraná e o segundo da Igreja no Brasil. padre Wilson Czaia 37 anos é natisurdo e há alguns anos, ainda enquanto seminarista, participa da Pastoral dos surdos. Na Missa presidida pelo Bispo D. Moacyr José Vitti, centenas de surdos participaram da concelebração.

O último padre surdo profundo a ser ordenado foi o Monsenhor Vicente Burnier, em 1951, em Juiz de Fora/MG. Hoje com 84 anos, ele foi o primeiro sacerdote surdo do Brasil e o segundo do mundo. O primeiro do mundo foi um francês: padre Jean de La Fonta em 1921. No mundo há padres natisurdos nos Estados Unidos, Coréia e África do Sul.

Um exemplo de superação com grande destaque é a natisurda Christiane Elizabeth Righetto, 45 anos, casada mãe de três filhos funcionária de uma empresa concessionária de energia elétrica. Ela sempre defendeu a categoria e exigiu respeito aos surdos. Para conhecer melhor os direitos dos surdos,a Chris se inseriu em diversos segmentos como Federação Desportiva dos Surdos do Paraná. Tornou-se Instrutora da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - Feneis. Está concluindo o curso superior de Letras Libras na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC em Florianópolis. Recentemente Chris proferiu palestras para mais de 600 surdos no Centro de Capacitação de Faxinal do Céu em um evento promovido pela Secretaria de Estado da Educação – Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional do governo do Estado do Paraná.

Ela desenvolve pesquisas na área de educação no CELES – Centro de Estudos em Libras e Educação de Surdos em um departamento da Feneis.

Foi aprovada em Prolibras - Exame de Certificação de Proficiência em Língua Brasileira de Sinais - Libras, em 2007, pelo Ministério da Educação - MEC.

É desenhista e designer gráfica, cria e produz materiais de divulgação dirigidos ao público interno e destinados à divulgação externa, através de equipe própria, apoio à participação empresarial em eventos como feiras e seminários, através da elaboração de material de comunicação, planejamento do stand, confecção de brindes e participação direta na coordenação da realização de eventos pela Empresa.

Segundo ela, os surdos devem procurar seus direitos e as autoridades governamentais, institucionais e empresariais têm a obrigação de garantir a inserção dos surdos na sociedade.

”O ideal é que todas as escolas tivessem o curso de Libras, orientados por surdos, para que a sociedade entendesse melhor as necessidades dessa categoria de brasileiros”, concluiu Christiane.

Texto: Osmar Vieira
Imagens: Christiane Righetto - natisurda

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