terça-feira, 4 de setembro de 2012

Estreante ‘bate na trave’ no salto em altura

Com a perna amputada aos 15 anos, paranaense é quinto colocado uma década depois, em sua primeira competição internacional
 
Gazeta do Povo



Londres - O paranaense Flávio Reitz relutou, mas quando se rendeu ao salto em altura paralímpico mostrou ser o melhor do país na classe F42. Nessa segunda-feira (3), ele participou da final da modalidade e terminou em quinto lugar nos Jogos de Londres, nesta que foi a estreia dele em competições internacionais.
Kerim Okten/ EFE / Flávio Reitz melhorou sua marca, mas ficou fora do pódio“Eu treino na modalidade há apenas um ano e meio. Esta foi minha primeira Paralimpíada, foi a minha primeira convocação para a seleção, minha primeira viagem para fora do país”, enumera o atleta de 25 anos. “Nunca fiquei tão ansioso na minha vida como no dia da final. Não dormi, não almocei direito. Nervosismo de quem está nos Jogos e quase não acredita”, complementa.
Olho na medalha
A halterofilista Márcia Menezes, de Londrina, disputa hoje sua prova na Paralimpíada de Londres e terá de se acostumar com um ambiente diferente. Assim como quase todas as sedes olímpicas, o ginásio da modalidade na Arena Excel tem ficado lotado durante os dias de competição, o que não é usual nas disputas do esporte. “No último Parapan, em Guadalajara [México], tinha pouco público. É algo surpreendente, estou encantada. Nunca vi tanta gente para nos ver competir”, conta. Serão os primeiros Jogos da atleta de 44 anos, que disputa a categoria até 82,5 kg. Com paralisia na perna direita, Márcia já buscou, sem sucesso, a vaga paralímpica na natação e no arremesso de peso. Foi no halterofilismo, que começou a praticar há quatro anos, que alcançou o objetivo. “Eu tenho recorde brasileiro, estou em terceira no ranking mundial e minha meta aqui é brigar por pódio”, diz.
Natural de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, Reitz teve de amputar a perna esquerda por causa de um tumor no fêmur (maior osso do corpo humano), descoberto aos 15 anos de idade. Na cidade natal, ele praticou handebol em cadeira de rodas, antes de se mudar para Itajaí (SC), onde iniciou, de fato, o contato com o atletismo.
No entanto, ele “teimou” em não ir para o salto em altura. Apesar de mostrar facilidade em pular pequenos muros e cadeiras somente com a perna direita, ele começou no arremesso de peso e no lançamento de dardo. “Minha técnica [Luci de Barros] me incentivou a praticar essa prova diferente para amputados. Ela viu [o esporte] em um vídeo e ficou me provocando, me instigando a praticar os saltos. Eu fiquei meio relutante, mas, com o tempo, ela me dobrou”, relembra.
E a aposta foi certeira. Com pouco tempo de prática, Reitz tornou-se o destaque do país em uma das modalidades mais complicadas disputada pelos paratletas no atletismo. Com uma perna, eles precisam coordenar a corrida, a impulsão e o posicionamento do corpo para superar o obstáculo. “Salto em altura é complicado. Já com as duas pernas, é difícil tecnicamente. Como uma perna só, é muito mais, mas estou aí dando a cara para bater”, diz o atual recordista brasileiro.
A melhor marca pessoal de Reitz era de junho deste ano: 1,65 m. Em Londres, ele melhorou e alcançou o salto de 1,68 m. Valeu, segundo ele, a experiência para poder brigar pelo alto do pódio no Rio, em 2016. “Vim para aprender com o ambiente, a estrutura, as pessoas. Saio daqui acreditando que é possível [ser o melhor do mundo]. Meus adversários são fortes, mas com mais treino acho que posso superá-los. Vou tentar ganhar em casa daqui a quatro anos”, projeta Reitz que, agora, terá um ciclo paralímpico completo antes dos Jogos no Brasil.
O ouro da prova foi para as Ilhas Fiji (Illiesa Delana). Girisha Nagarajegowda (Índia) e Lukasz Mamczarz (Polônia) completaram o pódio. Todos pularam 1,74 m.
* O jornalista viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro

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