quinta-feira, 10 de março de 2011

Maria Cristina da Cunha Pereira fala sobre o ensino de Língua Portuguesa para surdos

A linguista da Derdic e professora da PUC de São Paulo trata dos desafios do aprendizado da linguagem escrita por alunos surdos


Ter clareza de que a Língua Portuguesa - em sua modalidade escrita - é uma segunda língua para as pessoas surdas é uma premissa para poder realizar um bom trabalho de alfabetização desse público. Como a fala é um limite para esses alunos, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a língua que servirá de base para que aprendam a ler e a escrever em português (ou em qualquer outro idioma). Trata-se, portanto, de um processo bilíngue, conforme explica a professora Maria Cristina da Cunha Pereira, linguista da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic) e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e assessora da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Maria Cristina trabalha com ensino de Língua Portuguesa para surdos desde 1968 quando aceitou, pela primeira vez, o desafio de lecionar para adolescentes surdos. Nesta entrevista, a pesquisadora fala sobre as semelhanças e diferenças entre os processos de alfabetização de alunos ouvintes e não-ouvintes.

Por que não se deve forçar a fala numa criança que não escuta?
Maria Cristina da Cunha Pereira Sou pesquisadora, portanto falo sempre do ponto de vista de um teórico. Se a criança surda tem uma limitação na audição, por que é que vou usar exatamente o que ela tem de dificuldade para que ela adquira linguagem? Por que é que eu vou forçar a audição e a fala numa pessoa que não escuta? Acredito que as famílias devem deixar seus filhos surdos terem contato com a língua de sinais. É por meio dessa língua que eles terão acesso ao conhecimento. Há um mito de que as crianças surdas que aprendem Libras ficam preguiçosas e não se esforçam para falar. Ter preguiça é uma prerrogativa de quem pode escolher. Não é por preguiça que os surdos não falam, mas sim porque têm dificuldade. Assim, ou aprendem a língua de sinais ou não se comunicam. É necessidade e não preguiça.

A família também deve aprender Libras?
Maria Cristina Sim. O melhor é que os pais também aprendam a língua de sinais porque é na interação com a família que os filhos vão se desenvolver, adquirir valores, cultura etc. Ter uma língua em comum é importante não apenas do ponto de vista da comunicação, mas também para o desenvolvimento intelectual, afetivo, emocional da criança. O ideal é que os pais enfrentem esse desafio, aprendam Libras e que as crianças aprendam a língua de sinais e também sejam expostas à Língua Portuguesa escrita.

Com que idade uma criança consegue aprender a língua de sinais?

Maria Cristina Vou responder com uma pergunta: uma mãe começa a falar com seu filho quando ele tem que idade? Desde antes de nascer, não é? Então, o ideal seria que, assim que a criança nascesse e fosse constatado que ela é surda, iniciasse a aquisição da língua de sinais. Quanto mais cedo, melhor. E, assim como acontece com a Língua Portuguesa em relação aos ouvintes, a língua de sinais deve ser ensinada como disciplina ao longo de toda a Educação Básica. Na rede municipal de São Paulo, por exemplo, elaboramos um currículo para alunos surdos com expectativas de aprendizagem em Libras que vão da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental.

POR: Paula Takada (paula.takada@abril.com.br)

FONTES: Nova Escola




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